Medicina: Estimulação elétrica alivia a dor no período pós-operatório

Estudo foi realizado na USP de Ribeirão Preto com 60 mulheres submetidas à cirurgia de laqueadura tubária

qua, 09/08/2006 - 18h31 | Do Portal do Governo

Um estudo realizado na USP de Ribeirão Preto com 60 mulheres submetidas à cirurgia de laqueadura tubária comprovou que o uso de estimulação por meio de corrente elétrica reduz a dor no período pós-operatório. O grupo de pacientes que, além dos analgésicos de rotina, recebeu a Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS, na sigla em inglês), teve uma redução significativa da dor quando comparado àqueles que receberam apenas uma simulação da técnica (placebo).

A TENS, além de útil como recurso terapêutico complementar, também pode ser uma alternativa para as pessoas alérgicas a alguns tipos de analgésicos ou que têm problemas na absorção desses fármacos, como ocorre em casos de insuficiência hepática.

Na pesquisa, o grupo de 60 mulheres foi dividido em três de 20. Um deles recebeu a simulação da técnica. Os outros dois foram submetidos à TENS durante meia hora, sendo que um a recebeu em alta freqüência (100 Hertz/Hz) e o outro, em baixa freqüência (4Hz). Todas as pacientes receberam também os analgésicos convencionais.

A fisioterapeuta Josimari Melo de Santana, autora da pesquisa, explica que numa escala de 0 a 10 (sendo 10 a dor mais forte possível), as mulheres que receberam a TENS em baixa freqüência avaliaram sua dor numa média de 4,3, e em alta freqüência, 4,65. Para aquelas que receberam apenas a simulação da corrente, a média foi de 7,0 pontos.

Além disso, o uso de estimulação elétrica diminuiu o tempo que as mulheres permaneceram na sala de recuperação pós-anestésica (para onde vão os pacientes logo após a cirurgia). Isso significa que elas se recuperaram mais rapidamente das fortes dores que acompanham o período pós-cirúrgico.

Josimari também consultou as mulheres sobre a sensação que tiveram com o uso da técnica. “Cerca de 95% das pacientes que receberam a aplicação de TENS relataram que ficaram confortáveis, tanto durante quanto após a aplicação. E praticamente todas manifestaram desejo de usar a TENS novamente, caso viessem a passar por uma nova cirurgia.”

A pesquisadora conta que, em cirurgias de laqueadura, as pacientes costumam relatar muita dor no pós-operatório. “É uma dor muito intensa, do tipo cólica. Mesmo tomando todas as doses seguras de analgésicos, ela ainda persiste.” Estudos do grupo de pesquisa de Josimari, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, mostraram que a técnica é bem sucedida também em outros tipos de cirurgia, como de vesícula e hérnia inguinal.

Mecanismo de ação

A TENS é aplicada por meio de um aparelho ligado à eletricidade e que permite a regulagem de parâmetros como freqüência e intensidade. Os estímulos elétricos chegam ao organismo por meio de eletrodos colocados na pele do paciente. Dependendo da intensidade, o paciente pode ter uma sensação de formigamento ou de contração muscular. No estudo de Josimari, os eletrodos foram colocados na região abdominal baixa. Por precaução, é recomendável que gestantes e portadores de marcapasso evitem o uso da TENS.

Segundo a fisioterapeuta, alguns estudos recentes, realizados principalmente nos Estados Unidos, têm mostrado que os sinais elétricos agem sobre certos receptores, que permitem a “entrada” de estímulos nas células, diminuindo a dor. “São os mesmos receptores que possibilitam os efeitos dos fármacos analgésicos.” Os aparelhos para aplicação da TENS são comuns em clínicas e hospitais para uso fisioterapêutico. Entretanto, ainda não há a “cultura” de se empregar a técnica no período pós-cirúrgico.

Josimari, que defende seu doutorado em novembro na FMRP, apresentou os resultados de sua pesquisa na 25ª Reunião Científica Anual da Sociedade Americana de Dor, realizada em maio deste ano no Texas (EUA). No ano que vem, ela irá para a Universidade de Iowa, também nos Estados Unidos, onde dará continuidade aos estudos sobre a TENS num pós-doutorado.

Flávia Souza

Agência USP