MCB abre exposição “A cidade e suas margens”, de Elisa Bracher

Abertura: 27 de setembro, das 11h às 13h. Visitação: 28 de setembro a 16 de novembro

sex, 26/09/2008 - 18h14 | Do Portal do Governo

O Museu da Casa Brasileira, da Secretaria da Cultura, abre neste sábado, 27, a exposição A cidade e suas margens, que marca a estréia da artista plástica Elisa Bracher em fotografia. Com curadoria de Rodrigo Naves e da própria artista, a mostra reúne cerca de 70 imagens de moradias da Favela da Linha, em São Paulo, e de cidades do Nordeste, onde nasceram alguns de seus moradores.

Feitas em 2007, as fotos têm um cunho antropológico e social, resultado de uma documentação comparativa de questões estéticas e estruturais evidenciadas por meio das precárias construções. As imagens foram ampliadas para o formato 100 X 70 cm e impressas com pigmentos minerais sobre papel artesanal sem brilho, feito de algodão. Também estará em exibição um DVD (28:33) que documenta a visita de Elisa Bracher às famílias dos moradores da Favela da Linha em 16 localidades do Nordeste. A mostra ocupará as cinco salas de exposições temporárias do MCB.

“Ao apresentar este olhar da artista sobre a realidade das construções da Favela da Linha em comparação com as casas das cidades de origem dos seus habitantes, queremos tratar das condições de moradia na metrópole e a referência de habitação original destas famílias”, diz Giancarlo Latorraca, diretor Técnico do MCB. “Não se trata de fazer apologia à estética da pobreza e sim de refletir sobre as condições improvisadas de habitação na metrópole, que embora precárias e feitas com resíduos e materiais industrializados disponíveis, revelam inventividade expressiva de soluções”.

A história – Durante os últimos cinco anos, Elisa Bracher manteve um vínculo intenso com os moradores da Favela da Linha, localizada no entorno do Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), no bairro Vila Leopoldina, em São Paulo. Esse contato foi iniciado pela proximidade entre a comunidade e seu atelier, que passou a chamar a atenção dos habitantes da região. Assim foi criado o Ateliê Acaia, um espaço de convivência e atividades que, através do ensino da arte, auxilia crianças e jovens que vivem no local e suas famílias.

Devido ao crescente desenvolvimento imobiliário do bairro, os moradores da Favela da Linha, que ocupam o espaço há cerca de 40 anos, passaram a sofrer grande pressão das construtoras e da administração pública para deixarem o local. Nesse contexto, a artista realizou um levantamento fotográfico das casas para comprovar a quantidade de famílias residentes, como parte de um movimento por melhores condições de habitação.

O curador Rodrigo Naves diz que a exposição nasceu quase ao acaso. “O registro visava documentar a situação das moradias, mas enquanto observava as imagens, Elisa se deu conta do aspecto revelador das fotos e das possibilidades que abriam para o seu trabalho”, conta ele.

Favela da Linha, em São Paulo – O conhecimento profundo da artista sobre a técnica da gravura conferiu às fotografias uma aparência muito próxima às impressões gráficas, que ultrapassam meros registros documentais. O resultado é uma obra sensível, que permite extrair uma leitura das vivências, emoções e da sociabilidade dos indivíduos, mesmo sem que nenhum deles apareça nas imagens.

Além disso, a mostra traz um olhar incomum sobre as favelas, que normalmente são vistas como redutos de pobreza onde reina a homogeneidade de construções. Trilhando o caminho contrário, Elisa Bracher buscou registrar momentos em que a comunidade revela suas singularidades, exprimindo a criatividade de seus moradores nas formas e cores das casas e barracos.

O estudo realizado na Favela da Linha deu origem a um segundo ensaio fotográfico, feito meses depois, em sete estados do Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Fortaleza, Paraíba, Pernambuco e Piauí. Elisa partiu em busca da origem de alguns dos migrantes que habitam a comunidade, registrando suas moradias da mesma maneira. O resultado obtido, no entanto, é completamente diferente. As casas são mais íntegras e menos amontoadas, o que permite enquadramentos mais amplos e a revelação de lugares, e mesmo de paisagens.

A terra natal – Comparando as duas séries, o curador Rodrigo Naves identifica um desdobramento do trabalho. “À fragmentação, precariedade e materialidade excessiva das moradias da Favela da Linha não subsiste nada que lhes dê guarida e amparo cultural”, diz ele. “Alheia a qualquer pretensão de erudição ou culturalismo, Elisa pôde ver com mais realismo como a unidade de nossa vida social se faz fundamentalmente de relações ásperas e descontínuas”.

A artista – Elisa Bracher (43) é escultora, gravadora e desenhista. Formou-se em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), onde, desde 1989, passou a lecionar desenho e gravura. Conhecida por suas esculturas de grandes dimensões em madeira, metal e pedra, a artista despontou inicialmente como gravadora, em meados da década de oitenta. Desde então, sua produção de gravuras mantém um diálogo constante com seu trabalho escultórico.

Seus trabalhos estão expostos em diferentes locais públicos, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, a Fundação Cultural de Curitiba, o Museu Nacional de Belo Horizonte, o Museu de Arte Moderna de Salvador e do Rio de Janeiro, e o Essex University Museum, na Inglaterra. Elisa Bracher é representada pelo Gabinete de Arte Raquel Arnaud desde 2003. Pela galeria, realizou exposições individuais em 2003 e em 2006 e integrou a coletiva ‘Olhar Seletivo’, em 2007.

Serviço

Exposição: “A cidade e suas margens”
Abertura: 27 de setembro, das 11h às 13h – Entrada gratuita
Visitação: de 28 de setembro a 16 de novembro, de terça a domingo, das 10h às 18h
Local: Museu da Casa Brasileira – Av. Faria Lima, 2705 – Tel. 11 3032-3727  
Jardim Paulistano São Paulo
Ingresso: R$ 4,00 – Estudantes: R$ 2,00 – Domingo gratuito
Acesso a portadores de deficiência física.
Estacionamento: R$ 10,00 no dia da abertura; de terça a sábado até 2 horas R$ 6,00; 3ª hora R$ 2,00; demais horas R$ 1,00 Domingo: preço único R$ 10,00
www.mcb.sp.gov.br  

Do Museu da Casa Brasileira