Íntegra da entrevista coletiva concedida neste sábado, dia 3, no Incor, pelo médico particular do go

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sáb, 03/03/2001 - 14h44 | Do Portal do Governo

Íntegra da entrevista coletiva concedida neste sábado, dia 3, no Incor, pelo médico particular do governador Mário Covas, Doutor David Uip (infectologista):

David Uip – Como vocês viram hoje no boletim, ontem, a partir da noite, o governador começou a apresentar febre e nós tivemos a concretização do diagnóstico de pneumonia. Isso culminou com a ampliação do esquema antimicrobiano. Nós ampliamos o esquema antimicrobiano e isso aconteceu a partir da manhã de hoje. Então, nós tivemos um quadro de febre, a consolidação de um diagnóstico e a ampliação do esquema terapêutico antimicrobiano. De resto, os parâmetros continuam da forma que estavam ontem. O governador está mantido com a assistência ventilatória com catéter e máscara. Sua função renal está preservada. A função intestinal continua obstruída. Os outros parâmetros são normais. Ele trabalha com esquema de medicamentos igual, ampliado pelo esquema de mais um antibiótico. Além disso, ele trabalha fortemente com a fisioterapia motora e respiratória e é assistido pela equipe de intensivistas durante 24 horas.

Pergunta – Esse catéter e a máscara de oxigênio representam uma respiração mecânica ou não?

David Uip – Mecânica é quando você introduz um aparelho, ou então vários aparelhos. Ele não usa nada disso. O catéter é um catéter ligado ao oxigênio e a máscara é uma máscara que o indivíduo respira. Não é nada invasivo. É externo.

Pergunta – E isso é o tempo todo?

David Uip – Ele está usando mais do que usava.

Pergunta – O processo infeccioso é que provocou a pneumonia?

David Uip – Olha, nós estamos falando desde o primeiro momento que o governador tem uma sepse. Por definição sepse é quando um processo infeccioso se inicia num local e acaba em outro ou mais locais. Então, na nossa concepção, houve o início abdominal e a instalação no pulmão.

Pergunta – A gente pode dizer que é uma evolução do edema?

David Uip – É uma evolução da infecção.

Pergunta – Dr., o senhor falou ontem que havia ocorrido uma melhora no processo infeccioso. Isso não significa justamente o contrário?

David Uip – É difícil estar dando a vocês a dinâmica de um processo infeccioso. Nós tínhamos indícios de um quadro clínico-laboratorial de sepse. A realização do diagnóstico conceitualmente não muda nada em relação ao que nós previmos. É uma infecção que atinge mais de um órgão. Só que quando você visualiza pelo raio X, você confirma a hipótese. Essa que nós entendemos, pelo fato dele ter febre, nós ampliamos o espectro antimicrobiano. Não espere entender isso porque isso é uma coisa complexa e tem a ver com o estado médico.

Pergunta – De quanto foi a febre?

David Uip – A temperatura máxima que ele teve foi de 37,4 graus.

Pergunta – O pulmão do governador já estava fragilizado por causa do edema e da insuficiência respiratória. De que forma essa pneumonia pode afetar ainda mais o quadro geral dele?

David Uip – É isso mesmo, o governador tinha um pulmão com um pouco mais de líquido do que o normal, ele vinha tendo um processo infeccioso que se instala na base do pulmão esquerdo. Então, é mais um processo em cima de um pulmão que tinha um edema. É uma conseqüência do processo infeccioso. O edema do pulmão não é localizado. É um edema nos dois pulmões e a pneumonia é na base do pulmão esquerdo.

Pergunta – Essa pneumonia é bacteriana ou não? E o fato de ele ter pneumonia pode ser indício do começo de uma falência múltipla de órgãos ou não?

David Uip – A pneumonia, por todo o raciocínio clínico, deve ser bacteriana. Nós não temos a comprovação etiológica e nesse momento não é o mais importante porque ele está medicado com um esquema antimicrobiano amplo, prevendo as possibilidades mais habituais. Mas, pelo raciocínio clínico, deve ser uma pneumonia bacteriana. Não, isto não caracteriza uma insuficiência de múltiplos órgãos e sistemas. Isso é uma complicação pulmonar. A palavra melhor é uma seqüência do processo infeccioso. É uma situação isolada dentro de um contexto.

Pergunta – Essa é mais uma intercorrência, mais um problema que o senhor está descrevendo para nós. Qual é o problema central que poderia reverter esse quadro. O que precisaria ser atacado nesse momento? Seria, por exemplo, a obstrução intestinal que precisaria ser atacada para reverter esse quadro para facilidade de infecção, facilidade para problemas pulmonares, respiratórios?

David Uip – O governador já associa uma porção de situações. Vocês nem poderiam estar habituados a lidar com uma situação grave como essa. Isso é o que se encontra habitualmente num paciente grave. Você vai tendo eventos a cada momento. Uns melhores e uns piores. E desse balanço e desse tratamento, dá possibilidade de tratar ou não, você tem o resultado. Essas são intercorrências habituais de um paciente grave.

Pergunta – Ele só piorou desde domingo, Dr.?

David Uip – Essa pergunta é tão fora de propósito. Você me desculpe mas eu não vou nem responder.

Pergunta – Mas houve melhora em alguma outra função?

David Uip – Olha, eu tenho sido muito claro com vocês. Em momento nenhum eu falei que a gravidade diminuiu. Todo dia quando eu acabo aqui, vocês falam: ‘É grave?’. E eu digo: ‘Não, é extremamente grave’. Eu não consigo dizer nada mais do que extremamente grave.

Pergunta – Houve uma regressão, já que ontem ele apresentou uma ligeira melhora?

David Uip – Houve uma evolução. Ele necessita mais de oxigênio do que ele necessitava. A hipótese da infecção bacteriana, que nós temos obviamente desde o começo, se confirmou. E o que mudou de fato foram duas coisas: ele precisa mais de oxigênio do que precisava e nós ampliamos o sistema antimicrobiano.

Pergunta – O coração continua arrítmico? E eu queria saber como ele se comporta no quarto. Ele senta na cama, levam ele na cadeira de rodas até a janela?

David Uip – O governador está no leito. Ele fica sentado no leito. Ele alterna momentos de lucidez plena e momentos de sonolência. É desconfortável essa movimentação da cama para a cadeira e da cadeira para a cama. Nesse momento ele está mais na cama, em posições diferentes. E não está indo para a cadeira.

Pergunta – O senhor disse que o coração continua acelerado. Então está com taquicardia mas não está mais acelerado do que estava ontem?

David Uip – Igual a ontem.