Um estudo inédito que utiliza a estimulação magnética transcraniana (EMT) para o mapeamento de foco de dor no cérebro foi premiado como melhor trabalho clínico no 2º Congresso Internacional de Dor Neuropática de Berlim, ocorrido no início de junho. A pesquisa foi realizada no Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) pelo neurocirurgião Manoel Jacobsen Teixeira e pelo psiquiatra Marco Antonio Marcolin.
A EMT é uma técnica que, por meio de um campo magnético potente — similar ao de ressonância magnética — promove ativação de neurônios ou sistemas neuronais desativados em função de diferentes patologias, como a depressão, por exemplo.
A pesquisa envolveu 35 pacientes, com idades entre 18 e 79 anos, a maioria vítima de dor decorrente de lesão no plexo braquial (conjunto de nervos localizado na região do pescoço e que, como cabos elétricos, conectam o cérebro com os membros superiores, responsáveis por movimentação e sensibilidade).
A lesão, incapacitante, é mais comum em pessoas que sofreram acidentes de motocicletas. O paciente perde o movimento de todo o braço lesionado, mas o cérebro continua mandando impulsos de comando para o mesmo funcionar. Essa intensa atividade neuronal pode acabar gerando a dor.
Um dos tratamentos da lesão consiste em implantar eletrodos no cérebro, que emitem impulsos elétricos que normalizam a atividade na área, cessando a dor. Porém, nem todos os pacientes respondem adequadamente a esse tratamento.
Diagnóstico preciso
Por meio do uso da EMT foi possível mapear com maior precisão a região do cérebro (córtex sensitivo) onde ocorria a dor, permitindo demarcar a área específica para o tratamento e se havia ou não indicação para a implantação desses eletrodos.
Segundo Marcolin, responsável pelo Grupo de Estimulação Cerebral do IPq, o campo magnético transmitido em forma de pulsos rápidos, atravessa o couro cabeludo e o crânio, precisamente na região em que se objetiva ativar. A técnica é objeto de pesquisa no IPq há 8 anos. É uma das mais promissoras terapêuticas em psiquiatria da atualidade. Não é agressiva, tem baixíssima taxa de efeitos colaterais e é indolor.
Para que a EMT (atualmente aprovada para uso clínico pelo IPq), passe a ser oferecida à população, foi solicitado junto ao Conselho Federal de Medicina a aprovação do procedimento no País e sua conseqüente incorporação aos procedimentos do SUS.
Durante o congresso, o trabalho dos pesquisadores do IPq concorreu com outros 450, sendo que os melhores foram publicados nos anais do encontro.
Da USP Online