Íntegra da entrevista coletiva do governador em exercício, Geraldo Alckmin, após sancionar a lei que

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seg, 19/02/2001 - 15h33 | Do Portal do Governo

Repórter: Governador, com relação as rebeliões iniciadas ontem em diversas unidades penitenciárias do Estado, como está a situação agora?

Alckmin: O que houve foi o seguinte, o Governo do Estado tomou a medida de transferir líderes do crime organizado para penitenciárias mais distantes, tirando-os da Capital e até enviando-os para outro Estado. Houve uma reação inaceitável a esta decisão do Governo, proporcionando rebelião em 27 unidades penitenciárias simultaneamente. Isso foi feito ao mesmo tempo, de uma forma nunca usada anteriormente, ou seja, foi feito em dia de visitas. Quando tem crianças, mulheres, pessoas idosas. O Governo não concilia com crime, não houve nenhuma concessão, nenhum preso fugiu; a Polícia Militar agiu com firmeza e com competência e as coisas estão se resolvendo. Praticamente, em quase todo o sistema penitenciário já se normalizou. Com exceção de, segundo as últimas informações, a da Penitenciária de Pirajuí e, no caso da Penitenciária do Estado, onde praticamente não há mais reféns e os familiares todos já estão saindo.

Repórter: Então está provado que o crime organizado tem um poder muito grande. Se ele tem o poder de fazer rebelião em vinte, trinta cadeias, ficou provado isso certo. Então, como resolver esta questão, qual a idéia do governo, que medidas serão adotadas?

Alckmin: Não há hipóteses do crime organizado comandar a penitenciária. Quem comanda a penitenciária é o Governo, com disciplina. Na realidade o que houve foi exatamente uma represália a medida do Governo de desarticulação do crime organizado.

Repórter: Serão tomadas outras medidas?

Alckmin: Sim. Um dos problemas que nós temos hoje é o da utilização de celulares. Estão sendo estudadas, e não é de agora, já mais tempo quase todas as ações na área tecnológica para impedir a utilização do celular. E veja bem estas rebeliões que ocorreram, nenhuma delas foi por problemas de superlotação, nenhuma delas foi por problemas de maus-tratos, nenhuma delas foi por problemas de alimentação ou qualquer outra queixa. Todas elas, foram para trazer de volta para a Capital os líderes do crime organizado. E isso não vai acontecer, o Governo não volta atrás. Está sendo muito firme nesse sentido e acho que termina este episódio mostrando que o Governo vai agir com firmeza. Não houve concessão, não houve fuga e as questões estão sendo resolvidas com firmeza, com competência, com bom senso. O que já está sendo feito em São Paulo, e é importante destacar que o esforço do Governo Mário Covas é um esforço histórico, porque este problema de penitenciárias é antiquíssimo, e nos últimos 50 anos foram feitas 18 mil vagas. Só o Governo Mário Covas fez 22 mil vagas no sistema penitenciário. Dois terços dos presos da Secretaria de Administração Penitenciária já trabalham hoje, e cada três dias de trabalho reduz um dia de pena. Outras ações estão sendo feitas, que é a desativação das carceragens dos Distritos Policiais. Dos 93 Distritos aqui da Capital, em vinte a carceragem já foi desativada, a grade já foi retirada, não tem mais nenhum preso. Inclusive isto está mostrando que está melhorando a eficiência da Polícia Civil no seu trabalho de polícia investigativa e de polícia judiciária. Tudo isso está sendo feito e outras medidas mais serão tomadas. Agora é inaceitável que o crime organizado, quadrilhas organizadas querem tomar conta de penitenciárias e de presos. Não, essa não.

Repórter: Em relação ao celular, fala-se até em rebelião do celular. Há alguma medida que possa ser adotada neste sentido?

Alckmin: Estão sendo estudadas todas as questões tecnológicas, no sentido de você impedir que o celular funcione sem prejudicar a região. Ou seja, quem mora na região.

Repórter: É impossível deter a entrada de celulares, de armas, de bombas, enfim?

Alckmin: Isso é feito. Agora, infelizmente você não consegue, ainda mais em complexos como o caso da Casa de Detenção e da Penitenciária do Estado que são enormes. Mas, o fato importante é que o Governo não vai arredar pé nesta questão do crime organizado. São quadrilhas, isso é dinheiro, muito dinheiro envolvido e não há hipótese deles comandarem da forma como esta questão ocorria e a firmeza é absoluta neste sentido.

Repórter: Não há, então, um poder paralelo dominando o Sistema Prisional em São Paulo?

Alckmin: É evidente que algumas quadrilhas se organizam. Isso não tem como se impedir. O que precisa é haver um esforço de desarticulação e isso é o que foi feito. E tanto foi feito na direção certa que houve a reação. Acho, que eles não esperavam que o Governo iria agir como agiu e dez líderes foram totalmente afastados e retirados da Capital.

Repórter: O senhor tem conhecimento de uma cartaz que o secretário Nagashi Furukawa, da Administração Penitenciária, recebeu em agosto do ano passado, endereçada por um preso, dando conta de que algo muito grave estaria por acontecer. E relatando esse poder de organização do Primeiro Comando da Capital (PCC)?

Alckmin: Olha, o secretário deve receber cartas permanentemente. Aliás é sua obrigação visitar as penitenciárias, como ele tem feito. Ouvir os funcionários, verificar in loco os problemas e ouvir os presos também. Isso tem sido feito normalmente.

Repórter: Governador, depois de toda essa situação, é possível o Governo dizer que tem controle sobre os presídios, sobre as cadeias no Estado?

Alckmin: Olha, São Paulo tem 72 unidades penitenciárias. Em dois terços delas não aconteceu absolutamente nada, não houve nenhuma rebelião em nenhum momento. Onde houve o Governo agiu e resolveu o problema, sem atender uma exigência sequer, e sem a fuga de um único preso. Esse foi o resultado, essa foi a resposta.

Repórter: Mas é possível (Alckmin interrompe)

Alckmin: Claro que é possível e o Governo não vai voltar atrás no seu trabalho de desarticulação dessas quadrilhas de presos.

Repórter: Há um tempo atrás falava-se da desativação do Carandiru. No mês passado, o Governo desistiu da desativação do Carandiru para dividi-lo em três unidades, que ainda ficarão, mesmo se tornando menores que as atuais, ainda ficarão grandes. Este fato que aconteceu ontem muda de alguma forma o plano do Governo do Estado em relação a isso?

Alckmin: Não, não muda. Não dá para desativar o Carandiru por causa do número de presos. A polícia tem trabalhado mais, tem tido mais eficiência, então o número de presos cresceu de 54 mil no início do Governo Mário Covas, para 93 mil que é hoje. Então, não há como falar em desativar uma unidade penitenciária. O que o Governo está fazendo é construir mais unidades penitenciárias onde os presos trabalham. Cada três dias de trabalho reduz a pena. Mas, não há como falar neste momento em nenhuma desativação e nem na construção de mais uma Penitenciária de segurança máxima.