Mercado Municipal abre suas portas para feira de artesanato

Sala, transformada em espaço cultural, abriga exposição com trabalhos feitos por artesãos vindos de diversas regiões do Estado

dom, 17/06/2007 - 10h20 | Do Portal do Governo

Quem tem o hábito de ir ao Mercado Municipal de São Paulo, conhecido popularmente como Mercadão, foi surpreendido por uma feira de artesanato no local. Em meio aos 291 boxes, um espaço foi reservado para receber a 1ª Feira de Artesanato e Cultura Raízes da Arte. Desde o mês passado, artesãos vindos de diversas partes do Estado expõem seus trabalhos numa grande sala, próxima à Rua E, no piso térreo. Hoje é o último dia de exposição.

Para organizá-la, os integrantes da Comissão do Raízes da Arte (projeto de Valorização e Qualificação do Produto Artesanal Paulistano), receberam o apoio da Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades (Sutaco), autarquia da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho, para a divulgação do evento e escolha dos expositores: “Temos aqui 26 artesãos, selecionados pela qualidade de suas obras e pela variedade da matéria-prima que utilizam para confeccioná-las. São trabalhos feitos em tear, madeira, vidro, cerâmica, palha, couro e pedras”, explica Cleide de Fátima Toledo, presidente da comissão.

Ela ressalta que o projeto Raízes da Arte tem o objetivo de organizar e inserir o trabalho do artesão no mercado: “Nossa proposta é resgatar o trabalho artesanal paulista. Queremos também nos organizar, de forma a nos fortalecer, pois estamos vivendo uma invasão de produtos vindos de fora, especificamente da China e dos países asiáticos, que acabam por desvalorizar não só a nossa cultura, mas o artesanato produzido por nós”.

Mercado externo – Durante 28 anos, Cleide trabalhou como artesã. Aprendeu com o marido a colher, tratar e trançar a palha e há 30 anos produz cestos, luminárias, peças para mobiliário e decoração. Seus trabalhos foram vendidos no Japão, na Europa e nos Estados Unidos. Cleide conta que a Sutaco ajudou na comercialização de suas peças, fornecendo notas fiscais, e também deu total apoio e orientação na hora de exportar: “A Sutaco me ajudou muito. Minhas peças passaram a ter visibilidade no mercado”, reconhece a artesã que há mais de 20 anos está cadastrada na autarquia.

A emissão de notas fiscais é um serviço oferecido pela Sutaco, destinado à venda, exposição e consignação de peças artesanais. Pode ser utilizado pelo artesão regularmente cadastrado, dentro do prazo de validade da carteira e da modalidade artesanal, especificada em cadastro, possibilitando a formalização de sua atividade comercial. As notas são emitidas e retiradas na própria superintendência, com data e horário agendados antecipadamente pelo interessado.

“Oferecemos toda a infra-estrutura para o artesão exportar, também auxiliamos na venda das peças aos lojistas e isso depende de nota fiscal. Temos buscado formais e locais para divulgarmos o trabalho produzido pelos artesãos, por meio de exposições, eventos culturais e mostras de arte. Também oferecemos cursos de qualificação”, enumera Valmir Madázio, superintendente da Sutaco.

Cooperação – Valmir informa que a superintendência está trabalhando para divulgar seu trabalho nos 640 municípios de São Paulo: “Temos 446 prefeituras conveniadas e 56 mil artesãos cadastrados no Estado. Recentemente, firmamos convênio com as cidades de Mirassol e Luiz Antônio. Estamos prestes a assinar mais dez novos termos de cooperação. Os prefeitos entram com a matéria-prima e o espaço, a Sutaco faz o resto”.

Ele explica que no município de Luiz Antônio – cidade próxima a Ribeirão Preto – é produzida grande quantidade de bagaço de cana e essa matéria-prima pode ser aproveitada na criação de peças artesanais: “Estamos discutindo com o prefeito a ida de um monitor da Sutaco para dar cursos para os artesãos de lá, com 40 horas de duração. No caso de Mirassol, onde se produz muita madeira, temos a intenção de enviar um instrutor para ministrar aulas de marchetaria (trabalho em madeira em que o artesão incrusta ou aplica desenhos feitos em madeira, marfim, metal e outros materiais, em cores variadas)”.

