Parceria do Estado com o Sebrae transforma pequenos produtores em empreendedores rurais

O Sistema Agroindustrial Integrado (SAI) está presente em 312 municípios. A meta é chegar a 500 até o fim deste ano.

seg, 31/07/2000 - 16h15 | Do Portal do Governo


O Sistema Agroindustrial Integrado (SAI) está presente em 312 municípios. A meta é chegar a 500 até o fim deste ano.

Antonio Carlos Pontelli produz verduras de folhas sem agrotóxico no município de Marília, onde comercializa o produto em seu caminhão. “Eu costumava demorar duas horas e meia para vender 300 maços de hortaliças”, recorda-se o produtor. Pontelli comemora o fato de técnicos do Sistema Agroindustrial Integrado (SAI) de seu município terem procurado um produto diferenciado na região para “fazer propaganda”. Parceria do Governo do Estado de São Paulo com o Sebrae, o SAI foi criado para oferecer aos pequenos e médios produtores rurais assessoria técnica, administrativa e gerencial. O objetivo é capacitar os produtores para que possam administrar melhor seus negócios e aumentar a produtividade, além de gerar novos empregos.
“O pessoal do SAI colocou uma faixa no meu caminhão e também conseguiu divulgar meu produto nos jornais locais”, contou o produtor de hortaliças. “No dia que saiu a primeira reportagem, consegui vender 450 maços em 1h20”, comemorou. Pontelli conta que os técnicos do SAI também agendaram visitas a fazendas que produzem orgânicos para promover o intercâmbio de informações.

Suporte para toda a cadeia produtiva

Os pequenos produtores rurais, que são o início da cadeia produtiva de agronegócios, tinham pouco acesso a técnicas de gestão empresarial e treinamento, além de não estarem adequados às técnicas atuais de administração de seus negócios. “O SAI identifica os principais produtos de cada município e suas cadeias produtivas para que os produtores possam ser capacitados e tenham uma visão empresarial e moderna de seus negócios”, afirmou o secretário da Agricultura e Abastecimento, João Carlos de Souza Meirelles. “Eles passam a ter informações tais como custos de sua produção, qual o tipo de produto que o mercado está querendo comprar e qual é a melhor forma de apresentação desse produto, entre outras”.
O programa promove o desenvolvimento do setor rural e a melhoria das condições de vida da população ligada a essa atividade, partindo do pressuposto de que isso pode ser conquistado com ações como aumento da produtividade, redução de custos de produção, compra de insumos e venda de produção em conjunto, gerenciamento das unidades de produção e busca de novas oportunidades de negócios. O SAI beneficia toda a cadeia produtiva: produtores rurais, fornecedores de insumos, distribuidores de produtos agrícolas e empresários do setor agroindustrial.

Da produção ao agronegócio

“O governador Mário Covas elegeu como prioridade o agronegócio. Covas entende que essa área é uma das únicas fronteiras capazes de gerar trabalho, emprego, renda e saldos na balança de exportações do País a curto e a médio prazo”, afirmou Meirelles. Em março de 1998, com a desvalorização da nossa moeda, o governador promoveu reuniões para que fossem organizadas ações rápidas nos dois setores que, segundo seu entendimento, seriam beneficiados com a mudança do câmbio: o agronegócio e o turismo. A agenda positiva teve como objetivos principais a geração de emprego e renda.
Nessa época, tanto o Governo do Estado quanto o Sebrae já atuavam no desenvolvimento de produtores rurais, porém, em ações individuais. ‘A parceria entre o Sebrae e a Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo é a prova da maturidade de instituições voltadas ao aprimoramento e ao desenvolvimento do pequeno empresário rural, do pequeno proprietário rural”, atestou o diretor superintendente do Sebrae-SP, Fernando Leça. “Estamos formando uma nova filosofia de empreendedores – os que se apresentavam como pequenos proprietários rurais e que passam a se ver e a gerir seus negócios como empresários”. Leça destaca que esses produtores começam a pensar em formar associações, cooperativas, a participar de cursos para a melhoria de gestão de seus negócios. “Eles passam a se ver como elos de uma cadeia produtiva, começam a conhecer o mercado, enfim, desenvolvem uma nova estrutura empresarial empreendedora”, observa.

Cerca de 1,3 mil empregos e nova mentalidade

Em 1998 foi feito o piloto do programa em 15 municípios da região de Fernandópolis. No ano seguinte, outros 131 passaram a ser atendidos pelo SAI, que atualmente beneficia 312 municípios em todo o Estado. A meta é atingir os 500 municípios com vocação agrícola em São Paulo. O Sistema Agroindustrial Integrado soma atualmente mais de 73 mil produtores rurais atendidos. O programa também contabiliza a geração de mais de mil empregos diretos e quase 300 indiretos. “O SAI já gerou emprego e renda, mas o mérito é que está gerando uma nova mentalidade nos produtores rurais: eles estão mais atentos às mudanças do mercado”, ressalta o gerente de agronegócios do Sebrae, Sérgio Perrone Ribeiro.
“Os técnicos do SAI estão sempre fazendo alguma coisa para ajudar. Eles fazem propaganda, agendam visitas e estão catalogando todos os produtos do meu bairro para que possamos trocar informações entre nós”, destacou Pontelli. Foi com o apoio do SAI que os produtores da região de Marília formaram uma associação e já estão lucrando com isso. Os produtores de melancia, por exemplo, estão gastando menos porque se juntaram para comprar os insumos. Além disso, comenta Pontelli, está sendo feito um cadastro de compradores do produto para evitar o calote. Foi detectado que, só no ano passado, o desfalque dos produtores de melancia da região com cheques sem fundos atingiu cerca de R$ 100 mil . “Um dos produtores perdeu R$ 33 mil. Foi o investimento de um ano inteiro”, lamentou Pontelli.

