Íntegra da entrevista coletiva do doutor David Uip e do governador em exercício Geraldo Alckmin

Entrevista foi concedida nesta segunda-feira, dia 22, após a divulgação da alta hospitalar e licença temporária solicitada pelo governador Mário Covas

seg, 22/01/2001 - 15h22 | Do Portal do Governo

Íntegra da entrevista coletiva do doutor David Uip e do governador em exercício Geraldo Alckmin, concedida nesta segunda-feira, dia 22, após divulgação da alta hospitalar e licença temporária solicitada pelo governador Mário Covas:

David Uip – Vocês devem ter recebido o Boletim Médico que diz que o governador Mário Covas, na verdade, está tendo alta hospitalar e não alta da doença. Ele vai continuar sendo tratado num ambiente domiciliar. Nós entendemos que ele melhorou tanto do ponto de vista clínico e laboratorial como neurológico e isto possibilita que ele tenha alta. Isso atende aos desejos da família, do governador e atende a reivindicação dos médicos do ponto de vista que ele seja tratado da melhor forma possível. Então, como nós temos dados objetivos de melhora, ele pode ter alta do ambiente hospitalar para continuar sendo tratado no Palácio (dos Bandeirantes). Isso é uma alternativa muito atual de tratamento em pacientes crônicos. Nós estamos habituados a lidar com isso. A partir do momento que o paciente crônico se equilibra clinicamente, ele continua o tratamento na sua residência. É o conhecido ‘home care’. Portanto, essa foi a decisão da equipe e a solicitação do governador, com o apoio da sua família.

Pergunta – Ele vai para o Horto?
David Uip – Não. Vai para o Palácio, aqui no Morumbi.

Pergunta – E as sessões de quimio?
David Uip – As decisões médicas estão absolutamente mantidas. Neste momento (da coletiva) ele está sendo preparado para fazer a segunda sessão de quimioterapia. Nós vamos insistir na quimioterapia. A terceira, quinta-feira (dia 25) vai ser realizada no Palácio ou no ambiente hospitalar. Mas o tratamento está mantido como foi combinado desde o início. Mas se for feito no hospital, assim que ele quiser, após a aplicação, ele terá alta.

Pergunta – Porque agora o afastamento foi aconselhado?
David Uip – Porque esse é o momento. Esse é o momento que a equipe médica julgou ser adequado. Ele iniciou o novo tratamento na última quinta-feira. Esse tratamento implica em algumas situações que são, do ponto de vista técnico, simples mas exige o governador frequentemente disponível. Quer dizer, todas as segundas e quintas-feiras ele vai ser submetido a esse procedimento. Além disso, ele vai ter que fazer exames regulares. Como eu venho dizendo aos senhores, ele veio ao hospital por um problema clínico que foi importante. Ele tinha um edema generalizado. Aqui nós surpreendemos a alteração da glicose no sangue, a alteração de um dos eletrólitos (potássio). Então, essa complexidade tendo tratamento e efeitos colaterais, visam uma melhor possibilidade terapêutica. E por essa idéia, com toda essa complexidade, nós nos vemos a dar uma assistência mais continuada ao governador. Então, pelos aspectos clínicos, pelos eventuais efeitos adversos do corticóide, como nós presenciamos, e pela terapêutica regular que não tem data para terminar, intratecal (quimioterapia injetada na medula), nós preferimos que ele se afaste do Governo neste momento. A equipe médica entende que esse é o momento adequado para o afastamento do governador.

Pergunta – Qual é a duração do afastamento?
David Uip – O tempo não está determinado.

Pergunta – Qual a reação do governador diante da solicitação dos médicos?
David Uip – A reação do governador foi digna, como sempre é. O governador, de uma foram extremamente digna e lúcida, atendeu a nossa solicitação, chamou a equipe médica, conversou com seus familiares, que tiveram uma participação importante. Foi uma decisão dele e da família, e fomos comunicados disso em seguida. Como sempre, extremamente digna. Não me peçam para entrar nos mínimos detalhes, porque guardo também isso como algo da relação médico-paciente.

