“Nunca houve perigo algum na estação Fradique do Metrô”

Laudo assinado por técnico em soldagem tem sido reprovado por unanimidade pelos especialistas

sex, 09/03/2007 - 9h15 | Do Portal do Governo

Mãe de todas as reportagens produzidas sobre supostas irregularidades na construção do Metrô paulista, o laudo assinado pelo técnico em soldagemo responsável pela elaboração de uma vistoria na estação Fradique Coutinho, tem sido reprovado por unanimidade pelos especialistas que, numa posição isenta, têm se dedicado a examinar a obra. A avaliação é dos engenheiros entrevistados durante o seminário “O Momento Atual da Engenharia Brasileira”, realizado esta semana no Instituto de Engenharia.

No documento,o técnico em soldagem disse que os problemas na estrutura da obra poderiam causar um “acidente de proporções imprevisíveis”. A frase sugere a possibilidade de uma tragédia de grandes proporções e foi essa hipótese que deu um caráter chamativo às reportagens. O próprio técnico sclareceu – apenas 48 horas depois das primeiras reportagens divulgadas pela TV – que jamais sugeriu que a estação pudesse desmoronar. O esclarecimento foi registrado pelos jornais, e jamais obteve o mesmo destaque nas emissoras de TV, deixando dúvidas no ar, que não têm razão de ser, conforme os engenheiros.

Eles afirmam que o laudo do técnico não levou em consideração o conjunto de estruturas. Para eles, há uma distinção entre analisar-se um ponto específico de solda e a estrutura montada com objetivo de fixar o concreto.

“A estrutura é colocada no local somente para manter o esquadro e não tem função de sustentação”, esclarece o presidente do Crea/SP (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo) José Tadeu da Silva. “A estrutura recebe um esforço de compressão e não de tração. Isso significa que ao invés da solda, se fosse amarrado um arame no conjunto metálico, o efeito seria o mesmo”, completa Tadeu, que fala em nome do órgão encarregado de zelar pelo bom cumprimento das normas técnicas e éticas da profissão.

A opinião do presidente Crea é compartilhada pelo presidente do Instituto de Engenharia, Eduardo Lafraia. De acordo com ele, é preciso fazer uma distinção em duas etapas sobre o laudo. Lafraia acredita que apenas com o conhecimento técnico do técnico em soldagem não pode se tirar conclusões sobre a segurança naquele ponto da obra. Ele acredita que houve precipitação por parte do técnico em soldagem.

“Ao afirmar que há um risco de ruir a estrutura ele extrapola. Somente um especialista em estrutura metálica pode dizer isso com precisão. Ele é um especialista em avaliar se a solda está boa ou ruim e não pode fazer uma conclusão sobre as conseqüências disso”, observa Lafraia.

Outro dado destacado pelos engenheiros é que a estrutura montada na futura Estação Fradique Coutinho foi provisória. “É como uma fôrma que se coloca para sustentar uma viga e depois é jogada fora. O concreto seca em 24 horas”, disse José Tadeu. Ele informou que, ao contrário das informações contidas no laudo, a segurança das pessoas que trabalham no local jamais ficou foi comprometida. “Nunca houve perigo algum nem para quem está trabalhando como nem para as pessoas que irão passar pelo local no futuro”, comenta Tadeu.

O presidente do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), José Roberto Bernasconi, disse que há um equívoco de entendimento sobre o papel das barras que compõem a estrutura metálica e as soldas.

“Há uma grande distância entre o pneu do carro furar e a possibilidade do veículo capotar”, compara Bernasconi.

Os três especialistas foram unânimes em afirmar que a previsão do técnico no laudo expôs a engenharia brasileira.”O Metrô sempre foi uma escola: temos a engenharia antes e depois do Metrô. Com o acidente de janeiro, a emoção ficou muito latente e se começou a falar bobagem”, lamenta o presidente do Instituto.

Cleber Mata