Pesquisa da USP comprova que caminhada reduz pressão arterial de idosos

Prática contínua do exercício pode levar à diminuição gradativa e até a dispensa de medicamentos para hipertensos leves

qua, 21/10/2009 - 20h00 | Do Portal do Governo

Uma única sessão de caminhada reduz a pressão arterial dos idosos hipertensos e essa queda se mantém nas 24 horas subsequentes à atividade física. É o que revela pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com artigo científico publicado em 2004 pela Revista Brasileira de Hipertensão, 60 a 70% dos idosos sofrem de hipertensão. 

Após uma sessão desse exercício aeróbico, em média, a pressão arterial sistólica (valor maior – quando o coração se contrai bombeando o sangue) cai 14 milímetros de mercúrio (mmHg) e a pressão arterial diastólica (valor inferior – quando o coração relaxa entre duas batidas cardíacas) cai 4 mmHg, ou seja, de 13 por 9, por exemplo, passa para 11 por 8. Vinte e quatro horas depois, essa pressão continua reduzida em 3 mmHg na pressão sistólica e 2 mmHg na diastólica. 

O resultado desse estudo “Resposta ao exercício aeróbico agudo em idosos independentes vivendo em uma área urbana do Brasil”, que é mestrado da fisioterapeuta Leandra Gonçalves Lima, foi reconhecido com o primeiro lugar do prêmio Pemberton, da Coca-Cola Brasil. O concurso tem abrangência nacional e premiou projetos na área da saúde que valorizam a qualidade de vida saudável. O trabalho de Leandra concorreu com outros 139 de 63 diferentes universidades e centros de pesquisa do Brasil. A premiação ocorreu no início do mês, em São Paulo. 

Equilíbrio e força  

A fisioterapeuta apresentará a sua defesa da dissertação no próximo dia 30. Ela diz que o estudo é inédito, pois não existe na literatura brasileira pesquisa com idosos que associe a caminhada aguda em pista (uma só sessão de 40 minutos) à queda da pressão arterial. Pelo primeiro lugar, ela ganhou R$ 40 mil: R$ 20 mil para fins pessoais e R$ 20 mil para utilização na FMRP. Em 2010, Leandra terá direito a viagem aos Estados Unidos para conhecer a sede da empresa. 

A pesquisa começou em fevereiro de 2007 e foi finalizada em julho passado. Também foi avaliada uma amostra da população cadastrada nos Núcleos da Saúde da Família de Ribeirão Preto, que está na área do Centro de Saúde Escola da FMRP, com idade entre 60 e 75 anos. Foram incluídos na pesquisa 23 idosos, que realizaram sessão aguda de 40 minutos de caminhada, seguida de sessão de repouso, também de 40 minutos. Os resultados apontaram que a redução é mais expressiva entre aqueles com pressão arterial elevada e menor naqueles com pressão arterial normal. 

O diferencial desse estudo, segundo Leandra, é a análise do impacto do exercício aeróbico em pista, na modalidade caminhada, enquanto até agora todos os trabalhos descritos na literatura referem-se à esteira e bicicleta ergométrica. Leandra diz que o trabalho é importante porque a caminhada em local público é mais comum entre os idosos, ao considerar a questão econômica e a saúde: “A população idosa geralmente não tem equilíbrio para esteira e nem força muscular para desempenho na bicicleta. Sofre de osteoartrose, o que limita a amplitude do movimento articular do joelho. Nessa faixa etária, é mais usual caminhar na pista do que frequentar academia”.

Sem remédio 

Segundo Leandra, a prática permanente do exercício pode levar à diminuição gradativa e até a dispensa de medicamentos para os hipertensos leves e, ainda, como método coadjuvante no tratamento com remédios nos casos mais graves. “Os efeitos desse estudo sobre a população geram resultado imediato e positivo no paciente com pressão alta e promove conscientização quantos aos benefícios do exercício naqueles que não apresentam níveis elevados de pressão. Com isto, o gasto financeiro com medicações tende a reduzir e a qualidade de vida melhorar”. 

Para a orientadora da pesquisa, Nereida Kilza da Costa Lima, também professora colaboradora da FMRP, é interessante essa comprovação, pois foi testado um tipo de exercício viável a qualquer pessoa. “Boa parte dos idosos brasileiros não tem acesso a academias de ginástica onde são comuns as esteiras e bicicletas ergométricas”, ressalta Nereida. Na opinião do presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão, professor Fernando Nobre, esse estudo comprova, mais uma vez, os benefícios do exercício físico nos pacientes com hipertensão arterial e como prevenção para aqueles com pressão arterial normal. 

“Nas diretrizes norte-americanas para o tratamento da hipertensão arterial está estabelecido que atividades físicas por 30 minutos, pelo menos de três a cinco vezes por semana, podem reduzir a pressão arterial máxima de 4 a 9 mmHg. Vejo nesse estudo uma grande contribuição para reafirmar a necessidade de práticas regulares e apropriadas de atividades físicas, na população em geral e na de idosos em particular”, afirma. 

Mudança de hábito 

Segundo o médico e geriatra Eduardo Ferrioli, professor da FMRP, que participou da pesquisa, a pressão arterial é uma das doenças de maior prevalência entre os idosos. Atinge uma em cada duas pessoas. “Apesar de atualmente haver uma mudança da postura dessa população, resultante de campanhas de incentivo à prática de exercícios físicos e recomendações dos profissionais de saúde, essa pesquisa mostra que um indivíduo pode não depender só de medicamentos para combater a hipertensão. Uma simples caminhada pode resolver o problema”. 

Outro aspecto que o professor Ferrioli considera importante é a certeza de que a mudança no estilo de vida pode ajudar no controle da hipertensão arterial, isto é, uma postura mais positiva em relação à saúde só contribui para melhorar a qualidade de vida. O trabalho foi desenvolvido no programa de pós-graduação em Clínica Médica e contou com a colaboração das pós-graduandas da FMRP Iara Anunciato e Fernanda Jatte e dos geriatras Eduardo Ferriolli e Julio César Morriguti, professores da FMRP. 

Da Agência Imprensa Oficial e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto