Pacientes do HC com paralisia cerebral são reabilitados com terapia esportiva

Projeto do Instituto de Ortopedia e Traumatologia atende cerca de 80 pessoas por ano com atividades esportivas semanais

sáb, 19/12/2009 - 19h00 | Do Portal do Governo

“Se eu tivesse de dar uma medalha para alguém seria para minha mãe”, diz Denise Gomes, 41 anos, depois de participar da última atividade dos Jogos Anuais de Terapia Esportiva, no complexo esportivo da Faculdade de Medicina da USP, promovido pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas (HC). Denise e mais 72 pessoas com paralisia cerebral estavam felizes ao participar do enceramento dos jogos, que incluem provas de revezamento, arremesso, handebol, futebol de salão e queimada. O projeto de reabilitação aos pacientes com paralisia cerebral atende cerca de 80 pessoas por ano com atividades esportivas semanais.

Tardiamente diagnosticado, o caso de Denise comprometeu o movimento das pernas, impossibilitando-a de andar. Mesmo assim, encontrou no HC a oportunidade de reabilitação. “Aqui, sou recebida por anjos vestidos de branco que nos ajudam o tempo todo”, afirma. Denise realizou as cirurgias necessárias, progrediu no tratamento e começou a andar. “Estou emocionada. Sempre acreditei que um dia teria coordenação nos movimentos para fazer a atividade que eu quisesse. Agora consegui! E devo tudo isso aos médicos do HC e à minha mãe”, descreve, lembrando que a mãe, recentemente falecida, foi a sua maior incentivadora.

Um desses anjos (como Denise chama os médicos) é o doutor João Carazzato, 72 anos. Ortopedista e especialista em Medicina do Esporte é o mentor dos jogos. Ele conta que as modalidades esportivas têm finalidade específica para o tratamento. “Nós direcionamos as atividades de acordo com a limitação de cada um. O resultado é impressionante. A gente observa, ao longo do tempo, que aqueles que não conseguiam caminhar ou movimentar os braços hoje jogam até futebol”, analisa. O ortopedista destaca ainda o trabalho da equipe multidisciplinar do HC na utilização do esporte para estimular as funções do aparelho locomotor dos participantes, além do incentivo dos familiares e amigos na recuperação dos pacientes.

Pais e filhos 

Desânimo e tristeza não têm espaço na família Santos. Os irmãos gêmeos Álvaro e Alfredo dos Santos, ambos com 12 anos, encaram a vida de frente, com ânimo e alegria. Com vulnerabilidade nos movimentos das pernas, em vez de reclamar das dificuldades decidiram sorrir para a vida. No ginásio, correm, pulam e, como se não bastasse tudo isso, ainda encontram fôlego para jogar futebol de salão. “Estou muito feliz! Gostei de tudo! Mas o futebol é a minha preferência”, afirma Alfredo. Já o irrequieto Álvaro, com um grau mais elevado de limitação do que o irmão, precisa de um andador para realizar os exercícios. Nem por isso desistiu. “Adoro esse lugar e logo terei as mesmas condições do meu irmão. Estou cansado, mas se tiver tempo quero jogar um pouco mais”, disse Álvaro.

Para João e Cleusa dos Santos, pais dos garotos, a satisfação em ver a evolução dos filhos enche de orgulho toda a família. “Não tem preço que pague tudo que o pessoal do HC faz por eles”, resume o casal, que toda semana traz os jovens de Embu das Artes, com desejo de que os meninos levem uma vida normal.

Antes, durante ou depois do parto

A paralisia cerebral é uma lesão do sistema nervoso central que pode ocorrer na criança antes, durante ou depois do parto ou, ainda, pode ser provocada por qualquer evento que resulte na falta de oxigenação do cérebro. Além dos problemas motores, alguns pacientes podem apresentar comprometimentos mentais, auditivos, visuais ou da fala. A terapia esportiva melhora a resistência física, a condição cardiorrespiratória, a força muscular, a flexibilidade, a agilidade, a coordenação, a rapidez, o equilíbrio e a autoconfiança.

Dedicação rende certificação

O Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) foi credenciado como o primeiro Centro Médico de Excelência da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa) na América Latina. Além dos pré-requisitos para a qualificação, a Fifa considerou a estrutura hospitalar do HC, a produção científica e o histórico de compromisso dos profissionais do complexo. De acordo com o chefe do grupo de Medicina do Esporte do IOT, Arnaldo Hernandes, o trabalho desenvolvido e a estrutura possibilitaram o credenciamento.

“A dedicação dos profissionais na prevenção de lesões e proteção à saúde dos jogadores e todo trabalho realizado com outros projetos foram fundamentais para a obtenção da certificação”, destacou. Com a medida, os médicos do HC participarão de todas as reuniões médicas da entidade máxima do futebol mundial, colaborando nas tomadas de decisões. Até agora, a Fifa contava com oito centros médicos de excelência distribuídos por seis países: Alemanha, Suíça, Japão, Nova Zelândia, África do Sul e Noruega.

Da Agência Imprensa Oficial e do HC