Mostra na Pinacoteca revela o mundo lendário dos samurais

Objetos milenares, repletos de simbolismo, fazem parte do evento, inédito no Brasil e na América Latina

qui, 24/04/2008 - 16h32 | Do Portal do Governo

O Brasil recebe pela primeira vez os objetos do Tesouro Nacional japonês. A exposição O Florescer das Cores: A Arte do Período Edo (1603-1867), em cartaz até o dia 22 de junho, na Pinacoteca do Estado, revela o universo de uma era marcada por xoguns, samurais e isolamento do Japão.

Organizada pela Agência Cultural do Japão, com o apoio do Consulado-Geral japonês em São Paulo e da Fundação Japão, a exposição faz parte das comemorações do Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil (1908-2008). A mostra não apresenta somente espadas e armaduras. Quimonos, leques, objetos de adorno pessoais e domésticos também fazem parte do acervo do período Edo, considerado uma das épocas mais marcantes da história japonesa.

“Escolhemos essa era porque, apesar do isolamento quase completo do Japão, o país resgatou suas raízes e fez florescer várias manifestações artísticas como o teatro kabuki e nô”, explica Marcelo Mattos Araújo, diretor da Pinacoteca do Estado.

Durante três anos, a instituição negociou com o governo japonês a vinda da exposição. “Uma vez por ano, eu vinha para São Paulo acertar, com o senhor Araújo, os detalhes para trazer a mostra ao Brasil”, lembra Saito Takamasa, um dos principais especialistas em arte cerâmica da Agência Cultural do Japão.

O executivo conta que, desde 1951, foram realizadas diversas exposições sobre a cultura japonesa nos Estados Unidos, Canadá e Europa. No total, são mais de 50 mostras sobre o período Edo, mas esta é a primeira vez que um país da América Latina recebe os objetos que pertencem ao Tesouro Nacional do Japão.

A mostra apresenta 160 peças, provenientes de acervos de 18 museus e instituições daquele país. “Selecionamos aquelas que representam melhor o período tanto no campo político (xoguns e samurais) como no cotidiano (cerâmicas e indumentárias)”, frisa Araújo, ex-aluno bolsista no Japão.

A raridade das peças expostas exige controle rígido de qualidade. “Todas as salas são climatizadas com temperatura de 19,3ºC e umidade adequadas de 52%”, explica o diretor da Pinacoteca. Também serão desenvolvidas atividades educativas sobre a exposição e o período Edo. Todos os objetos são legendados em português e japonês para facilitar a compreensão dos visitantes estrangeiros, principalmente dos nipônicos. Além disso, a Pinacoteca preparou um belíssimo catálogo também em edição bilíngüe (português-japonês) com 380 páginas.

Estima-se que um número elevado de visitantes vá à Pinacoteca por causa das comemorações do Centenário da Imigração Japonesa e das peças que compõem o acervo. “Treinamos nossos monitores em história japonesa, todos estão preparados para a demanda que virá. É uma exposição histórica, que vale a pena ser visitada”, opina Araújo.  

A exposição 

A mostra está dividida em quatro módulos. No primeiro, pode-ser apreciados os quimonos e os ornamentos do corpo. As vestimentas japonesas são apresentadas em vários modelos: kosode, furisode e katabira. Nessas peças, a tecelagem, o tingimento e as ilustrações, geralmente, remetem à natureza.

Outra atração são as roupas do teatro kabuki, marcadas por cores fortes e brilhantes, e do teatro nô (máscaras e vestuários luxuosos). Acessórios como pentes, presilhas e ornamentos, confeccionados com diversos materiais e técnicas artesanais, completam essa parte da exposição.

Diferentes cerâmicas do período Edo são apresentadas nessa segunda seção. Há as peças coloridas por meio da técnica sometsuke de Imari, ponto de partida da produção de porcelanas do Japão; peças de kokutani, com design voltado para o mercado nacional; de Kakiemon, que influenciou a produção de porcelanas na Europa, sobretudo.

Há, ainda, cerâmicas do período Jomon (iniciado há 12,5 mil anos) ligadas ao cultivo de arroz. Nesse módulo, numerosas obras são consideradas “Importante Propriedade Cultural” do Japão.

Entre as peças trazidas para o evento, Takamasa tem predileção pelas cerâmicas produzidas por Nonomura Ninsei (considerado um dos ceramistas mais famosos daquele país) que viveu no século 17.