IPT: Pesquisa estuda combustível sintético a partir da cana-de-açúcar

Tecnologia utiliza bagaço e palhas do vegetal, para obter produtos renováveis que queimam sem prejudicar o meio ambiente

qua, 08/02/2006 - 12h00 | Do Portal do Governo

“É possível elevar a produção de álcool no Brasil, quase dobrar, sem aumentar um milímetro na área de cana-de-açúcar plantada e sem poluir o meio ambiente”, diz Ademar Hakuo Ushima, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Para isso, trabalha desde 1999 na obtenção de monóxido de carbono (CO) e hidrogênio (H2), denominados gases de síntese, que servirão de matéria-prima para geração, por meio de reações químicas, de combustíveis: gasolina, óleo diesel, metanol, etanol, dimetil éter (DME) e amônia, para fertilizantes.

Para conseguir CO e H2, Ushima utiliza um equipamento chamado gaseificador. Esse queima bagaço e palha de cana. O primeiro é subproduto do açúcar e do álcool, nas usinas, e o outro vem das plantações de cana, depois do corte. A combustão dos dois materiais gera os gases de síntese. Por enquanto, a pesquisa do IPT concentra-se na produção dos gases. A fase seguinte, a reação química entre eles, para obtenção dos combustíveis sintéticos, ficará a cargo de indústrias que porventura estejam interessadas na tecnologia.

A empresa paranaense Raudi Energia e Tecnologia em Combustíveis Limpos é parceira do IPT e responsável pela montagem do gaseificador. Futuramente, pretende utilizar a tecnologia para produzir metanol em São Carlos do Ivaí, no Noroeste do Estado, na região de Paranavaí. Na cidade tem fábrica de bicarbonatos utilizando como matéria-prima o gás carbônico (CO2), proveniente de usina de açúcar ao lado.

Adriano Fiaschi, engenheiro químico da empresa, trabalha com Ushima no ambicioso projeto. “Temos experiência com síntese de gás carbônico para fabricar bicarbonatos, portanto podemos também produzir o metanol pela reação do CO e do H2.” Conta que há dois parceiros interessados em ser sócios da Raudi, na futura unidade de metanol.

Sem queimada – Ushima observa que não falta matéria-prima para gerar os gases. Afirma que sobra bagaço da cana moída nas usinas de açúcar e álcool. A maior parte deste material, cerca de 90%, é utilizada nas próprias instalações para queimar e gerar eletricidade. “No entanto, os 10% que sobram não têm destino certo e podem servir para nosso projeto”, justifica Ushima.

A pesquisa visa também a criar destinação mais nobre e limpa às palhas que ficaram nos canaviais,  Hoje, infelizmente, ressalta Ushima, tudo é abandonado no local após o corte, e muitas vezes queimado para deixar a terra limpa para o replantio. A queimada da palha, informa o pesquisador, é uma das maiores ameaças ao meio ambiente e à saúde das pessoas que moram nestas localidades. “Não é à-toa que Piracicaba e Ribeirão Preto são cidades com altos índices de moléstias pulmonares no Estado”, exemplifica.

De acordo com os cálculos dos dois pesquisadores, cada tonelada de cana utilizada para produzir álcool gera 140 quilos de bagaço nas usinas e igual quantidade de palha no campo. “Mesmo considerando os 90% de reaproveitamento do bagaço, é muita energia desperdiçada”, frisa o pesquisador do IPT. Fiaschi, da Raudi, observa que para cada litro de etanol na usina é possível sintetizar, depois, 0,7 litro de metanol, usando o subproduto que restou (bagaço e palha)”, contabiliza.

Amazônia – Entusiasmado com a pesquisa, Ushima diz que o Brasil é um dos únicos do mundo que ainda têm terra para aumentar a produção agrícola. “São aproximadamente 400 milhões de hectares disponíveis, sem considerar a Amazônia, para plantação de cana, por exemplo, o que torna o projeto de obtenção de combustíveis de biomassa a melhor alternativa para substituir os fósseis (derivados do petróleo e do carvão), que poluem e não são renováveis.”

Otávio Nunes – Da Agência Imprensa Oficial