Parceria entre Unesp e Inpa pesquisa metais pesados na Bacia Amazônica

Estudo abrange a aplicação e o desenvolvimento pioneiros no Brasil de técnica de detecção dessas substâncias

sáb, 04/08/2007 - 18h05 | Do Portal do Governo

A descarga de efluentes industriais em rios e lagos é responsável por concentrações elevadas de metais pesados em muitas reservas de água. A forma como interagem com o meio é foco de pesquisa desenvolvida no Centro de Estudos Ambientais (CEA), unidade complementar da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no câmpus de Rio Claro. O estudo abrange a aplicação pioneira de uma técnica de detecção de metais pesados em ambientes aquáticos e chamou a atenção dos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Os coordenadores do grupo, chamado Biometal, professores-doutores Ana Luiza Brossi-Garcia e Amauri Antonio Menegário, e o diretor do CEA, Roberto Naves Domingos, estiveram em Manaus para apresentar a tecnologia. Como resultado prático, CEA e Inpa firmaram acordo para o desenvolvimento da pesquisa na Bacia Amazônica.

“A parceria objetiva minimizar a degradação das águas de superfície da Bacia Amazônica”, avalia Domingos. A equipe responsável pelo trabalho, com a vice-diretora do CEA, bióloga Ana Luiza Brossi-Garcia à frente, está entusiasmada com as possibilidades que a tecnologia DGT – sigla em inglês para Gradiente de Difusão em Filmes Finos – oferece.

Ovo de Colombo

Trata-se de uma técnica desenvolvida na Inglaterra, cujo principal diferencial é a capacidade de reter o metal diretamente na reserva hídrica estudada. “É o ovo de Colombo”, empolga-se a pesquisadora. Ela explica o motivo de definição tão elogiosa: constituído por um suporte de PVC, do tamanho de uma tampa de garrafa, que contém um gel, um filtro e o sistema DGT, o dispositivo é simples, de fácil manejo, e mesmo assim garante resultado diferenciado.

“A técnica torna possível medir os metais biodisponíveis – que realmente interagem com o meio ambiente”, ressalta o químico Amauri Antônio Menegário, vice-líder do grupo. Esclarece que é o caso dos metais que comprometem os seres vivos. “Pelo método tradicional, envolvendo a coleta de uma amostra de água para análise, não é possível observar os que estão ou não nessa condição, apenas constatamos e dimensionamos a presença de metais”, esclarece Menegário.

O que faz com que isso seja viável é a capacidade do dispositivo concentrar a substância para a amostragem em suas diferentes variações de composição. É o estado químico do metal que determina se ele impregna ou não organismos vivos. Além disso, no DGT o transporte da amostra para o aparelho de análise não implica a sua alteração por contaminação, ocorrência muito mais comum quando se trata da coleta de água. “As amostras da Amazônia, por exemplo, foram enviadas para nós por Sedex, sem problemas”, destaca o diretor do CEA, professor Roberto Naves.

Adaptação

Porém, o maior mérito do trabalho, até agora, de acordo com o pesquisador, não é a aplicação do DGT, mas sim “a adaptação do método às condições locais”, afirma. Iniciado há dois anos, o estudo teve a primeira etapa concentrada apenas na validação da técnica. Para começar, a água dos rios brasileiros é diferente da dos europeus e da dos Estados Unidos. Tem PH bem mais baixo. “Tivemos de desenvolver o método de forma que pudesse ser usado para o nosso objetivo em amostras com alta concentração de matéria orgânica, encontradas no Brasil”, conta o doutorando Paulo Sérgio Tonello, responsável por esse processo.

A etapa englobou diversos testes para adaptação às necessidades (o DGT é mais voltado às águas marinhas) e rendeu a publicação do trabalho de doutorado do pesquisador – a proposta de uso do método nas amostras de alto teor de matéria orgânica. Além disso, permitiu a criação de substitutos para alguns dos materiais usados no dispositivo, como o gel difusivo e o ligante (ambos responsáveis pela absorção dos metais). O primeiro passou a ser fabricado pelo grupo do CEA e, no lugar do segundo, tem sido utilizada com sucesso a levedura – fermento de pão.

Aplicação

Agora, a pesquisa está na segunda fase, a da aplicação do método já adaptado. Os dispositivos foram colocados na Bacia do Corumbataí, reserva hídrica de Rio Claro, e em três pontos na Bacia Amazônica: no Rio Negro, em águas da Reserva Florestal Adolpho Ducke (área criada para estudo do Inpa) e no Igarapé dos Quarenta – segundo alguns trabalhos é o curso d’água local mais poluído, com concentrações de metais pesados muito acima das recomendadas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

O laboratório do CEA dispõe de equipamento sofisticado para a análise. É o Espectrômetro de Emissão Atômica. Mas até ele teve de ser adaptado para o uso do dispositivo. Serão avaliados cobre, alumínio, zinco, ferro, manganês, chumbo, cádmio e cromo. Segundo Amauri, a terceira etapa da pesquisa será o diagnóstico criterioso das áreas estudadas.A pesquisa de detecção de metais pesados em ambientes aquáticos começou a ser realizada em 2005 e, além do uso do dispositivo DGT, abrange outra vertente de bioindicação: A utilização de organismos aquáticos, no caso os crustáceos, para a análise da contaminação. A aluna de mestrado do programa de pós-graduação do Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro, Graziela Consentini das Chagas, trabalha com uma espécie de caranguejinho (Trichodactylus fluviatilis) na Bacia do Rio Corumbataí, para observar o acúmulo de metais em seus tecidos. Graziela e seus orientadores, profs. Ana e Amauri, consideram o animal boa fonte bioindicadora de contaminação. “E ainda estendemos nossa análise à água de onde ele foi retirado”, salienta.

“Se há substâncias nos animais, significa que estão interagindo com o meio e podem chegar ao homem em teores magnificados, já esse animal é um elo importante da cadeia”, complementam os pesquisadores.

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Simone de Marco

Da Agência Imprensa Oficial