Mulheres buscam espaço em setores do ambiente acadêmico

Para o reitor da USP, avanços e conquistas das últimas décadas não anulam a luta pela igualdade de gênero na universidade

ter, 19/03/2019 - 9h04 | Do Portal do Governo

Segundo o Anuário Estatístico da Universidade de São Paulo (USP), publicado em 2017, as mulheres conquistaram um espaço enorme dentro da instituição, mas ainda falta muito para conseguirem a almejada igualdade de gêneros dentro do ambiente acadêmico.

Os homens ainda superam o número de mulheres em quase 5 mil na graduação e em mais de 1,4 mil na docência da universidade. Apenas no número de alunas na pós-graduação e no pós-doutorado, mulheres levam uma discreta vantagem.

“O número de meninas que se interessam pela minha área continua pequeno e precisamos desenvolver ações para reverter esse quadro. Sinto que a proximidade com mulheres bem-sucedidas e que gostam do que fazem é um incentivo essencial para elas se inspirarem. Ter exemplos próximos ao nosso dia a dia dão à mensagem um valor muito mais concreto”, explica Milena Guessi Margarido, de 30 anos, pós-doutoranda em Engenharia de Software no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.

Desafios

Para Graziella Magalhães, doutora em Teoria Econômica pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, em São Paulo, e professora da Universidade Federal de Viçosa – cargo em que era a única mulher inscrita –, é como se existissem menos mulheres a cada nível acadêmico conquistado.

“Tenho a impressão de que as mulheres precisam se provar mais. Nós precisamos disputar espaço. Por exemplo, alguns homens nos interrompem para repetir aquilo que estávamos dizendo antes. Também parece que nos levam menos a sério se usamos roupa curta, como se fosse um fator limitante. Não deveria ser. É importante que mulheres tenham mais estímulo para continuarem a avançar no ambiente acadêmico e profissional”, explica.

Existe uma demanda, mas também uma máxima de preconceito em relação às mulheres na ciência – especialmente nas chamadas Exatas. “Eu não entendia, muitas vezes, o porquê das discussões sobre gênero que aconteciam especialmente nos Estados Unidos, onde havia esses debates sobre as mulheres na ciência. Até que eu comecei a estudar, a olhar os dados, a ler sobre o assunto, a ver as estatísticas e a perceber que havia algo errado”, diz a matemática Carolina Araújo.

Até este ano, ela era a única mulher a fazer parte do time de cerca de 50 pesquisadores do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro, que está efetuando a contratação de mais uma mulher.

Desafios

O reitor da USP, Vahan Agopyan, diz que os avanços conquistados nas últimas décadas não anulam os desafios constantes da mulher na sociedade contemporânea. Para ele, apesar da presença feminina na comunidade universitária, a busca pela igualdade de gênero continua.

“Apesar dos grandes avanços das últimas décadas, o preconceito contra as mulheres ainda não está superado. É importante retomarmos este debate como uma reflexão. Dentro da nossa comunidade universitária, nos deparamos com comportamentos inadmissíveis contra mulheres. Estamos lutando contra isso, junto à Organização das Nações Unidas, por meio de um programa para a qual fomos convidados. Isso nos motiva a cada dia a lutar pela igualdade de gênero e pelo empoderamento das mulheres”, diz.