Valmir informa que a Sutaco trabalha para expandir o número de lojas nas estações do Metrô, sendo que a próxima será instalada na estação Barra Funda.

Outra iniciativa agendada para este ano será trazer a São Paulo a Feira de Artesanato Brasileiro: “Será realizada na segunda quinzena de novembro, no Anhembi. É mais uma oportunidade para os artistas divulgarem seus trabalhos, pois a exposição conta com a participação de profissionais vindos de diversas regiões do País. Desde 1993 não temos uma feira como essa em nosso Estado”, observa.

Reconhecimento – Nem todos os expositores presentes são cadastrados, mas se dizem interessados em se vincular à autarquia: “Quero me cadastrar quanto antes, pois a Sutaco nos ajuda com a emissão e de notas fiscais, e tenho interesse em participar dos eventos culturais patrocinados por ela”, diz o artista Célio Cota, especializado no entalhe em madeira e retrata, em suas peças, os casarões do barroco mineiro.

O interesse de Cota é compartilhado pelo artesão Rubens Domingos, que integra a ala dos antigos artesãos associados à Sutaco. Domingos diz que pretende expor nas feiras e exposições patrocinadas pela autarquia. Suas esculturas em madeira de lei foram premiadas em evento realizado pela Superintendência no Museu de Arte e Imagem, em 1990: “Recebi, na ocasião, um prêmio em dinheiro e uma placa em prata do governador Mario Covas”, recorda-se.

Novidade – Considerada pela maioria do público uma opção a mais de lazer na cidade de São Paulo, ainda que temporária, o novo espaço chamou a atenção de estudantes, turistas e freqüentadores usuais do Mercadão: “Estou achando um espetáculo. Aqui você vê o artista trabalhando e os produtos não são de carregação. Deveria existir mais locais como este para os profissionais mostrarem suas criações”, sugere a funcionária pública Rute do Prado.

Jaqueline Automani, de 10 anos, estudante da 5ª série do ensino fundamental do Sesi de Piracicaba, diz ter se surpreendido com a diversidade de peças expostas: “Gostei de tudo. Aqui tem peças que não encontro em minha cidade”, diz a menina.

Para animar o evento, os organizadores convidaram artistas de circo, de teatro, caricaturistas e músicos que se apresentaram no local: “Eles fizeram suas performances aqui. Tivemos apresentações de blues, violino, gaita, poesia, trupes de palhaços e fantoches. O público se mostrou muito receptivo. A programação continua até o encerramento, que é hoje”, informa Virgínia Teixeira da Silva, uma das integrantes da comissão, que há 40 anos trabalha com peças em couro. Atualmente, divide seu tempo como artesã e “oficineira” da Secretaria de Estado da Cultura.”

A realização da feira é um marco para nós. Conseguimos reunir, num único espaço, diversas formas de expressões culturais. Nossa idéia é realizar novos eventos com o objetivo de resgatar o verdadeiro artesão, que foi engolido por outras realidades e falta de organização. Daí a importância da Sutaco, que está ensinando a classe a se organizar novamente”, diz o moveleiro Renato de Paula, um dos integrantes da comissão.

Espaço ocioso – E o que pensam os comerciantes sobre a feira de artesanato? Roque Bruno Peta, proprietário de um boxe especializado em queijos e produtos derivados de lacticínios, responde: “O Mercadão era um brilhante não lapidado. Com a reforma feita pela prefeitura, em 2003, passou a atrair público diversificado. Hoje recebemos turistas, estudantes de arquitetura, de engenharia, de administração, economia, gastronomia e até profissionais da aviação comercial. Tínhamos certeza de que a abertura da sala seria um atrativo a mais para os milhares de visitantes que circulam por aqui”, diz o comerciante.

Para Wagner da Costa Borges, proprietário do Empório Borges, é uma boa opção de lazer para os paulistanos e uma oportunidade de mostrar ao público o artesanato brasileiro, inclusive aos turistas estrangeiros que visitam o local: “O espaço estava ocioso. A sala era utilizada como depósito de lixo. Temos outros locais que poderiam ser adaptados para promover eventos culturais dessa natureza”, sugere.

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Marilia Mestriner

Da Agência Imprensa Oficial

(J.H.)