IPT: Pesquisa utiliza capim-elefante como energia alternativa vegetal e renovável

Depois de cortada, planta é moída e submetida a processo de secagem, gerando biomassa compactada ou produzindo carvão

qui, 31/08/2006 - 17h31 | Do Portal do Governo

O capim-elefante poderá, futuramente, ser utilizado para produção de biomassa e carvão, dois tipos de energia de origem vegetal e renovável.  No primeiro uso, a planta seca é útil na queima direta, em substituição aos combustíveis fósseis tradicionais. Como carvão, o capim irá tomar o lugar do eucalipto. Estudo neste sentido é desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). A planta é uma gramínea alta que se espalha abundantemente pelo País. Tem mais ou menos 200 variedades, algumas com nomes específicos como napiê e colonião.

Uma das vantagens do capim para se chegar ao carvão é a colheita duas vezes por ano, enquanto o eucalipto leva em média sete anos para ficar adulto. Quanto à produtividade, esse vegetal propicia 40 toneladas anuais de massa seca por hectare (ha) e o eucalipto, no máximo, 15 toneladas/hectares/ano. Para a biomassa, é necessário secar a planta (deixá-la com 10% de umidade, no máximo) e compactar seu volume. Já a obtenção do carvão exige segunda secagem, denominada carvoejamento (umidade zero) e em seguida a extração de gases voláteis. São nestas fases que o IPT trabalha, sob a coordenação do engenheiro Vicente Mazzarella.

O processo de compactação é necessário porque o capim seco tem densidade bastante baixa (muito volume e pouco peso), que inviabilizada o transporte. Só para ter uma idéia, um metro cúbico de água pesa uma tonelada, e o mesmo volume da planta seca tem massa de 100 a 120 quilos.

“Cada tipo de biomassa tem uma forma de compactação”, diz Mazzarella. Ele explica que as condições para compactar serragem ou bagaço de cana, por exemplo, não funcionam para o capim-elefante. A previsão do pesquisador é concluir o trabalho em dois anos.

Extraindo o sumo – O capim-elefante é cortado no campo e submetido a moendas para tirar o caldo, como se fosse a garapa da cana-de-açúcar. Rico em nutrientes, o líquido pode retornar à terra, auxiliando a fertilização. O bagaço é então levado à estufa ou ao forno rotativo para secar, em temperaturas adequadas, que reduzem a umidade ao ponto em que é possível a utilização imediata da biomassa em combustão direta ou levar ao carvoejamento. In natura (verde), o capim pode apresentar até 80% de umidade. Em média, 100 quilos da planta geram 33 quilos de biomassa.

Existem outras duas formas de fazer a secagem do capim, testadas em campo pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), parceira do IPT no projeto. Uma delas é deixar a planta secar naturalmente no solo, sem cortar, como se fosse pé de milho. Depois, colher folhas e colmos secos, com cuidado para não prejudicar a rebrota. “Este processo requer mais energia da colheitadeira e da picadora, porque os colmos secos são bem mais duros e resistentes”, ressalva Mazzarella.

Outro método é colher as folhas e caules ainda verdes e deixá-los no campo, secando ao sol. O risco nesse processo está relacionado à instabilidade do tempo que pode provocar o apodrecimento do material. “Ainda não há um parecer conclusivo da Embrapa sobre esta alternativa, embora os primeiros experimentos tenham sido animadores”, conta o pesquisador.

Outro fato importante, relatado por Mazzarella, é a definição das melhores variedades de capim para a região em que ele será colhido. É necessário testar até uma dezena de tipos, para se chegar a dois ou três bastante produtivos, adaptáveis à região e resistentes às condições climáticas de modo que permitam gerar boa biomassa, bom carvão. “É o conjunto destas qualidades que irá mostrar o melhor capim para o processo”, diz o pesquisador.

Mercado próspero

Os negócios para esta biomassa são promissores. Só na União Européia existe consumo de 10 milhões de toneladas por ano. Vicente Mazzarella afirma que o mercado está em crescimento rápido, já que o preço é vantajoso com relação a outras fontes de energia, como carvão mineral, petróleo, gás e eletricidade. A biomassa seca é utilizada em aquecimento domiciliar, na indústria e em termoelétricas.

“O Brasil pode oferecer toda a quota de biomassa seca compactada exigida pela União Européia, pois tem condições para isso”, sustenta o pesquisador. Ele acrescenta que a atividade geraria, no valor atual de mercado, renda de US$ 1,1 bilhão por ano, milhares de empregos e a área de plantação de capim seria de 250 mil hectares. O importador europeu pode comprar a biomassa seca por US$ 100 dólares/tonelada e revendê-la a 230 euros (quase US$ 300 a tonelada). “Ainda assim um preço competitivo, porque existe espaço para todos ganharem”, diz Mazzarella.

O governo do Estado da Bahia também está interessado no capim-elefante tem. Na região sul baiana, existe fabricação clandestina de carvão usando madeiras das matas para se chegar ao produto, com uso parcial de mão-de-obra infantil.

Para combater o problema, o governo da Bahia pretende estudar o plantio de variedades do capim-elefante na região. A intenção é reduzir a madeira e o carvão clandestinos e ainda manter a subsistência das pessoas que precisam do trabalho, substituindo a matéria-prima (madeira das matas), por outra de crescimento rápido e ambientalmente amigável.

A mineradora Samarco, do Espírito Santo, que mantinha contrato com o IPT até o início do ano, também pesquisa o carvão do capim. A empresa, fabricante de pelotas de ferro, pretende substituir o óleo que utiliza (combustível importado), pelo novo carvão vegetal. Seus fornos absorvem 200 mil litros por ano do óleo. A mudança na queima é necessária porque a Samarco tem planos futuros de aumentar sua produção das atuais 200 mil toneladas/ano de pelotas para 320 mil toneladas. A companhia trabalha com três variedades da planta.

Otávio Nunes

Da Agência Imprensa Oficial