Pergunta – Como será feito o tratamento no Palácio dos Bandeirantes?
David Uip – Quero deixar bem claro que a idéia hoje é, sempre que possível, tirar o paciente do hospital. Então, as equipes médicas vão fazer um rodízio no atendimento no Palácio. Ele continuará tendo a assistência de enfermagem que tem no hospital como vinha tendo… Quer dizer, não muda nada em relação ao hospital e o Palácio.

Pergunta – Porque a equipe médica sugeriu o Palácio e não o Horto?
David Uip – Nós sugerimos pela facilidade de locomoção da equipe médica. O Horto é muito longe e com esse trânsito de São Paulo, que tende a piorar com a volta às aulas, é muito complicado. Cada um de nós, entre o hospital e o Horto, precisa de não menos do que uma hora. Uma hora para ir, uma para ficar e uma para voltar. É muito difícil para a equipe.

Pergunta – O estado dele está sendo verificado com quais exames?
David Uip – Exames clínicos e laboratoriais.

Pergunta – Ele está melhor?
David Uip – Está melhor. Por isso vai ter alta.

Pergunta – Com relação ao exame de líquor, quando tem o resultado?
David Uip – O de laboratório, vamos ter amanhã ou depois.

Pergunta – Parece que o governador tem inúmeras células atingidas.
David Uip – Boatos temos todos os dias. Ontem à noite (dia 21) foi outra confusão, porque um padre anunciou que o governador tinha morrido. Estou dizendo a vocês que boatos têm todos os dias. Esse foi mais um. Outra coisa, como já havíamos combinado, vocês são os primeiros a saber o que está acontecendo. Então não tem porque se basear em boatos.

Pergunta – Para acabar com os boatos, o senhor tem o número de células atingidas?
David Uip – Eu tenho o número e não vou divulgar. Porque isso é do foro íntimo da relação médico-paciente.

Pergunta – A decisão sobre a licença foi tomada agora de manhã?
David Uip – Ela vem sendo conversada e a decisão formal é datada do dia 22.

Pergunta – Como o senhor vê a questão da fé brasileira para o governador Mário Covas.?
David Uip – Bom, eu sou uma pessoa de fé. Eu tenho certeza que o vice-governador também é e o secretário (de Comunicação, Osvaldo Martins), também é. Nós somos pessoas de fé. O governador e sua família também são. Eu acho que a fé é muito importante nesse momento.

Osvaldo Martins – Como o doutor Geraldo (Alckmin) tem um compromisso agora às 11 horas, vou pedir um corte rápido na entrevista com o doutor David para saber se alguém tem alguma pergunta para o doutor Geraldo, porque ele em seguida precisa se retirar.

Pergunta – Como será assumir o governo agora com esse afastamento do governador Mário Covas?
Geraldo Alckmin – O governador Mário Covas, ontem (dia 21), me telefonou, perguntou sobre todas as atividades da semana anterior, as entregas de obras daquela agenda que ele havia feito. Nós transmitimos a ele que cumprimos todos os compromissos que começaram no município de Itapecerica da Serra, na quinta-feira, depois Pirapora do Bom Jesus. Na sexta-feira, o México 70, lá em São Vicente. Sábado, Suzano e a entrega do Qualis aqui na Capital. Ele estava super interessado em saber das inaugurações, das obras… Contei para ele que o prefeito de São Vicente, Mário França, havia feito um quadro onde o time do Santos era campeão estadual, nacional e mundial e ele estava junto com o time. Então, agora à tarde, o governador vai para a residência e vou levar o quadro para ele. Agora cedo, ele me telefonou, pediu para que eu viesse ao Incor e me entregou o documento. Espero que essa substituição seja extremamente breve para que o governador possa concentrar mais as suas energias na recuperação da saúde. O governador melhorou nesses últimos dias, como colocou o doutor David, e nós vamos tocar toda a rotina do Governo. Mas conversando permanentemente com o governador. Nós já participamos juntos há seis anos, sei das diretrizes, das metas do Governo e nós vamos fazer um grande esforço para cumprir. Agora à tarde, haverá uma reunião de todo o secretariado, onde o próprio governador Mário Covas vai comunicar essa sua decisão, esse seu afastamento temporário para se dedicar totalmente à recuperação da saúde. .

Pergunta – Ele fez alguma recomendação especial para o senhor?
Alckmin – Não. Nenhuma recomendação especial. Talvez até nessa reunião com o secretariado o governador faça. Até porque, eu vi que ele fez várias anotações de uma série de questões que ele acha mais relevantes. O horário da reunião deve ser às três horas da tarde.

