Mães que fumam durante a gravidez podem provocar crises de cefaleia nos filhos

Tabagismo materno durante a gravidez consequências negativas para as crianças

sex, 30/10/2009 - 20h00 | Do Portal do Governo

A cefaleia crônica nas crianças em idade escolar, caracterizada por episódios repetidos de dor de cabeça, está associada ao tabagismo materno durante a gestação. Essa é a conclusão da pesquisa de doutorado do enfermeiro Carlos Eduardo Fabbri, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da Universidade de São Paulo (USP). Os resultados do estudo reforçam evidências científicas já descritas na literatura. Elas indicam que o tabagismo materno durante a gravidez envolve consequências negativas à criança ao longo da vida. 

A descoberta é que a cefaleia crônica é uma delas. “Nenhuma pesquisa epidemiológica ou clínica confirmava esta hipótese até hoje”, assegura o professor Manoel Romeu Gutierrez, coorientador da pesquisa. Para Fabbri, além dos resultados oferecerem mais subsídios para conscientizar as mães sobre os perigos do fumo para o feto durante a gestação, abre perspectivas para os neuropediatras investirem neste campo de pesquisa. “Pode estar aí a explicação para a grande maioria das cefaleias que aparecem nos ambulatórios e que ninguém sabe exatamente a causa”. 

O estudo foi realizado em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, com crianças de 9 a 11 anos, e em São Luís, no Maranhão, com crianças de 7 a 8 anos. Fabbri conta que a escolha das cidades deve-se a diferenças no Índice de Desenvolvimento Humano municipal (IDHm) de ambas. Ribeirão Preto têm o IDHm maior em relação a São Luís. 

Gestação 

O pesquisador acompanhou as crianças de Ribeirão Preto em 2004 e as de São Luís, dois anos depois, e comparou as informações com os resultados de uma pesquisa anterior, realizada respectivamente em 1994 e 1996, pelo professor Marco Antonio Barbieri, da FMRP. Participaram do estudo 1.629 crianças. Em Ribeirão Preto, 43% dos filhos cujas mães fumaram mais de dez cigarros por dia durante a gravidez relataram cefaleia crônica (dois ou mais episódios por semana, sem diagnóstico de doença ou causa aparente que justificasse a dor de cabeça). 

Para diferenciar a dor de cabeça comum, o trabalho considerou a ocorrência de duas ou mais queixas, num intervalo de 15 dias, seguindo critérios de classificação da doença, descritos pela Sociedade Internacional de Cefaleia. De acordo com os pesquisadores, existem evidências de que a nicotina é a mais potente entre os neuroteratógenos (substâncias que levam à má formação do sistema nervoso central do embrião). 

Fabbri explica que as substâncias químicas que a gestante absorve pelo consumo de cigarros atravessam a barreira placentária, interferem e prejudicam os processos de formação do túbulo neural (estrutura do sistema nervoso central) do feto no primeiro trimestre de gestação. “Tal procedimento leva a alterações da neuroplasticidade (funcionamento do sistema nervoso central) durante a vida da criança e na idade escolar, o que pode estar relacionado ao desenvolvimento da dor de cabeça crônica na criança”. 

Como o cigarro é ainda mais prejudicial nos três primeiros meses de gestação, fase principal da formação neurológica do feto, Fabbri diz que é muito comum, nessa fase, a mulher ainda não saber que está grávida e continuar fumando. A medicina já descobriu outros malefícios aos filhos de fumantes: “A criança pode ter dificuldades de atenção e de aprendizado na escola e ser hiperativa, mais estressada. Devemos considerar que a cefaleia da criança é uma antecipação da cefaleia do adulto. No futuro, isso refletirá sensivelmente sobre o desempenho profissional do adulto e comprometerá sua qualidade de vida permanentemente”. O trabalho será publicado em revista científica e apresentado no Congresso de Pediatria no Chile, de 19 a 22 de novembro. 

Da Agência Imprensa Oficial