Pérola Byington fertiliza mulheres com mais de 40 anos

Programa Óvulo Doação Compartilhada já captou 50 jovens aptas a doar óvulos às mais velhas

ter, 12/08/2008 - 9h30 | Do Portal do Governo

Das 1,5 mil mulheres que estão na fila do atendimento (de até quatro anos) para realizar fertilização in vitro no Hospital Pérola Byington, cerca de 400 têm mais de 40 anos. O dado é preocupante, pois a Sociedade Americana de Reprodução Humana indica que acima de 44 anos existe apenas 1% de chance de gravidez pelo tratamento de alta complexidade.

Para não desfazer o sonho das mulheres mais velhas de serem mães, o Pérola Byington, único hospital público do Brasil que trata gratuitamente casos de infertilidade, acaba de lançar o programa Óvulo Doação Compartilhada. Pela iniciativa, busca-se na fila de espera, por ordem cronológica, pacientes com menos de 35 anos, que produzem óvulos excedentes dos que serão utilizados no seu tratamento.

“Em muitas mulheres com mais de 40 anos, constatamos que o ovário não funciona, portanto não libera óvulos. Nesses casos, antes do programa finalizava-se a jornada pela busca da gravidez”, explica a ginecologista Nilka Fernandes Donadio, responsável pela implantação da iniciativa. Quanto mais avançada a idade, menor a chance de engravidar.

Já na barriga da mãe, o embrião feminino possui 7 milhões de óvulos imaturos. Devido ao desgaste natural das células, a recém-nascida apresenta apenas 1,5 milhão de óvulos. Desde a adolescência, a partir da primeira menstruação a menina perde um óvulo por mês. Na menopausa, acima dos 40 anos, a mulher ainda possui óvulos, porém não se desenvolvem adequadamente e são incapazes de exercer a função reprodutiva. Já no organismo masculino, os espermatozóides sempre existem e são renovados a cada 90 dias.

Solidariedade – A infertilidade também é causada por laqueadura ou pela necessidade de cirurgias complexas que exigem radioterapia e quimioterapia, suscetíveis de ocasionar problemas nos ovários.   

Quem está na fila, não apresenta problemas de ovário e deseja doar, passa por bateria de exames para avaliação genética e constatação de ausência de doenças como HIV, hepatite e sífilis. A triagem inclui terapias psicológicas. “Se a psicóloga perceber algum sentimento negativo ou receio da voluntária, não oferecerá os óvulos”, informa a doutora Nilka.

A doação só ocorre quando tipo físico e sangüíneo da doadora é igual ao da receptora. Esse processo é anônimo e segue normas do Conselho Federal de Medicina. Doadoras e receptoras não têm contato e jamais serão identificadas. Existem até ambulatórios específicos para atender receptoras e doadoras.

A médica diz estar surpresa com a elevada adesão de voluntárias. “Por ter esperado durante tanto tempo (até quatro anos na fila), elas se sentem úteis, se solidarizam e fazem a boa ação”, opina. O cadastro das doadoras começou há seis meses e já registra 50 mulheres aptas a doar óvulos.

A primeira fertilização com óvulos compartilhados (para doadora e receptora) ocorreu na última semana de julho. A ginecologista informa que os embriões (com os espermatozóides dos respectivos parceiros) foram injetados com sucesso nos ovários das duas mulheres. A fecundação é confirmada após 12 dias, quando realizarão teste de gravidez.

Menos custos – A idéia é realizar dez procedimentos de óvulo compartilhado por mês e beneficiar 20 pacientes. “Com o projeto, evitamos que elas envelheçam na fila e diminuímos custos”, explica a médica. Até então, o tratamento de mulher acima de 40 anos com problemas nos ovários exigia mais medicamentos, o que nem sempre surtia bons resultados. Nas clínicas particulares, cada tentativa de fertilização in vitro custa cerca de R$ 15 mil.

A coordenadora do programa salienta outra vantagem: se a doadora não engravidar pelo método de doação compartilhada, permanecerá na mesma posição na fila.

Métodos de alta complexidade

Quando os médicos indicam a doação compartilhada de óvulos, existem duas alternativas de reprodução assistida de alta complexidade: a fertilização in vitro e a injeção intracitoplasmática (ICSI).

● Na fertilização in vitro, a doadora toma medicamentos (que custam R$ 5 mil) para induzir a produção de oito a dez óvulos. Quando estão desenvolvidos são retirados dos ovários. Em laboratório especializado, esses óvulos e os espermatozóides do parceiro da receptora (obtidos por ejaculação) são reservados numa incubadora para desenvolvimento do embrião, que é inserido no útero da receptora. São introduzidos cerca de 150 mil espermatozóides em cada óvulo para apenas um fertilizar. O mesmo procedimento corre com os óvulos da doadora e espermatozóides de seu parceiro. Resultado positivo: cerca de 30% de gravidez. Desse total, 80% terão gravidez única. Em 18% dos casos, nascem gêmeos e em 4%, trigêmeos.

● A injeção intracitoplasmática é bem parecida com a fertilização in vitro. Indicada quando o marido possui poucos espermatozóides ou nenhum. Os espermatozóides são colhidos e levados ao laboratório. Após limpeza das impurezas, o biomédico seleciona um gameta masculino e o injeta no óvulo da doadora. Registram-se 30% de sucesso na primeira tentativa.

Pacientes do Brasil e do exterior

No serviço de ponta do Hospital Pérola Byington, na região central da cidade, há laboratórios de manipulação de gametas, salas para controle de ovulação, para coleta de sêmen, de ultra-som e administração de medicamentos, além de enfermagem e pequeno centro cirúrgico. A equipe que atua no programa Óvulo Doação Compartilhada é composta por 14 médicos especializados em reprodução, dois psicólogos, quatro biólogos, sete funcionários de enfermagem e dois administrativos.

O diretor e médico da instituição, Luiz Henrique Gebrim, diz que neste ano o setor de Reprodução Humana recebeu da Secretaria de Estado da Saúde verba de R$ 1,5 milhão. Em 2007, o aporte anual foi de R$ 500 mil.

Os recursos são empregados na aquisição de medicamentos. Por mês, cada paciente consome remédios no valor de R$ 4 a R$ 5 mil. O hospital atende 250 mulheres por ano.

Outros R$ 400 mil serão utilizados na reforma de laboratórios e construção de nova sala de cirurgia ambulatorial. O médico informa que em seis meses o hospital funcionará plenamente para dobrar a capacidade de atendimento. As inovações incluem também a contratação de três embriologistas.

Trinta por cento das pacientes atendidas na instituição provêm de outros Estados brasileiros. Há mulheres até de alguns países da América do Sul. “Algumas entram na Justiça porque querem ter assistência mais rápida”, conta. A solicitação é negada, pois infertilidade não causa morte. E a missão do hospital é garantir igual acesso a todas as cidadãs.

Segundo o diretor, a fila da reprodução assistida, que leva até quatro anos, nunca diminuirá porque os outros Estados não possuem hospitais especializados, portanto sempre haverá novas demandas.

O hospital é referência no Brasil para assistência de câncer da mulher (mamas, ovários e colo de útero) e recebe mil novos casos por ano.

SERVIÇO

Para aguardar na fila e tratar infertilidade

no Hospital Pérola Byington, agende triagem

pelos telefones (11) 3112-1210 ou 3104-2785

Da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)