Lembo anuncia produção em larga escala de substância que pode salvar bebês com problemas pulmonares

Produção de surfactante pulmonar subirá de cerca de 4.000 doses por ano para 200 mil anuais e custo será reduzido em 50%

qui, 23/02/2006 - 15h14 | Do Portal do Governo

São Paulo vai produzir em larga escala o surfactante pulmonar, substância extraída de pulmões de suínos que pode salvar a vida de recém-nascidos com Síndrome de Desconforto Pulmonar. O anúncio foi feito pelo governador em exercício Cláudio Lembo, durante visita ao Instituto Butantan nesta quinta-feira, dia 23, data em que a instituição comemora 105 anos. “Hoje, o surfactante é importado da Europa e o custo é muito elevado. Nós vamos produzir aqui, com preço mais baixo e distribuição para todo o Brasil”, afirmou o governador em exercício.

Lembo também destacou que a fábrica de vacina contra a gripe, em construção no Instituto, começa a funcionar este ano. Parte do espaço destinado à fabrica está sendo adaptado para produzir 20 mil doses de vacina contra a gripe aviária.

Surfactante pulmonar: 200 mil doses por ano

Um acordo entre o Butantan e o Instituto Sadia de Sustentabilidade (pertencente ao grupo Sadia) vai permitir que a produção de surfactante pulmonar salte das atuais 4.000 doses por ano para 200 mil doses anuais. Atualmente, para suprir as necessidades da substância, o Brasil importa o surfactante pulmonar da Dinamarca. Lembo destacou o alto custo do medicamento no país. A dose custa hoje R$ 700. 

O secretário estadual da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata informou que com a produção em larga escala no Instituto, o preço deve ser reduzido em 50%, com a dose saindo a R$ 350.

Barradas explicou que o surfactante é produzido pelo organismo da criança para impedir que o alvéolo pulmonar se cole e a impeça de respirar. “Mas para que o organismo da criança possa produzir o surfactante, ela precisa nascer com mais de oito meses de gestação. Crianças com menos de oito meses não conseguem produzir essa membrana. Nesse caso, o pulmão não abre, a criança não consegue respirar e morre”, detalhou. Ele informou que as crianças que não conseguem produzir a substância precisam receber doses por alguns dias, dependendo do grau de maturidade do pulmão.

O secretário destacou que a insuficiência respiratória é uma das principais causas de mortalidade de crianças com até 28 dias de vida. 

O medicamento é fabricado a partir de pulmões de suínos doados pela Sadia. Pelo acordo, a empresa vai se encarregar da primeira fase do processo, que é a extração do surfactante, a partir de uma tecnologia de extração desenvolvida pelo Butantan. As duas outras etapas da produção, purificação e liofilização, ficam a critério do Instituto. 

Inicialmente, toda a produção do Butantan serão destinada ao Ministério da Saúde, que também assina acordo nesta quinta-feira com o Instituto, para distribuição gratuita do produto às maternidades de todo o país.

De acordo com estimativas do Ministério, anualmente, cerca de 40 mil bebês podem adquirir a Síndrome do Desconforto Pulmonar, ou seja, quando o pulmão não está completamente desenvolvido. O problema afeta aproximadamente 20% dos prematuros. O medicamento será suficiente para atender toda a demanda do país. 

O Ministério prevê que a ampliação do acesso ao medicamento vai permitir que se discuta o uso profilático e terapêutico em outras patologias, como pneumonias graves.

Fábrica de vacina contra a gripe aviária

A fábrica de vacinas contra gripe aviária que está sendo montada no Instituto Butantan recebeu recentemente da Organização Mundial de Saúde (OMS) cepa do vírus causador da doença, o H5N1, para desenvolver o produto. Ela vai funcionar dentro de um pequeno espaço da nova fábrica de vacina contra a gripe (comum) que será colocada em funcionamento este ano.

São Paulo deverá ser o primeiro Estado da América Latina a produzir vacina contra gripe aviária para seres humanos. Com produção de 20 mil doses, suficiente para imunizar quem tiver contato com pessoas contaminadas em outros países, São Paulo fará parte de uma força-tarefa mundial contra a gripe aviária.

Além disso, o início das atividades da fábrica de vacina contra a gripe (comum), tornará o Brasil auto-suficiente na produção desse medicamento. A expectativa é fabricar cerca de 40 milhões de doses por ano. Atualmente a vacina é importada da França e apenas envasada no Instituto. Com a produção paulista de vacinas a expectativa é que o país economize cerca de R$ 100 milhões por ano na compra das vacinas, já que a do Butantan será mais barata que a européia.

O investimento do Governo do Estado para colocar em funcionamento a fábrica de vacinas do Instituto Butantan é de R$ 19 milhões. O Ministério da Saúde investirá outros R$ 30 milhões para aquisição de equipamentos de última geração.

Cíntia Cury