Mapa da Arte muda cara da periferia paulista

Intervenções deram a imagens de fachadas de casas pintadas e decoradas pelos moradores

qui, 25/12/2008 - 13h16 | Do Portal do Governo

Por seis meses, moradores dos núcleos Lamartine e Dominicanos, em Santo André, passaram horas imersos na arte planejando um projeto para mudar a fachada de suas casas, que seriam pintadas e decoradas pelo grupo. Nesse período, foram orientados por Mônica Nador,  artista plástica, jovens do Jardim Mídiam (Jamac) e artistas da ONG Ação Educativa.

As comunidades, que já haviam recebido obras de urbanização, entraram decididas na experiência, e a transformação apareceu rapidamente. A iniciativa do governo do Estado, por meio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), em parceria com o Jamac e a ONG Ação Educativa, resultou no Mapa da Arte, publicação que reúne várias imagens das casas da CDHU antes e depois do trabalho feito com estêncil pelos moradores.

Para chegar a esse resultado, a artista plástica Mônica ensinou técnicas de pintura na oficina montada no bairro. Ela já fez intervenções urbanas em México, Japão, França, Estados Unidos e Austrália. Os moradores aprenderam a utilizar estêncil, grafite e mosaico, e a debater conceitos e técnicas de pintura e arte urbana. O grupo também produziu máscaras e moldes. “Sempre peço desenhos que remetam à realidade deles, coisas com as quais as pessoas tenham relação afetiva agradável”.

Tudo beleza – Um bom exemplo é a dona Francisquinha, de 84 anos, que se baseou em desenhos da renda para enfeitar a fachada da sua casa. “Fui eu mesma que desenhei”, conta, orgulhosa, ao lembrar, ao mesmo tempo, da época em que chegou ao bairro e que sua casa era só um barracão de madeirite, substituído, mais tarde, por tijolos. “Hoje está tudo uma beleza, com mais vida, de tão vistosa chama a atenção das pessoas que passam na rua”.

Foi um período intenso, de grandes descobertas tanto para artistas como para moradores, garante Mônica. Compreendeu oficinas por parte da Ação Educativa com jovens da comunidade, e produção artística diferenciada, na qual se incluem o reboco e a pintura de toda a área externa das moradias, a cargo do Jamac.

Viviane Frost, superintendente de ações de Recuperação da CDHU, conta que o trabalho social de urbanização em favelas é bem mais amplo e engloba todas as necessidades para transformar esses núcleos em um bairro. Abrange segurança, lazer, escolas, saúde e saneamento básico. A iniciativa, chamada São Paulo de Cara Nova, é mais um programa do governo do Estado de São Paulo, e tem a finalidade de promover a recuperação das moradias em áreas urbanizadas.

Bonitas fora e dentro – “A proposta é realizar parcerias com urbanistas e artistas para atuarem nos bairros recuperados, de acordo com o perfil de cada comunidade”. Isso já foi feito em outros locais, lembra Frost, como na Favela Pantanal, no bairro de São Miguel, beneficiando oito mil famílias. Lá a intervenção ficou por conta do artista Rui Ohtake. Para Viviane, são ações que não só levam à outra, como a formação de agentes comunitários ou de jovens artistas, como elevam a auto-estima dos moradores que constroem, assim, sua autonomia, além de criar vínculo positivo com o bairro. “Quando a gente começa a investir no exterior, o pessoal se sente motivado a melhorar o interior de suas casas, troca o piso, aumenta o espaço, constrói muros, coloca portões, pinta as paredes, enfim, leva a arte para dentro de casa”.

Foi o que fez o metalúrgico aposentado Jaime Silvestre, residente no Jardim Santo André. Muita gente sabe que naquela casa colorida de verde, com tigres pintados em tom sobre tom, mora uma espécie de desbravador, que ali aportou há 22 anos, sozinho, trazendo os cinco filhos a tiracolo. E depois trouxe a mãe, a irmã e muitos amigos, hoje seus vizinhos. Já naquele comecinho, Jaime era engajado. Juntou meia dúzia deles e criou uma associação que funcionava na própria casa, na época um barraco de madeira. Virou um porto seguro, onde se debatia e se reivindicava tudo.

Contas de água e luz (bem mais tarde conseguiram instalar três orelhões) eram entregues na casa do seu Jaime. Atuação que lhe rendeu diplomas e mais diplomas, o mais recente de agente comunitário de urbanização, curso no qual aprendeu a identificar problemas, propor soluções e envolver os moradores no processo de urbanização do bairro. “Quando soube que nossas casas teriam fachadas novas, de grife, espalhei a notícia”.

A poucos metros de Jaime, Eunice Gomes da Silva apresenta a casa, com desenhos de coqueiros, flores e anjos (“idéia de uma das minhas filhas, Aline, que gosta de desenhar e se apaixonou pelo projeto”). Aliás, a família inteira deu palpite, desde o marido Divino, pedreiro, até os outros filhos. Para o adolescente Fernando Henrique da Silva Mendes, uma descoberta enriquecedora. “Depois que vi meus desenhos prontos, todo mundo elogiando, fiquei superfeliz. O bairro ficou mais bonito”.

Maria das Graças Leocádio

Da Agência Imprensa Oficial