Memória vem à tona na USP nos 75 anos da Revolução Constitucionalista

Para Zilda Iokoi, a Revolução de 1932 representa um conflito entre o poder local e o Estado Nacional Brasileiro

seg, 09/07/2007 - 13h37 | Do Portal do Governo

Nessa segunda-feira, 9, celebra-se os 75 anos do início da Revolução Constitucionalista de 1932, quando houve embate entre forças paulistas e federais devido à reivindicação de São Paulo para que o governo de Getúlio Vargas adotasse uma constituição. Passados três quartos de século, a Escola Politécnica (Poli) da USP e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) apresentam-se como importantes centros históricos: além de possuírem arquivo de documentos e objetos da época, foram atores significativos no desencadear dos fatos. O IPT, à época, era parte da Poli – denominado Laboratório de Estudos de Materiais (LEM) – e foi colocado à disposição da Força Pública, as tropas paulistas que enfrentaram as federais.

A Poli e o LEM participaram da Revolução produzindo e controlando a produção dos armamentos das tropas de São Paulo. Produzir armamentos foi uma solução à impossibilidade de importar, afirma Zilda Iokoi, professora do departamento de história da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Ela conta que os paulistas estavam isolados fisicamente (por conta das frentes de luta ao norte, ao sul e ao leste do Estado) e politicamente (outros estados não aderiram à luta), levando as diversas indústrias do Estado a se adaptarem para produzir material bélico.

“A Poli projetava as armas e verificava a produção para garantir a qualidade e segurança dos materiais”, explica Miguel Seguel, engenheiro aposentado que, durante a revolução, foi responsável direto pelo controle de qualidade das munições produzidas em de São Paulo. Ele explica que as principais contribuições da Poli foram a produção das granadas de mão (fundidas em indústrias e montadas no LEM), os ensaios com blindagem para trens e a verificação das munições.

O conflito Para Zilda Iokoi, a Revolução de 1932 representa um conflito entre o poder local e o Estado Nacional Brasileiro. “Foi a expressão dos civis que queriam retomar o poder, sob justificativa de que o Brasil não podia prosseguir sem uma Constituição”, diz, explicando que a Revolução de 1930 revogava a constituição de 1891, a primeira do Brasil republicano.

Vargas instaurou um governo autoritário, submetido aos interesses do tenentismo – movimento militar que contestava o poder das oligarquias no início do século XX. “A burguesia liberal iniciou a guerra civil contra essa situação”, conclui a docente.

Apesar do poder econômico, os paulistas sabiam que tinham poucas chances de vitória. Miguel Seguel, hoje com 98 anos, lembra o despreparo das tropas: “havia muitos jovens, crianças na frente de batalha. Os engenheiros precisavam ir para o front ensinar como usar os armamentos e acabavam se machucando e morrendo”. Para Seguel, a Revolução foi um grande erro. “Havia mais interesses particulares de forçar um levante contra Getúlio do que ideais políticos”, diz o engenheiro, lembrando-se que a elite que mantinha o poder com a política do “café-com-leite” ainda se ressentia com o golpe que levou Getúlio Vargas à presidência em 1930.

Da USP Online