Jovens da Casa exibem seu talento musical na capital e Interior

Foram quatro shows apresentados pelos internos da Fundação que participam do Projeto Guri

ter, 11/11/2008 - 10h33 | Do Portal do Governo

Aproximadamente 300 adolescentes participaram da 2ª Mostra Regional de Música da Fundação Casa. Eles são internos que cumprem medida socioeducativa em unidades da instituição, onde freqüentam curso de música patrocinado pelo Projeto Guri. Foram quatro apresentações: duas no interior (Ribeirão Preto e Marília) e duas na capital, no Auditório Simon Bolívar, do Memorial da América Latina.

Christian Alves da Silva, da gerência de arte e cultura da Casa, e organizador da apresentação, informa que a Secretaria Estadual da Cultura, por meio do Projeto Guri, cede toda a infra-estrutura necessária para estimular o talento no jovem. Fornece instrumentos musicais (de cordas e percussão), métodos, apostilas, partituras e professores.

A parceria entre Casa e Projeto Guri iniciou-se em 1996. Hoje, 55 unidades da Fundação contam com a iniciativa. O repertório ensinado e praticado nos locais, explica Christian, é basicamente música popular brasileira e folclore, com direcionamento para formação de bandas. Os destaques ficam para violão, cavaquinho, coral e instrumentos de percussão – surdo, caixa, reco-reco, tamborim, pandeiro.

Na terça-feira passada, compareceram ao Memorial da América Latina 130 garotos de sete unidades da Fundação Casa. No dia seguinte, foram 200 meninos e meninas de oito locais. “Cada grupo se apresenta para os demais, com o objetivo de formar intercâmbio de experiências musicais entre eles”, informa Christian. As equipes são formadas geralmente por 10 a 15 jovens, dependendo do número de alunos que freqüentam o curso ou do estilo musical adotado por eles. Na Mostra Regional, cada grupo apresentou de uma a três peças musicais.

Pólos do Guri – Christian conta que nas unidades intensivas provisórias (UPIs) existe rotatividade de alunos no Projeto Guri, pois eles voltam logo para casa. Já nas de internação, onde a permanência é maior, o tempo mínimo do aprendizado musical é de três meses. “A gente sabe, também, que há muitos jovens que deixam a Fundação e continuam no Projeto Guri mais próximo de sua casa”, salienta Christian. Ele conta que houve casos em que o jovem músico saiu da unidade, se aperfeiçoou no pólo Guri de seu bairro, e mais tarde retornou à Fundação como professor.

Entre os representantes da Secretaria da Cultura nas apresentações do Memorial estava Carmem Borba, gerente da área educacional do Projeto Guri. Ela informa que foram implantados cerca de 380 pólos do Projeto Guri no Estado de São Paulo, sem contar os da Fundação Casa.

Geralmente, o espaço funciona em prédios públicos cedidos pelas prefeituras, como bibliotecas, escolas, teatros, museus e às vezes em sedes de entidades sociais. No local, o jovem tem acesso a instrumentos, professores e material de ensino. Dependendo do número de alunos, o pólo forma grupos musicais pequenos ou grandes, como as bandas. Até hoje, afirma Carmem Borba, o Guri atendeu 40 mil jovens de até 19 anos.

Familiares prestigiam garotos no Memorial

As apresentações da 2ª Mostra Regional de Música da Fundação Casa não são abertas ao público. Comparecem apenas convidados e funcionários da Fundação e da Secretaria Estadual da Cultura, bem como imprensa e parentes dos internos.

Da unidade de São José dos Campos, vieram familiares ao Memorial, em ônibus fretado pela Casa. Acompanhando os parentes, uma equipe de funcionários da Fundação, entre eles a assistente social Ana Carolina Renó.

Ela ressalta a importância da música na ressocialização dos internos. “Age na cabeça deles como estímulo à vida, aumenta a auto-estima, conseqüentemente, se sentem importantes, melhoram a forma de se expressar e aprendem a trabalhar em equipe.”

Entre o grupo de São José estava a jovem Verônica Dias da Silveira, de 19 anos, cujo irmão está internado na Casa e integra o coral da unidade. Ela não sabe dizer se o menino canta bem ou não, mas estava curiosa para assistir à apresentação da turma.

Música, maestro!

– Alex (*), de 16 anos, faz parte do grupo de cordas da unidade Encosta Norte (Itaim Paulista). Está internado há um ano pelo artigo 157 (assalto a mão armada). “A música melhora minha cabeça”, assegura o jovem, que pretende no futuro cursar Física. O grupo de Alex foi um dos mais aplaudidos no Memorial, principalmente pela versão em cordas de Devolva-me (Lilian Knapp e Renato Barros), canção da Jovem Guarda (movimento que surgiu na década de 1960) e sucesso recente em regravação de Adriana Calcanhoto.

– Fábio (*) tem 17 anos e foi internado em Sorocaba pelo delito de tráfico de entorpecentes. Estuda no segundo ano do ensino médio e pretende fazer faculdade de Direito. Enquanto isso, empresta sua voz ao coral de sua unidade. “Cantar me acalma”, garante.

– Aílton (*), de 15 anos, veio de Franco da Rocha, onde cumpre medida socioeducativa pelo artigo 157. Ele integra um grupo de percussão que executou o batuque característico do Olodum da Bahia. Seu instrumento, o surdo, era de longe o mais retumbante no palco. “Aprendi rápido porque já conhecia alguma coisa de percussão”.

– O jovem Clayton (*), de 14 anos, está na unidade de Guarujá, também por assalto a mão armada, e faz parte do coral. “Mesmo quando deixar a Fundação, pretendo continuar a estudar no Projeto Guri”, afirma o garoto.

(*) Todos os nomes são fictícios

Otávio Nunes – da Agência Imprensa Oficial