Penitenciárias: famílias de reeducandos expõem artesanato

A proposta é gerar renda alternativa para famílias de presos e egressos do sistema prisional paulista

dom, 08/10/2006 - 9h06 | Do Portal do Governo

O grupo “Solidariedade”, do Departamento de Reintegração Social da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) participa até o dia 30 deste mês, de uma feira de artesanato no bairro de Moema em São Paulo, onde ocupará um espaço em parceria com o projeto “Enfocando”, da Sub-prefeitura de Vila Madalena. O estande funciona às quartas, sextas e domingos, das 9h às 17h e tem à venda, produtos feitos por familiares de reeducandos e egressos do sistema prisional paulista.

Criado a partir do Núcleo de Atendimento à família do Centro de Serviço Social da SAP, o projeto existe desde 2003 e surgiu da idéia de duas funcionárias, que se comoveram com as dificuldades encontradas pelos familiares dos presos para visitarem seus parentes em penitenciárias do interior. “Elas procuram o serviço social para pedir passagens e ficam muito abatidas quando recebem a informação de que a Secretaria não possui verbas para esse fim”, explica a diretora técnica de divisão de saúde, Fátima França. Partindo desse preceito, Jair Cerqueira Minorello e Luisa Maria de Jesus (assistente social e assistente técnica de direção, respectivamente) resolveram criar algum mecanismo que ajudasse essas pessoas – mulheres em sua grande maioria.

Ambas passaram a fazer triagem entre os familiares de reeducandos que procuravam o departamento e descobriram pessoas que tinham conhecimentos em bordados, crochê, pintura em tecidos, bijuterias e tantas outras destrezas que poderiam ser utilizadas na produção de peças de artesanato.

Agregadas ao grupo, precisavam agora de matéria-prima para transformar em bolsas, cintos, panos de prato, roupas, enfeites e tudo mais que a imaginação mandasse. “Eu usava meu próprio veículo para buscar retalhos descartados por lojistas na região da rua José Paulino” [grande centro atacadista de roupas em São Paulo], relembra Luisa. “Certa vez uma proprietária de loja me perguntou o que eu fazia com os retalhos que recolhia na rua e, só então, passou a guardá-los para que eu retirasse em seu estabelecimento. Daí tudo ficou mais fácil”, comemora.

Desde sua criação, a solidariedade do grupo já foi disseminada entre mais de cem famílias das quais 30, em média, permanecem em atividade e realizam encontros semanais na sala do Centro de Serviço Social do Núcleo de Atendimento à família, onde trocam conhecimentos e experiências, além de acertarem os detalhes das exposições e posterior venda do que produzem. ”Esses encontros são importantes, não só pelo trabalho que desenvolvem, mas também para melhorar a auto-estima das integrantes, porque nas conversas são constatados problemas em comum e elas se ajudam mutuamente”, reconhece Minorello.

 

O dinheiro arrecadado é depositado em uma conta corrente aberta pelo grupo. Parte dele é revertido em materiais e o restante dividido em partes iguais entre os familiares de reeducandos e egressos que participam do projeto. “Trata-se de um grupo transitório”, diz a psicóloga do Núcleo de Atendimento à Mulher, Sandra Martins. “Na medida em que vão adquirindo conhecimentos e repassando para as demais, a tendência é que cada uma das participantes do projeto se desligue do grupo, pois nessa etapa, já terão condições de produzir e vender sozinhas seus produtos, o que ajuda a complementar a renda familiar”, acredita.Além do conhecimento autodidata de cada membro, as artesãs contam também com o apoio do “Núcleo Nossa Senhora Auxiliadora de Capacitação de Adultos”, uma ONG que ministra cursos de cabeleireiro, artesanato em diferentes materiais, manicure, depilação, corte e costura, panificação e confeitaria, entre outros. Após o treinamento o integrante se torna um agente multiplicador, como se auto-denominam e, a partir daí, dividem o aprendizado com os demais.”Sou uma sobrevivente do naufrágio”, diz cantarolando dona Isolina Borges Monteiro, uma das solidárias integrantes do grupo e mãe de um egresso do sistema penitenciário. “Estou há apenas um mês, mas pretendo continuar atuando nesse projeto, pois aqui temos a oportunidade de aprender coisas importantes para o dia-a-dia, trocar experiências e ocupar o tempo ajudando pessoas que necessitam de apoio”, orgulha-se.

 

Preparo e parceria

A fim de fazer bonito na exposição de Moema, o grupo Solidariedade preparou uma pré-exposição para acertar detalhes de montagem e disposição dos artigos que pretende vender na feira de artesanato. A EAP (Escola da Administração Penitenciária) emprestou o amplo espaço de seu saguão de entrada, onde as peças ficaram à disposição dos funcionários que puderam apreciar e, eventualmente, comprar os diversos produtos da mostra.

A apresentação na EAP recebeu ainda o reforço da Apac (Associação de Proteção e Assistência Carcerária) – ONG que compartilha gestão na PFS (Penitenciária Feminina Sant’Ana) – expondo produtos que são feitos pelas reeducandas em duas salas daquela unidade prisional, denominadas “oficinas de artesanato”. “Nosso trabalho começou timidamente nas celas e só depois, devido ao aumento no número de presas interessadas, é que direcionamos para locais específicos, onde elas transformam matéria-prima em arte”, explica a pedagoga Maria Aparecida Ventura, coordenadora de Educação da Apac. “Todo o dinheiro proveniente da venda de artesanato produzido na PFS vai integralmente para a conta-pecúlio de quem manufaturou a peça”, ressalta Ventura.

Atualmente 350 internas participam do projeto que, além de gerar renda alternativa, ainda permite que diminua o tempo de permanência na prisão, pois a cada três dias trabalhados, um é remido do total da pena, conforme prevê a (LEP) Lei de Execuções Penais. O treinamento de capacitação das presas é feito em conjunto entre uma profissional da unidade, professores de artesanato da Apac e pelas próprias reeducandas que possuem conhecimentos em trabalhos manuais. “É uma experiência extremamente gratificante. Muitas vezes a gente até se esquece que está em uma penitenciária”, afirma a auxiliar administrativa da Apac, Rosana de Almeida Leite.

Para que não falte material para suprir a demanda nas oficinas de artesanato, a Apac mantém parceria com diversas entidades assistenciais e empresas privadas que doam linhas, tecidos, papel, cola e demais artigos que são convertidos em objetos artísticos ou peças de vestuário.

Serviço:

Feira de Artesanato – Praça Nossa Senhora Aparecida – Moema SP (em frente à igreja e próxima ao Shopping Center Ibirapuera); até  30/11/2006, as quartas, sextas e domingos, das 9h às 17h.

No estande do “Projeto Solidariedades” estarão à venda, produtos artesanais feitos por familiares de reeducandos e egressos do sistema prisional paulista.

A exposição será feita em parceria com a “União dos Moradores da Vila Ercília” e “Projeto Enfocando” (rede solidária que articula recursos sociais).

Informações: Departamento de Reintegração Social da SAP (Núcleo de Atendimento a Mulher) 6223-4820

Assessoria de Imprensa – SAP