A Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da Universidade de São Paulo (USP), começa a utilizar o keypad, equipamento semelhante a um controle remoto, para respostas individuais instantâneas em avaliações. A novidade já está em uso no curso sobre Aparelho Digestivo, oferecido pelos Departamentos de Cirurgia e Anatomia, Clínica Médica e Pediatria aos alunos do 3º ano de Medicina.
Dividido em aulas para pequenos grupos, com seis ou 12 alunos, o programa da disciplina contempla casos clínico-cirúrgicos atendidos nos ambulatórios, enfermarias, centro cirúrgico e centros de diagnósticos por exames funcionais e de imagem, e envolve a participação, além dos professores, de médicos assistentes e residentes do Hospital das Clínicas da FMRP, campus e Unidade de Emergência, e do Hospital Estadual. “Esse curso não prevê aula teórica e uma das formas de avaliação é a realização de prova interativa feita com base em casos clínicos estruturados com usos de recursos audiovisuais, que abordam o processo de investigação e do tratamento, bem como aspectos da ética e da qualidade desse tratamento”, diz o responsável pelo curso, José Sebastião dos Santos.
Por meio do Keypad há uma avaliação individual e a cada dois minutos, tempo para solução de cada caso, faz-se a devolutiva do desempenho coletivo seguido dos comentários sobre a solução do caso. Para a resposta da questão apresentada cada aluno tem 30 segundos, tempo definido pelo software. “O interessante é que além do conhecimento sobre o assunto até o desempenho profissional sob o ponto de vista ético é avaliado”, diz o professor.
“A socialização dessa modalidade de prova tem contribuído para a ampliação espontânea da presença dos estudantes nos diferentes cenários assistenciais, maior interação com os doentes e a apresentação de demandas desses pacientes, até então não percebidas pelos médicos que os assistem”, acrescenta Santos. Num país onde avaliação assusta e até afasta da escola a maioria dos estudantes, a boa recepção dos alunos do curso de Medicina da FMRP surpreendeu.”O feedback é instantâneo.”
Operacionalização
Segundo Santos, a operacionalização desse tipo de curso é muito trabalhosa. Ele diz que seria mais fácil reunir os 50 estudantes e dar as aulas dentro da estrutura convencional. Entretanto, na forma atualmente prevista, quase tutorial, podem ser identificadas as necessidades e as dificuldades de cada estudante e discutidos os valores que estão sendo empregados na condição real de atenção à saúde. “Além da formação técnica, ética, abordamos aspectos da organização do sistema de saúde e da sociedade como um todo. Esse é um esforço para melhorar a formação social e política dos nossos estudantes”, conclui o professor.
A avaliação pode ser feita de várias maneiras, segundo o analista de sistemas da FMRP, Leandro Barbosa Cerantola. Desde projeção da questão, por meio de slides, datashow, vídeo, até a forma tradicional, com distribuição da prova em papel. Entretanto, as respostas são dadas nos aparelhos. “Em qualquer uma dessas situações, a partir da exposição da questão, o aluno tem 30 segundos para dar a resposta e o software comporta respostas para até quatro provas diferentes ao mesmo tempo.”
Os keypads são muito difundidos e utilizados em países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália e Nova Zelândia e em diversos países da Europa, segundo a professora Penélope Ann Hansen, especialista em educação do Memorial University of New Foundland, St John’s, Canadá, estudiosa na utilização dos keypad, que ela chama de clickers. No início do ano, a FMRP adquiriu 90 desses aparelhos, que interagem com uma plataforma de softwares. No pacote, também foram adquiridas licenças para utilizar quatro tipos de softwares dessa plataforma: para eleições da Congregação da Unidade, na aplicação de provas de múltipla escolha, em pesquisas interativas e para o que eles chamam de prova de julgamento, que é a avaliação de disciplinas.
Da USP
