Município de Iepê inaugura instalações do Museu Arqueológico

Espaço maior e mais adequado vai expor mais de 30 mil peças achadas nos diversos sítios arqueológicos da região

ter, 26/06/2007 - 14h22 | Do Portal do Governo

Iepê, município situado no oeste do Estado, tem pouco mais de 60 anos. Entretanto, guarda mais de mil anos de nossa história, parte dela ainda sob o solo. Registros da prefeitura indicam que o povoado que deu origem à cidade tem menos de um século – as primeiras famílias chegaram à região por volta de 1917 –, e a cidade só foi emancipada em 30 de novembro 1944.

Os primeiros habitantes do local foram os índios guaranis, no período pré-colonial, os quais deixaram inúmeras provas de sua passagem. Os 596 quilômetrosquadrados de Iepê abrigam um dos mais ricos acervos arqueológicos de São Paulo.

Para contar aos atuais moradores a história dos antigos habitantes do período pré-colonial de Iepê, o município ganhou, no ano 2000, local para receber as peças achadas nos diversos sítios arqueológicos da região. O Museu de Arqueologia de Iepê foi reiinaugurado sábado passado num amplo espaço mais adequado para expor as mais de 30 mil peças de seu acervo. E não pára de crescer com a continuidade das pesquisas empreendidas por uma equipe da Unesp de Presidente Prudente.

A descoberta – Em 1995, a arqueóloga Neide Barrocá Faccio, professora daFaculdade de Ciências Tecnológicas (FCT) da Unesp de Presidente Prudente, recebeu de um fazendeiro de Iepê, município a 540 quilômetros da capital paulista, na região do Vale do Paranapanema, uma caixa contendo cerâmicas do período pré-colonial feitas por índios guaranis. Em contato com o fazendeiro, Roberto Ekman Simões, Neide descobriu que ele havia coletado as peças em sua fazenda antes de o lago da Usina Hidrelétrica da Capivara inundar a área, em 1974.

Três anos depois, em 1998, uma grande seca abateu-se sobre a região e boa parte da área inundada pela usina secou e pôs à mostra nada menos que 16 sítios arqueológicos, 13 dos quais na Fazenda Capisa, pertencente ao colecionador sueco. “Se por um lado o lago da hidrelétrica inundou a área dos sítios, por outro, garantiu a preservação de um dos acervos arqueológicos mais importantes do Estado de São Paulo”, ressalta Neide.

Uma curiosidade dos achados da região é que há grande número de vasilhas inteiras, o que, segundo a pesquisadora, é muito raro, pois os sítios arqueológicos localizados em áreas agrícolas sofrem danos com o uso do arado e do subsolador. Mas em Iepê, os sítios estão situados em áreas de pastagens que nunca haviam sido cultivadas. “Além disso, desde 1974 o lago da usina cobre intermitentemente com suas águas as áreas dos sítios. Isso garantiu o bom estado de conservação dos achados”, avalia a arqueóloga.

Sonho realizado – De 1998 a 2002, a pesquisadora dedicou-se a resgatar as peças com o auxílio financeiro da Universidade de São Paulo e com o apoio do fazendeiro sueco, que alimentava o sonho de abrir um museu em Iepê. O trabalho de campo em busca de novas descobertas, realizado normalmente no segundo semestre de cada ano, quando as águas do lago costumam ficar mais baixas, não parou desde então. Do início das pesquisas até agora, foram localizadas aproximadamente 30 mil peças arqueológicas, entre pontas de flecha, urnas funerárias, vasilhas, lâminas de machado, boleadeiras, virotes (setas curtas), tembetás (enfeites labiais),potes de pedra, entre outros itens. E o acervo continua a crescer com o desenrolar das pesquisas de campo na área rural do município.

O trabalho empreendido pela arqueóloga e sua equipe fez despertar na população de Iepê o mesmo sonho do fazendeiro sueco – criar o Museu de Iepê e manter a riqueza arqueológica local na cidade. “Os moradores ficaram interessados no nosso trabalho e começaram a colaborar conosco”. Lembra que muitas vezes pescadores a procuraram para indicar locais em que achavam peças nas margens do Rio Paranapanema, na área do lago da hidrelétrica. Um dos mais dedicados colaboradores era o fazendeiro que abriu os olhos da pesquisadora para o acervo guarani incrustado no solo iepeense. “Ele me acompanhou em várias expedições”, recorda.

O avanço das pesquisas arqueológicas e a vontade da população local, aliados ao apoio da prefeitura da cidade, deram origem ao Museu do Índio de Iepê, inaugurado em junho de 2000, num prédio histórico do centro do município. “A fundação do museu foi o coroamento das pesquisas arqueológicas na área do Vale do Rio Paranapanema”, comemora a pesquisadora. Iepê tinha, enfim, como resguardar seu patrimônio cultural e a história dos índios que habitaram a região no período pré-colonial. Sem o museu local, as peças corriam o risco de ser destinadas a museus de outras cidades.

O museu e suas performances

O ano de 2007 traz mudanças significativas para o Museu de Iepê. A primeira delas é a alteração do nome. “Percebemos que o local, na verdade, se caracterizava como Museu de Arqueologia e não do Índio, já que o seu acervo se constitui majoritariamente de materiais arqueológicos e não etnográficos”, comenta a pesquisadora. Em fevereiro foi oficialmente batizado como Museu de Arqueologia de Iepê (MAI).

Outra novidade é a mudança para novas instalações, num prédio próprio (o anterior era alugado), amplo e mais aparelhado. Entre outras vantagens, a nova sede dispõe de área para reserva técnica, laboratório para  análise, catalogação e restauro das peças. Antes, tudo era enviado ao campus da universidade em Presidente Prudente, o que representava risco de dano às peças durante o translado.

O MAI recebe anualmente 10 mil visitantes, número significativo, principalmente levando-se em consideração que a cidade tem população estimada em 7 mil habitantes, de acordo com dados da Fundação Seade. Grande parte do público do MAI é formada por estudantes de escolas públicas.

“O MAI tornou-se um local de estudo, educação e lazer, além de ter elevado a auto-estima dos moradores da cidade e de fazer de Iepê um pólo captador de achados arqueológicos”, observa Olavo Santilli Ekman Simões, filho do fazendeiro sueco e, não por acaso, diretor do museu. Ao lado do pai e da arqueóloga, foi uma das pessoas que batalhou para que o museu se tornasse realidade. “O museu foi a realização de um sonho, pena meu pai ter falecido pouco antes da inauguração”, lamenta o diretor.

Sirlaine Aiala

Da Agência Imprensa Oficial

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SERVIÇO

Museu de Arqueologia de Iepê

Rua Minas Gerais, 598 – Iepê – SP

De segunda a sexta-feira,

das 8 às 11 horas e das 13 às 16 horas

Aos sábados, das 8 às 12 horas

Agendamento de visitas monitoradas:

Telefone (18) 3264-1311