Íntegra da entrevista coletiva concedida neste sábado, dia 20, pelo Dr. David Uip, infectologista e

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sáb, 20/01/2001 - 16h24 | Do Portal do Governo


David Uip – Eu acho que o boletim traz informações fundamentais do que aconteceu de ontem (sexta-feira, dia 19) para hoje e estou à disposição para as perguntas.

Pergunta – A diminuição do inchaço, como foi?
David Uip – Isso é uma coisa simples e foi conquistada com medicamentos, através do uso de diuréticos. Do ponto de vista de edema, o quadro melhorou.

Pergunta – Onde era o edema?
David Uip – Nos membros superiores e nos membros inferiores, principalmente, mas era um edema generalizado.

Pergunta – Havia uma possibilidade do governador passar pior uma avaliação e ser liberado ainda hoje. O que mudou?
David Uip – Está no primeiro parágrafo do Boletim. O governador apresentou períodos alternados de agitação e sonolência durante a noite, isso está sendo interpretado como algo novo ou evolutivo o que nos faz mantê-lo internado. A decisão da equipe toda é de mantê-lo internado.

Pergunta – Porque é novo?
David Uip – Ele não estava apresentando essa agitação com períodos alternados de sonolência.

Pergunta – O que significa isso?
David Uip – Há várias possibilidades. Uma, que pode ser a própria doença. A outra, que pode ser o próprio edema cerebral se bem que tudo faz crer que melhorou. E até, os medicamentos. Mas, ele está mais agitado, está alternando com períodos maiores de sonolência e está nos
obrigando a medicá-lo mais para que ele fique menos agitado.

Pergunta – Pode ser da medicação, do tranquilizante?
David Uip – Não dá para saber porque quando ele fica agitado nós estamos medicando. Ainda não dá para definir o que tem ou não a ver com o medicamento.

Pergunta – Quantas vezes essa agitação ocorreu durante a noite?
David Uip – Isso não é numérico. O que importa é que ocorreu. Foi mais de uma vez. Ele ficou agitado, foi medicado, voltou a ficar agitado, foi medicado de novo. Isso mostra que algo está acontecendo.

Pergunta – Como é essa agitação especificamente? Dá para descrever?
David Uip – É difícil mas é uma situação em que a pessoa fica incomodada por estar deitada e quer sentar, depois quer deitar novamente, em seguida quer ir embora….Esse tipo de coisa.

Pergunta – Alguma alteração cardíaca?
David Uip – Não.

Pergunta – A sessão de quimioterapia está mantida na segunda-feira?
David Uip – Exatamente. Ele fez a primeira sessão na quinta-feira e está previsto fazer a segunda sessão na segunda-feira, com dois objetivos: O primeiro é o quimioterápico mesmo e o segundo retirada do líquor antes da aplicação. O líquor vai ser medido e comparado com o exame pré, sem medicamentos.

Pergunta – E os resultados desse exame?
David Uip – Teremos uma parte, provavelmente, no dia seguinte e durante a semana teremos os outros componentes do líquido.

Pergunta – Como ele reage à notícia de ter que ficar no hospital?
David Uip – Ele está muito bravo em ficar no hospital. Eu acho que qualquer paciente moço e tal, não fica menos bravo. Ninguém quer ficar no hospital. Mas ele tem indicação formal médica de continuar internado.

Pergunta – Por tempo indeterminado?
David Uip – Por tempo indeterminado.

Pergunta – Portanto, não tem possibilidade de ele sair amanhã?
David Uip – Não foi isso que eu falei. Por tempo indeterminado pode ser amanhã. Mas, a minha posição, a posição da equipe é a de que ele não saia antes de segunda-feira.

Pergunta – Há possibilidade de montar uma estrutura na casa dele ou no Palácio para que ele posa receber o mesmo tratamento lá?
David Uip – Isso é uma coisa muito moderna e que nós fazemos em diversas situações. Mas, eu não acho que seja o momento para fazer isso com o governador. Nós estamos ainda em fase acertos clínicos laboratoriais, temos um fato novo e não entendo a situação como estabilizada em nível de poder liberá-lo para que haja continuidade do
tratamento em casa.

Pergunta – O senhor disse que o fato novo pode ser um avanço da doença?
David Uip – A doença tem um curso. Ele fez uma aplicação. Nós não temos a avaliação numérica do que aconteceu. O fato é que nessa noite ele esteve agitado. Isso pode ter várias interpretações. Mas é claro por nexo, por lógica, por linha de raciocínio nós temos que começar pensando que isso é decorrente da doença.

Pergunta – Depois do exame do líquor é que o senhor vai saber isso?
David Uip – Não. O líquor é um dos parâmetros de acompanhamento. Tem acompanhamento clínico, o acompanhamento neurológico e a evolução depende de todos esses fatos: clínico e laboratorial.

Pergunta – Que medicamentos os governador recebeu essa noite?
David Uip – Sedativos usados normalmente.

