Íntegra da entrevista coletiva do governador Mário Covas após lançamento do Plantão Eletrônico

Evento aconteceu no Palácio dos Bandeirantes

qui, 13/01/2000 - 14h42 | Do Portal do Governo

Pergunta- Em relação às enchentes de ontem. Hoje fizemos uma entrevista com o secretário da prefeitura e ele disse que a prefeitura vem se esforçando para tentar diminuir ou atenuar os efeitos das chuvas na cidade como a construção dos piscinões, adoção de planos de emergência…quer dizer ele dá entender que talvez o Estado deveria fazer um pouco mais do que está fazendo. O senhor acha que falta um entrosamento melhor entre os governos do Estado e a prefeitura nesse sentido?

Governador – Falta o quê?

Pergunta- Um entrosamento melhor entre os dois governos para tentar atenuar os efeitos das chuvas, das enchentes na população de São Paulo?

Governador – Olha, a gente veio aqui para tratar de uma iniciativa nova e no final vamos tratar de Prefeitura e Estado. Não sei o que a Prefeitura está fazendo, não sei se ela está fazendo certo. Na realidade as enchentes estão acontecendo dentro da cidade e também não quero não dizer que é culpa da Prefeitura ou não. Não é do meu interesse isso. Mas o tempo que ele perdeu dizendo que o Estado poderia fazer mais ele podia falar o que a Prefeitura poderia fazer mais. Eu não vou perder meu tempo dizendo o que a Prefeitura podia fazer mais. Eu posso dizer o que o Estado vem fazendo. E os piscinões dos quais ele está falando, saiu nos jornais, são piscinões que ainda vão ser feitos. Eu posso lhe dar os piscinões que já foram inaugurados no ABC, o que significa liberar o Tamanduateí e, consequentemente, o Tietê. Eu posso lhe dar as duas represas que completam as cinco originariamente previstas que são as de Biritiba Mirim, a de Paraitinga , e que completam cinco reservatórios. Eu posso lhe dizer a respeito dos R$ 73 milhões gastos numa ligação do Tietê com um desses reservatórios de tal maneira que a água não corra aqui para São Paulo. Eu posso lhe dizer o quanto foi gasto em todo o aprofundamento da calha, do Cebolão até a barragem Edgar de Souza. E posso lhe dizer mais: que isso foi conseguido a custa de empréstimo que levou seis meses para obter aval do Governo Federal e desse empréstimo acabou sobrando dinheiro porque as obras custaram a metade do que estava previsto. De foram que nós estamos tentando negociar com os japoneses para que sem que eles tenham que dar nenhum yen adicional para que a gente possa fazer também o trecho do Cebolão e da barragem da Penha usando o mesmo dinheiro do empréstimo. Porque nós conseguimos fazer a obra com a metade do valor do empréstimo. Todo o trecho daqui recebe manutenção permanente. De forma que eu não estou muito preocupado com o que o representante da prefeitura acha. Era bom que ele se preocupasse em pagar a parte da prefeitura da obra do Rodoanel que a mais importante para São Paulo. Inclusive com consequência no programa de combate às enchentes. Mas se faz isso ou não faz, não tenho como constrangê-lo a fazer. Mas não vou ficar me atendo a ficar discutindo como ele sobre quem está fazendo o quê. Se você está interessado em saber o que o Estado está fazendo eu lhe digo. Se estão fazendo certo ou errado, eu ei que ontem inundaram áreas que nunca foram inundadas em São Paulo. E o Tietê não nasceu ontem. Ele existe antes da cidade existir. Mas ontem inundaram áreas aqui na Zona Sul. O que aconteceu em Diadema é diferente porque lá o que aconteceu foi escorregamento. Isso é mais dramático do que enchente mas não tem defesa contra ele. Se ele acontece o desastre vem. Morreram seis pessoas em Diadema e as seis por escorregamento. Aqui morreram duas afogadas. Diga-se de passagem que eu nem estava na aqui na hora. Eu estava correndo cinco cidades no Interior, inaugurando obras. Só cheguei depois que aconteceu. Mas não estou querendo fazer disputa com a prefeitura. Acho isso de uma pobreza em relação ao interesse popular brutal. O Estado está tentando fazer e está fazendo aquilo que deve fazer e que é da sua competência. Muitas das obras que resolvem problemas dentro de São Paulo, são fora de São Paulo. Só no ABC, nós fizemos seis piscinões. E por esses dias deve-se fazer concorrência para mais seis psicinões. A acumulação de água, não sei dizer em números hoje, é brutal. Piraporinha, que um lugar em Diadema, era objeto de constante enchente. Já não encheu agora. Como não encheu Osasco, lá onde se fez o rebaixamento da calha. Posso lhe dizer o que o Estado está fazendo mas não posso estar estabelecendo comparação com a Prefeitura nem dizendo o que a Prefeitura deve fazer.

Pergunta- Governador, eu queria saber do senhor…

Governador – Eu não quero transformar isso numa entrevista minha, não.

Pergunta- Mas, a gente precisa aproveitar , não é, governador, a presença do senhor para assuntos de ordem nacional. Como o senhor está vendo a repercussão de um modo geral do decreto do Governo de São Paulo que parece ser uma arma contra a guerra fiscal. Isso de um modo geral. Em segundo lugar, como o senhor viu a manifestação do senador Antonio Carlos Magalhães que disse que se isso atrapalhar os Estados mais pobres, ele vai entrar na Justiça. Em terceiro, qual a sua expectativa em relação à manifestação ou futura manifestação de outros governadores?

Governador – Para mim, se alguém vai entrar na Justiça ou não, não faz diferença. Nenhum dos governadores que fazem guerra fiscal me pediu ordem para fazer. Portanto, eu não vou pedir ordem para eles nem para ninguém para tomar as medidas que acho que devo tomar no interesse de São Paulo. De forma que quem quiser entrar na Justiça, não é meu problema. O que tinha que ser feito, e ainda não foi feito por inteiro, foi anunciado publicamente, não me faz muita diferença. Não se pode acusar São Paulo de não ser um grande acolhedor de brasileiro de todos os ‘Brasis’. Portanto, essa história de jogar pobreza contra riqueza, que agora parece que virou moda, com relação a São Paulo não tem o menor sentido. Mas, pouco me importa. Se o senador Antonio Carlos Magalhães acha que está errado, se entrou na Justiça, ele tem todo o direito de fazê-lo. Se o governador acha que está errado, não tem direito de falar certas coisas e qualquer governador que fale certas coisas vai receber uma resposta à mesma altura. Mas fora disso, não me faz diferença. Cada um deles tome a posição que quiser e São Paulo vai tomar a posição que a gente achar.

Pergunta- E sobre a manifestação do presidente?

Governador – Eu não tenho que opinar sobre a manifestação do presidente. Imagine, é o contrário. O presidente é que tem a autoridade de opinar sobre as manifestações…..Tendo em vista que o assunto ficou suficientemente esclarecido, eu gostaria de agradecer a presença de todos e encerrar essa reunião. Obrigado.