Museu de Zoologia da USP discute crise da biodiversidade

Exposição reúne itens do acervo, fotos e vídeos que denunciam ameaças à natureza

ter, 06/01/2009 - 11h59 | Do Portal do Governo

O grupo de curadores do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP) escolheu o que considera um dos grandes temas contemporâneos para a sua 10ª exposição temporária temática.

Em cartaz até o dia 17 de maio, “Crise da biodiversidade: a natureza ameaçada” reúne, além de itens do acervo do museu, parte de sua coleção científica, fotografias e vídeos para promover a reflexão sobre a degradação ambiental, seus efeitos e a importância do trabalho realizado pelo museu para a preservação das espécies.

“As pessoas não fazem ligação direta do tema com um museu de zoologia, mas essa instituição de pesquisa, com cerca de 8 milhões de exemplares de animais no acervo, é fundamental para a descrição de novas espécies e sua preservação”, diz Maria Isabel Landim, que integra a curadoria. Permeada por essa questão, a mostra foi divida em dois grandes blocos de conteúdo: um dedicado a retratar a relação do ser humano com a natureza e outro à apresentação da biodiversidade brasileira.

Estão na mostra o puma, a anta, o pitu (lagosta de água doce) e outros animais empalhados que representam as várias espécies atingidas pela ação do homem na natureza. São a ilustração pontual dos efeitos da destruição. Assim como o são os já extintos ou em vias de extinção, coletados na região de entorno ao museu, no bairro do Ipiranga, no final do século 19 e começo do 20: moluscos, insetos, peixes, aves e mamíferos. Alguns têm, inclusive, uma homenagem ao bairro no próprio nome. É o caso do canário-do-brejo, batizado de Emberizoides Ypiranganus. Todos pertencem à coleção científica da instituição, integrada por 500 exemplares, expostos pela primeira vez.

Reflexão

Fotografias do meio ambiente e da vida selvagem, de um especialista no assunto, André Pessoa, revelam a relação do homem com a natureza. Na maior parte das 30 expostas, a bela imagem artística traz a denúncia de um contato devastador. O convite à reflexão é feito ainda por meio dos documentários, de cerca de oito minutos, produzidos pela DGT Filmes, com relatos que mostram os contrastes entre as belezas naturais da biodiversidade brasileira e os terríveis estágios de degradação atual. Assim como serve de alerta sobre as formas de ocupação do planeta, o filme/animação de 3 minutos demonstra o crescimento populacional desde o século 1 até o ano de 2008, quando a população mundial atinge cerca de 6,7 bilhões de pessoas.

“Esta exposição abre para os visitantes rara oportunidade de encontro entre arte e ciência, uma forma possível do exercício de cidadania, a partir do olhar, da reflexão, da formação de opinião e participação nos destinos da sociedade”, explica o coordenador da curadoria e de difusão cultural do Museu de Zoologia, Hussam El Dine Zaher.

Ambiente em pauta

A proposta de interação tem também espaço definido para a prática. “Existe Saída? Dê a sua opinião”, solicitam os curadores no livro de registro de visitantes. Alessandro Buzo é um dos que atende ao pedido: “Sem dúvidas, a saída está na mudança dos conceitos pessoais de direito à vida…”, registrou. “Para uma mudança profunda é necessário que todas as partes envolvidas tenham conhecimento real da situação”, avalia Letícia Binal de Faria, e Ravi Orsini deixa anotado um incentivo à iniciativa: “É bom ver exposições que colocam o ambiente em pauta. Educando as próximas gerações, talvez consigamos frear a matança de animais”, opina.

O futuro da humanidade

Em visita ao local pela primeira vez, os irmãos Vinicius e Marco Franzini Luz, de 18 e 15 anos, foram surpreendidos pela mostra. “Achei as fotos fortes. Apresentam uma realidade que não estamos acostumados a ver no Sudeste e tocam num ponto pouco divulgado”, diz o mais velho, que considera importante esse tipo de realização para o futuro da humanidade.

Marco achou muito bom o contraste das imagens expostas: “Deixa claro a diferença entre duas realidades”, afirma, referindo-se às fotos da natureza intocada e da devastada. Suas primas, Bianca Loss, de 15 anos, e Rebekca Machado, de 11, vieram do Espírito Santo para passar férias em São Paulo. Conhecer o Museu de Zoologia foi um dos passeios programados para a temporada na cidade.

“Gostei muito, é muito bonito”, conta Bianca. Diz também considerar que a exposição passa o seu recado. “Ela faz a gente refletir”, diz. Rebekca acha que o museu, assim como a mostra, transmite a vontade de conhecer mais os animais. “São muitos que a gente não conhece. Só hoje, aprendi a reconhecer uma porção”, afirma.

Referência em Zoologia

O Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, localizado no bairro do Ipiranga, foi inaugurado em 1941, num edifício projetado especialmente pelo arquiteto Christiano Stockler das Neves para abrigá-lo. Por isso, é caracterizado por representações de animais nas fachadas e nos belos vitrais feitos em cristal belga, no interior do prédio.

Sua origem está associada à Comissão Geográfica e Geológica da Província de São Paulo (CGG), criada em 1886 para organizar expedições de coletas de amostras de fauna e flora. Detém hoje o mais completo acervo da fauna da região neotropical do planeta – que abrange da Patagônia ao México, e é considerado uma das principais referências mundiais em zoologia.

Apresenta permanentemente ao público, por meio da sua exposição de Longa Duração, parte do acervo composto de mais de 8 milhões de exemplares de animais, cuja organização foi iniciada há mais de cem anos. Dividida em módulos, essa mostra retrata a evolução da biodiversidade, de eras remotas aos dias atuais. É formada por réplicas em tamanho natural de animais extintos há milhares de anos, fósseis encontrados no Brasil ou na América do Sul, esqueletos de primatas (gorila, chimpanzé, humano e orangotango), modelos fiéis de dinossauros que antecederam as aves, entre outros exemplares. Eles são apresentados em cenários que simulam seus habitats naturais, criados por meio de recursos tecnológicos e efeitos de iluminação. Filmes de curta duração em projeção contínua completam a ambientação.

No mês de dezembro, a instituição ganhou mais uma novidade. Trata-se da coluna geológica, totem digitalizado de 11,5 metros de altura, que conta a história da vida na Terra nos últimos 650 milhões de anos.

SERVIÇO

Museu de Zoologia da USP

Avenida Nazaré, 481 – Ipiranga – São Paulo/SP

Tel. (11) 2065 – 8100 – site www.mz.usp.br

De terça-feira a domingo, das 10 às 17 horas

Ingresso: R$ 4,00 (grátis para visitantes menores de 6 anos e acima de 60; estudantes com carteira pagam meia-entrada). A partir de 2009, todo último domingo do mês terá entrada grátis.

Simone de Marco

Da Imprensa Oficial