Pergunta – Há informações de que há 90% de contaminação no líquido por células cancerosas. É isso mesmo?
David Uip – Não. Ontem foi publicado que ele tinha uma meningite diferente da que ele tinha, foi divulgado que ele teve uma parada cardíaca. Ontem, me ligaram em casa, depois da uma hora da manhã porque ele teria uma parada cardíaca. Cada um está falando o que quer. O que nós estamos falando aqui é a verdade absoluta e real e até faço um apelo a vocês. Não entrem nessa de boatos. Ontem foi um caos. Ouvi coisas estarrecedoras. Não tem necessidade porque nada está sendo, nada foi e nada será omitido de vocês. Nenhuma palavra. Primeira mudança que ocorreu, vocês estão sendo informados e assim continuará sendo. Ou seja, sobre tudo o que ocorrer vocês vão ser informados oficialmente. Vou repetir que vocês não entrem nessa de boato. Esse é um momento que eu acho histórico, onde tudo está sendo revelado e vai continuar sendo revelado. Seja lá o que for.

Pergunta – Essa é uma intercorrência?
David Uip – Quem lida com doente grave sabe que essas coisas acontecem. Isto é algo que aconteceu, que se instalou da noite para agora. Nós estamos investigando, observando e tomando medidas terapêuticas.

Pergunta – Além do edema cerebral, existe alguma concentração em algum ponto que leva a isso?
David Uip – Não. Edema cerebral você mede com avaliação clínica, avaliação neurológica e exames de laboratório. A causa primeira de ele ter vindo para cá, novamente, foi o edema generalizado. O que você vê fora é algo que não se limita à parte de fora. Você vai ver que tem água
em outras repartições do corpo humano.

Pergunta – Não pode ser que as células tenham se juntado e formado um novo tumor o que está provocando tudo isso?
David Uip – Essa pergunta você me faz pela décima vez. Isso não piora e não melhora nada.

Pergunta – Tudo bem, mas pode ser?
David Uip – Eu não sei. Ele não fez mais nenhuma ressonância magnética, não fez nenhum outro exame de imagem para que possa dizer que sim ou que não. O que quero tentar passar para vocês é que o fato de ele ter um monte de células juntas ou um monte de células separadas não melhora e nem piora o quadro. O quadro é muito grave e não precisa de mais nada para se tornar mais grave. Já é muito grave.

Pergunta – Algum exame previsto para hoje e amanhã?
David Uip – Não. Ele fez os exames de rotina, foi alimentado pela manhã e não se prevê mais nada a não ser visitas médicas habituais que ele receberá mais de uma de cada equipe.

Pergunta – Como ele se alimentou?
David Uip – Foi por boca mas, obviamente por causa dos remédios, ele não tem a condição ainda de pegar os alimentos normalmente. É uma alimentação vigiada. A alimentação é oferecida e observada porque quando o indivíduo está sob efeito de sedativo há o risco de ele vomitar e aspirar para o pulmão.

Pergunta – Dores. Ele reclamou?
David Uip – Ele reclamou de dor no corpo, agora de manhã e foi medicado com dipirona. Dor de ficar na cama.

Pergunta – A alteração do líquor, a partir da quimioterapia, o senhor vai ter a partir da segunda-feira?
David Uip – É a primeira vez que vai ser comparado o líquor sem medicamento com o líquor após medicação. Esse líquor que foi colhido na quinta-feira ele foi o segundo, sendo que não havia nenhuma diferença de fato em relação à primeira. Ele não foi medicado entre o primeiro e o segundo (exame de líquor). Ele foi medicado entre o segundo e o terceiro. Mas também não criem a expectativa de que nós vamos ter coisas substanciais nesse terceiro líquor. Porque: isso é uma terapêutica que vai ser dada e nós não sabemos se vai ter uma resposta ou não. É só uma coleta comparando a primeira aplicação em relação a nenhuma.

Pergunta – Devido a essas alterações de quadro, ele teria condições de continuar governando São Paulo?
David Uip – Eu não entro no mérito político. Eu não entro no mérito de decisão de governo. Quando eu digo eu, significa a equipe médica. Nós não entramos nesse mérito. Nós somos responsáveis pelas decisões médicas e disso nenhum de nós abre mão. As decisões são absolutamente de ordem médica. Tem alguns fatos que se limitam à relação médico-paciente e esses fatos vão ser preservados. Decisões de governo, decisões políticas, não cabem a nós tomarmos.

Pergunta – A recomendação de hoje é de que ele fique na cama ou ele pode, se ele quiser como ontem, dar uma volta na cadeira de rodas?
David Uip – Ele não está obrigado a ficar na cama desde que haja segurança para que ele possa sair da cama. Mas jamais ele vai poder sair da cama por conta própria.

Pergunta – E se ele decidir que quer ficar em casa, ele pode ser transferido?
David Uip – A decisão dele e da família sempre será respeitada. Ele e a família assumem a responsabilidade e sempre serão respeitados. Isso não é só com o governador Mário Covas ou com a família dele, é com qualquer família, com qualquer paciente. A família tem o direito de sair do hospital, a ter os médicos que quiserem. Isso é decisão da família e sempre vai ser respeitada.

Pergunta – Doutor, só para eu entender, dava para explicar o negócio da meninge? É meningite ou não é?
David Uip – Toda vez que você tem algo que causa inflamação, isso vira ‘ite’. Então, pode ser meningite, renite, estomatite. Essa inflamação pode ser causada, no caso da meningite, por vírus, bactéria, fungo, química… Por exemplo, quando eu insiro uma substância na meninge, eu posso causar uma meningite química. Quando existe a presença de células na meninge, isso torna-se um processo inflamatório e recebe o nome de meningite. Uma inflamação de meninge carcinomatosa, causada por células do câncer.

Veja também:

Coletiva concedida pelo Dr. David Uip em 18/01/2001

Coletiva concedida pelo Dr. David Uip em 19/01/2001