Linguista da Unesp desvenda idioma do povo Juruna, no Xingu

Estudiosa propôs aos índios um sistema que lhes permitisse ler e escrever em sua própria língua

ter, 19/04/2011 - 16h00 | Do Portal do Governo

Quando a linguista Cristina Fargetti viajou pela primeira vez ao Parque Indígena do Xingu para conhecer os índios Juruna, foi recebida com entusiasmo. Era fim dos anos 1980 e, como outros povos do Xingu à época, os Juruna se ressentiam da falta de um domínio maior da língua portuguesa para melhor relacionamento com a sociedade não indígena.

A carência de mão-de-obra capacitada era grande, por isso o chefe da comunidade saudou pessoalmente a chegada daquela que, acreditava, estava ali para ensiná-los. Paradoxalmente, porém, Cristina tinha ido até o parque para aprender com eles; era uma jovem mestranda e ambicionava dar início ao campo dos estudos científicos da língua juruna.

Àquele contato inicial seguiram-se duas décadas de pesquisa abrangente. Em seus estudos de mestrado e doutorado na Unicamp, Cristina mapeou os sons da língua, registrou e classificou suas palavras, comparou as diferentes maneiras pelas quais elas se formam e ganham sentido e descreveu a sintaxe que estrutura as frases. Desse modo, não se ateve a descrever e analisar o idioma, mas propôs aos índios um sistema que lhes permitisse ler e escrever em sua própria língua.

O trabalho possibilitou que as escolas, destinadas inicialmente ao aprendizado de um idioma “estrangeiro” – o português -, se tornassem pontos de transmissão da língua e da cultura nativas. Cristina acompanhou o desenvolvimento dessa escrita recém-nascida, editando as primeiras publicações produzidas em juruna e divulgando o trabalho dos professores. Seu trabalho veio para a Unesp em 2007, quando se tornou professora do Departamento de Linguística da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara.

A abrangência de sua pesquisa está parcialmente registrada em seu mais recente projeto, intitulado “Para um inventário da língua juruna”. Concluído no final de 2010, tem como peça principal um relatório que registra algumas características linguísticas, culturais e demográficas daquele povo, complementadas por gravações de vídeo legendadas feitas com falantes da língua.

O inventário, feito com financiamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), é uma ação preparatória para o Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), uma ambiciosa iniciativa que pretende registrar, nos próximos anos as 210 línguas que se estima serem faladas no Brasil hoje por povos indígenas, quilombolas e descendentes de imigrantes. “O governo começou a valorizar a diversidade linguística do país. Com a iniciativa, essas línguas poderão ser objeto de políticas de preservação”, explica Cristina.

Veja a íntegra da reportagem publicada na edição de abril da revista Unesp Ciência.

Da Unesp