Novos roteiros desvendam a história de São Paulo

Passeios por galerias do Centro Novo e casarões antigos da Mooca estão entre as opções

dom, 09/03/2008 - 12h13 | Do Portal do Governo

Qual a melhor maneira de ir da Praça da Sé ao Largo São Bento, passando pela Praça do Patriarca e a Rua João Brícola? E da Conselheiro Crispiniano à São João, com paradas no Largo do Arouche e na Praça da República? Se o leitor respondeu “de Metrô”, resposta errada. Andar a pé por São Paulo, além de ecologicamente correto, é também uma maneira econômica e divertida de se conhecer um pouco da sua história.

Essa é a proposta da coleção de roteiros históricos lançada pela editora Narrativa Um, com apoio do Programa de Ação Cultural (PAC), da Secretaria de Estado da Cultura. São cinco títulos: Dez roteiros históricos a pé em São Paulo; Dez roteiros a pé com crianças pela história de São Paulo; Santos e Litoral: dez roteiros históricos a pé; Roteiros históricos a pé próximos a São Paulo; Roteiros a pé com crianças próximos a São Paulo, redigidos por historiadores, arquitetos, pesquisadores e escritores, todos com a proposta de desvendar a história escondida nos recantos da cidade, muitas vezes imperceptível no dia-a-dia.

De acordo com o coordenador do projeto, o historiador paulistano Roney Cytrynowicz, a idéia partiu do seu próprio prazer em andar a pé. “Nossos roteiros sugerem pequenas viagens por pontos importantes da cidade, e não há jeito melhor de fazer isso do que a pé”. O desafio, segundo ele, foi transformar informações históricas em roteiros de passeios que fossem viáveis a pé, transformar o conhecimento em algo que possa ser observado, vivido, bem como tentar fazer com que as pessoas retomem a posse do espaço público e recuperem o vínculo com a história do lugar onde nasceram ou vivem. “Estamos num processo de desenraizamento. A gente anda pelos espaços e é como se não nos sentíssemos em casa”.

Conectado com o mundo – Não por acaso, Cytrynowicz escolheu o Bom Retiro para escrever o seu próprio roteiro. De origem judaica, freqüentou durante muito tempo o bairro, com o qual afirma ter uma relação afetiva, já que seu avô sempre morou lá. Decidiu voltar e ver com outros olhos, diferentes dos da infância, uma região que lhe foi muito familiar. Seu trajeto mostra, por exemplo, a importância da Estação da Luz, construída em 1867, inicialmente para a exportação do café, e que se transformou na principal responsável pela entrada de imigrantes de várias partes do mundo, sobretudo da Itália e da Espanha. Vale a pena fazer esse roteiro e tentar descobrir por que o Bom Retiro tem a marca de estar conectado com o mundo, seja pela variedade dos grupos étnicos que escolheram o bairro, seja pelas vitrines glamourosas das lojas de roupas, com pé-direito alto, lembrando os circuitos internacionais de moda em Milão, Paris e Nova York.

Um dos volumes dedicados às crianças propõe roteiro pelos monumentos históricos em torno do Parque do Ibirapuera, como o Monumento às Bandeiras e o Obelisco, obras que dificilmente são contempladas de perto, talvez por estarem no caminho que leva ao parque. São freqüentemente vistas de longe, de dentro do carro ou do ônibus. “A perspectiva muda quando você pára, desce do veículo e vai observar de perto”, diz Cytrynowicz.

Os títulos voltados para o interior e o litoral do Estado sugerem trajetos a pé por cidades que ficam há aproximadamente 100 quilômetrosde São Paulo. São passeios para serem feitos em um dia, indo de ônibus, de carro ou de trem, desde que a partir do ponto inicial o roteiro seja cumprido a pé.

Rios, cemitérios, galerias – O volume dedicado a São Paulo é um “mosaico” de como a cidade se transformou em metrópole. O roteiro do Rio Pinheiros e da Represa de Guarapiranga, por exemplo, é um passeio pela história geográfica da cidade, com rios, morros e canais revelando como o cenário urbano foi construído a partir da topografia original.

Outro percurso interessante é o roteiro pelos territórios da morte, que convida o leitor a entender o desenvolvimento da cidade a partir dos locais onde as pessoas foram enterradas e a relação entre o espaço, a população e a morte. Começa no Pátio do Colégio, onde obviamente foram enterrados tanto os índios como os primeiros portugueses que aqui chegaram, e termina no Cemitério da Consolação.

O roteiro das galerias do Centro Novo mostra, de maneira curiosa, como, ao longo do tempo, dezenas de galerias foram estabelecendo uma espécie de mundo subterrâneo na cidade. Construídas em diferentes épocas, essas passagens reúnem milhões de pequenos negócios e convivências, todas com características muito particulares.

Roseane Barreiros

Da Agência Imprensa Oficial