Pergunta – Essa licença temporária é oficial? O governador sai de licença e o senhor está interino no cargo?
Alckmin – Exatamente.

Pergunta – Essa licença tem prazo?
Alckmin – Não. Não tem prazo. Se o governador a semana que vem, daqui a dez dias se sentir melhor, os médicos recomendarem, ele imediatamente assume.

Pergunta – Mas, não há um teto como, por exemplo, um mês?
Alckmin – Não. Não.

Pergunta – O fato de o senhor assumir não vai atrapalhar a candidatura na próxima eleição?
Alckmin – Eu não tenho nenhuma análise jurídica. Mas também não estou preocupado com a eleição de 2002. Isso não cabe a mim decidir. Essa é uma questão jurídica. Caberá no momento oportuno, mais perto de 2002, ao Tribunal Superior Eleitoral se pronunciar a respeito.

Osvaldo Martins – O dr. Geraldo Alckmin tem que se retirar e o dr. David permanece para mais alguma questão.

Pergunta – Como é que deve ser a rotina do governador? Ele deve ficar em casa, no Palácio, não deve sair para a rua?
David Uip – Isso vai ser avaliado a cada momento. Hoje ele está num dia muito bom, já passeou pelos corredores do Incor, na cadeira de rodas. Então vai depender muito do dia a dia. Eu acho que o fundamental é nesse momento o asfastamento para que possamos oferecer ao governador o melhor tratamento possível, dentro da tranquilidade. Não dá para isso ser feito com ele viajando, tomando as providências da máquina no dia a dia. Isso ficou claro para nós na quinta-feira pela manhã. Nós tivemos que suspender tudo porque o governador teve um problema clínico que nos obrigou a trazê-lo para cá. Então eu acho que uma assistência mais próxima, ele mais disponível é bom para todos.

Pergunta – Pesou nessa decisão a possibilidade do governador passar mal durante uma viagem ou uma inauguração de uma obra?

David Uip – Não, houve um fato claro. Eu o surpreendi num quadro clínico importante. Que obrigou a vinda dele ao hospital. Esse é um dado muito objetivo. Ele tinha um edema generalizado. Ele aqui chegando, nós vimos que ele tinha alterações importantes da glicose e de um dos eletrólitos (potássio) isso em consequência do uso de medicamentos. É muito complicado, numa fase aguda de tratamento, complexa, você conseguir controlar todos esses parâmetros. Então, essa situação foi superada. Nós entendemos que o governador está hoje clinicamente muito bem. Mas ele continua em tratamento. Então, ele vai para sua residência, continuar sendo tratado como está sendo tratado aqui.

Pergunta – E quanto às dores de cabeça?

David Uip – Ele teve dores de cabeça só agora de manhã porque também dormiu mal à noite. Ele ficou elaborando o documento.

Pergunta – A dor de cabeça é devido àquela pressão no cérebro?

David Uip – A dor de cabeça é consequência de uma porção de coisas. Aumento da pressão, ele tem uma meningite carcinomatosa. Todos esses fatores fazem com que ele tenha dor. Isso ainda vai voltar e vai ser de maior ou menor intensidade.

Pergunta – Ele está tomando algum analgésico?

David Uip – Ele não tomou nenhum analgésico. Essa madrugada ele tomou 30 gotas de Dipirona. Só. Então, há dias que ele não toma analgésicos.

Pergunta – E o dedo que está quebrado?

David Uip – Não está quebrado. Alguém publicou que está quebrado, mas não está. Está com hematoma e só. A lesão, vocês vão ver, a do queixo já tem feridinha e a do lábio também tem feridinha.

Pergunta – E as funções cardíacas?

David Uip – Estão normais.

Pergunta – Quais os médicos que estavam lá quando ele anunciou o afastamento? O dr. Brentani?

David Uip – Não, o dr. Brentani não está hoje aqui. Mas estava o professor Milberto Scaff, o professor Sami Arap, todo o pessoal que trata do governador.

Pergunta – A gente não pode dizer que ele está 100%, não é?

David Uip – Se ele estivesse 100%, ele não estaria se afastando.