Metodologia auxilia no diagnóstico da mobilidade nas cidades

Trabalho foi desenvolvido por pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos, da USP

dom, 26/08/2007 - 18h01 | Do Portal do Governo

Uma metodologia desenvolvida por pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP permite identificar os problemas, as necessidades e as possíveis soluções ligadas à mobilidade das cidades, com a vantagem de fornecer aos vários setores envolvidos (governos estadual, municipal, federal, secretarias, etc) um diagnóstico que reflete com razoável precisão a realidade específica em cada uma dessas localidades. A mobilidade urbana sustentável é a possibilidade de acesso rápido e prático aos serviços que uma cidade oferece sem depender, necessariamente, do uso de algum meio de transporte motorizado.

“O diferencial da nossa metodologia é que são os técnicos locais de áreas ligadas à mobilidade que fornecem os elementos para a elaboração deste diagnóstico”, explica o orientador da pesquisa, o professor Antônio Nélson Rodrigues da Silva, do Departamento de Transportes da EESC. O trabalho de pesquisa, que vêm sendo desenvolvido pela aluna de doutorado Marcela da Silva Costa, foi premiado na 11ª Conferência Mundial de Pesquisa em Transporte, realizada no último mês de junho na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos.

A metodologia foi aplicada por meio de uma oficina em um dos módulos do curso “Gestão Integrada da Mobilidade Urbana”, que faz parte do Programa Nacional de Capacitação da Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana (SEMOB), do Ministério das Cidades, e que tem por objetivo a capacitação técnica e gerencial dos agentes públicos responsáveis pela implantação das políticas locais na área. O curso tem 5 módulos no total e duração de 40 horas semanais. Cada oficina é realizada em 8 horas.

O projeto piloto foi feito em Recife, em maio de 2005. Trabalhou-se com um grupo de cerca de 40 profissionais da área de transportes e planejamento urbano de municípios da região metropolitana. O curso foi adaptado e, no ano seguinte, seguiu para Aracaju, Goiânia, Florianópolis, Porto Alegre, Maceió, Vitória, Palmas, Manaus, Belo Horizonte, Fortaleza e Brasília.

Workshop

Na oficina, os participantes listam os “conceitos”— os problemas e as possíveis soluções para o setor de mobilidade e apontam ainda alguma ação que poderia agravar o problema, como mais uma forma de melhor apreender as suas características. Na cidade de Vitória, por exemplo, a listagem chegou a ter 70 itens, entre eles Desgaste excessivo do pavimento / Adequar e manter pavimentação do sistema viário ao tráfego / Não realizar manutenção.

Esses conceitos são inseridos em uma planilha eletrônica e trabalhados por todos os participantes durante toda oficina até se chegar aos Pontos de Vista Fundamentais (PVFs). “São conceitos que refletem os objetivos estratégicos e os aspectos essenciais considerados pelos participantes”, esclarece o professor. Em Vitória, foram encontradas os PVFs Ausência de planejamento estratégico, Falta de prioridade para o transporte público, Políticas inadequadas para não-motorizável, Má fluidez do trânsito, Acessibilidade universal e Degradação do Meio Ambiente.

Na seqüência, são identificados ainda quais indicadores poderiam ser utilizados para monitorar ações que viessem a refletir as condições de cada um desses PVFs, seja no presente, seja após alguma alteração na sua condição original. No item Má fluidez do trânsito, por exemplo, alguns dos indicadores listados foram quilômetros de lentidão, velocidade média, nível de serviço, índice de quebras dos semáforos e acidentes.

Numa etapa posterior à oficina, quando já se parte para trabalhar no planejamento estratégico da mobilidade urbana, os PVFs são o elemento de partida, a partir dos quais são identificados Problemas, Metas, Ações, Variáveis Externas, Variáveis Intermediárias, Fontes de Financiamento, Indicadores, Impactos e o Quadro Institucional exigido para sua implantação. “Isso mostra aos vários setores um diagnóstico preciso da mobilidade em cada localidade em que a oficina for aplicada e aponta alguns caminhos para a solução do problema naquele contexto”, afirma o professor.

O método pode ser aplicado em qualquer cidade, desde que haja um profissional treinado para conduzir a oficina. Assim, qualquer um dos participantes das oficinas já realizadas com o apoio do Ministério das Cidades é um potencial multiplicador da iniciativa. Além disso, outros profissionais podem ser treinados especificamente com o propósito de atuar como facilitador nessas oficinas.

Valéria Dias

Da Agência USP

(I.P.)