Pesquisa aponta que habilidade individual acentua diferenças salariais

Estudo integra tese de doutorado do economista Ricardo Freguglia na FEA, da USP

qui, 17/01/2008 - 12h15 | Do Portal do Governo

Habilidades individuais como iniciativa, talento e motivação, mais que escolaridade, idade ou gênero, são um importante fator que influi na diferença entre salários dentro de uma mesma região, setor econômico ou ocupação. Essa é uma das conclusões da tese de doutorado defendida pelo economista Ricardo Freguglia na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. O estudo também apontou as vantagens e desvantagens salariais da migração dentro do Brasil ao se contar com o fator das habilidades.

Freguglia explica que o trabalho surgiu da condição nacional da desigualdade de renda e da compreensão dos fatores que provocam “a elevada desigualdade salarial entre os estados”. As explicações até então existentes (nível de escolaridade, diferença de gênero, idade, setor de atividade, ocupação e a unidade da federação em si) não eram suficientes para explicar o fenômeno das desigualdades regionais de salário.

O que o economista propôs, portanto, foi incluir as características “não-mensuráveis” e calcular o impacto desses fatores nas diferenças salariais entre os estados, setores econômicos e ocupações. Dentre as habilidades individuais citadas por Freguglia, estão motivação, iniciativa própria e talento, que puderam ser “filtradas” na estimação dos diferenciais de salário por meio da econometria, que são métodos estatísticos e funções matemáticas aplicadas à economia. Essas habilidades individuais explicam 70% das diferenças salariais no âmbito regional (comparação entre regiões diferentes do país), 83% no contexto setorial (dentro de uma mesma atividade econômica) e 88% no ocupacional (em cargos ou funções semelhantes).

Diferenças entre estados

O economista afirma que “os trabalhadores, quando migram de estado, recebem salários melhores”, mas que essa afirmativa deixa de ser verdadeira quando “se filtra a habilidade”. Ele exemplifica com a migração de Minas Gerais para São Paulo, que só implica acréscimo de renda quando há o componente da habilidade individual; quando este fator é considerado na análise, a vantagem comparativa deixa de existir.

Freguglia também usa outros exemplos para mostrar o efeito da habilidade individual nos ganhos em diferentes estados. São Paulo e Distrito Federal são as unidades da federação que apresentam expressivos ganhos salariais decorrentes das habilidades individuais. Quando se inclui o fator habilidade como componente explicativo no cálculo dos diferenciais salariais, os outros fatores não sustentam o ganho salarial decorrente da migração. Em São Paulo, os diferenciais passam a ser negativos, em torno de -6,12%. “Isso pode estar relacionado com o elevado custo de vida do estado paulista, que gera perdas para os migrantes que vêm de outros estados”, afirma o pesquisador.

Clique no gráfico para ampliá-lo.

Em outros estados, a situação se inverte e o efeito da habilidade individual nos ganhos salariais é menos expressivo. “Tocantins é o estado que apresenta os maiores ganhos para os migrantes em relação aos não-migrantes, independentemente da habilidade do trabalhador (cerca de 44% do diferencial de ganho)”, explica Freguglia. Outras unidades da federação em que o fenômeno é semelhante e a habilidade não é o fator preponderante dos ganhos decorrentes da migração são os outros estados da Região Norte – com exceção do Acre e Amapá -, Mato Grosso, Pernambuco e Bahia. O Piauí é o estado que registrou a maior perda salarial, mesmo com o controle das habilidades individuais: cerca de -17%.

Da USP Online