Vocação econômica das regiões

O Sistema Agroindustrial Integrado opera por módulos regionais, em que são agrupados no mínimo 15 municípios com condições socioeconômicas e atividades agropecuárias semelhantes. Os módulos são atendidos por profissionais da área de ciências agrárias, com especialização nas áreas de organização social, custos de produção, comercialização, administração rural, planejamento de mercado, programas de qualidade rural e específicos de acordo com a principal atividade da região. “Queremos que o produtor rural se desenvolva nas áreas da sustentabilidade e da qualidade de vida. Que ele se sustente e tenha lucro com a agricultura”, afirmou o técnico coordenador do SAI na Secretaria da Agricultura, Arlei Arnaldo Madeira.
A implantação do programa começa com um diagnóstico da região para determinar e identificar suas necessidades e seu potencial. Detectados os grupos de produtores e a vocação agrícola da região, o programa entra na segunda fase, a de capacitação, de qualificação e de treinamento dos produtores, que são incentivados a formar mentalidade associativa. “Despertamos a necessidade de união nos produtores”, afirmou o agente de desenvolvimento do SAI em Timburi, Leonardo Henrique da Silva. “Eles percebem que trabalhando em conjunto podem comprar maior quantidade de insumos gastando menos, por exemplo”.

Mais qualidade e mais lucro

Os produtores de Tupã queriam montar um centro de abastecimento no município. Avaliações de técnicos do SAI, porém, informavam que a idéia não era viável. “Agendamos, então, visitas dos produtores a entrepostos para que eles pudessem ver os prós e os contras da implantação de um centro de abastecimento aqui”, comentou o técnico do SAI em Tupã, Ilton Yoshikawa. Com as visitas, os produtores concluíram que não produziam tipos de produtos suficientes para montar um centro de abastecimento ou um entreposto e que não seria economicamente viável trazer esses produtos de outra região. Eles concluíram que a melhor oportunidade seria a montagem de um centro de recebimento e distribuição de hortifrutigranjeiros. “Os produtores daqui alugaram um box no Ceasa de Presidente Prudente e estão comercializando seus produtos lá, direto aos consumidores”, afirmou Yoshikawa.
Já o café de Pirajú era conhecido no mercado como “riado”, ou seja, café de má qualidade. Em cursos de capacitação rural, os produtores foram incentivados a formar uma associação. Hoje, os membros dessa associação trabalham o produto para que ele vá para o mercado com boa qualidade. Os resultados já começaram a aparecer. No ano passado, os produtores da associação participaram do Prêmio Brasil de Qualidade do Café Expresso instituído pela torrefadora italiana Illycaffe. “Dos onze cafeicultores que entraram na disputa, cinco se classificaram entre os 50 finalistas, dos quais dois foram premiados com a 2a e a 3a colocações”, orgulha-se o presidente do sindicato rural de Pirajú e um dos membros da associação, Rubens Rogério de Oliveira. “Depois disso a procura por café bom – o chamado café mole – cresceu 80% no município”. Para Oliveira, as conseqüências do SAI foram a melhoria do produto e o respeito adquirido pela região por parte dos provadores e das empresas compradoras.
Os negócios iam mal para Caio César da Silveira. Ele criava frangos no município de Descalvado e vinha acumulando prejuízos. “Meu sítio é pequeno e eu já estava pensando em vendê-lo”, contou. Técnicos do programa orientaram Silveira e o incentivaram a desenvolver outra cultura, aproveitando as instalações da granja. “Hoje, produzo alface hidropônica e graças à orientação dos técnicos e aos contatos com outros produtores, estou desenvolvendo um sistema de hidroponia voltado à produção orgânica”, afirmou. Com a autoridade de um especialista de mercado, Silveira sentencia: “O consumidor está procurando produtos isentos de agrotóxicos”.

Modelo do SAI faz escola

O SAI já começa a despertar a atenção de outros Estados e até de outros países. “O programa já faz sucesso. Cerca de dez Estados já se mostraram interessados em copiá-lo. Além de países como o México, a Argentina e o Panamá”, afirmou Sérgio Perrone Ribeiro.
Após capacitar os produtores, o SAI entra na fase de comercialização. Já capacitados e preparados para a comercialização, os produtores passarão para próxima e última etapa do programa, que fechará a cadeia produtiva, chegando à indústria. “Nessa fase, os produtores já organizados em associações, treinados e capacitados, terão compradores para suas produções antes mesmo do plantio. Eles trabalharão em parceria com empresas e distribuidores”, explica Leça. Mas isso não significa que a ação do SAI termine aí, porque sempre existirão novos produtores precisando de capacitação para gerir seus negócios.
Para saber se o SAI está operando em sua cidade procure o escritório de Desenvolvimento Rural da Coordenadoria de Assistência Técnica e Agropecuária (Cati) – órgão vinculado à Secretaria da Agricultura – de seu município, ou entre em contato com a agência do Sebrae de sua região.

Cíntia Cury