Íntegra da entrevista coletiva concedida nesta sexta-feira, dia 2, no Incor, pelo médico particular

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sex, 02/03/2001 - 14h15 | Do Portal do Governo


Íntegra da entrevista coletiva concedida nesta sexta-feira, dia 2, no Incor, pelo médico particular do governador Mário Covas, Doutor David Uip (infectologista):

David Uip – Bom dia. Nós vamos mudar um pouco a estrutura da entrevista hoje porque entendemos que nesse momento as coisas estão mais estabilizadas. Como vocês podem notar pelo oletim, muito pouca coisa aconteceu de ontem para hoje. Para não dizer coisa nenhuma, o governador apresenta uma situação ainda de instabilidade. Seus parâmetros estão mantidos. Ele não faz uso de aparelhos. Ainda necessita de oxigênio.
Toma os mesmos medicamentos antiarrítmicos, antibióticos, anticoagulantes. E ele está se alimentando via parenteral com substâncias que o nutrem adequadamente. Ele está consciente. Alterna períodos de consciência total, quando ele conversa normalmente, com períodos de sonolência. Ele continua fazendo uso ou de catéter ou de máscara. Trabalha intensamente com a fisioterapia. Trabalha intensamente do ponto de vista de ser alimentado por via parenteral, com tudo que nutre. Ele é assistido 24 horas por enfermeiras intensivistas, médicos intensivistas e fisioterapeutas habituados a essa situação. Então, basicamente esse briefing reforça o de ontem. Nós não temos novidades em relação a ontem. As coisas continuam como estavam.

Pergunta – Ele usa máscara o tempo todo ou em intervalos? Ele tem problemas no coração?

David Uip – Não, ele não tem nenhum problema no coração. A máscara é usada intermitentemente, inclusive nos momentos de fisioterapia é feita pressão positiva como uma forma de ventilá-lo. Fazer exercícios respiratórios. Isso são condutas próprias fisioterápicas de um paciente nessas condições.

Pergunta – O que significa esse ‘instável’ do boletim?

David Uip – Significa que não está estável. É porque ainda ele precisa de oxigênio, porque ainda está sendo mantido com medicamentos antiarrítmicos, anticoagulantes. Quer dizer, ele tem dependido de medicamentos.

Pergunta – O fato de não ter acontecido nada durante a noite não significa que melhorou?

David Uip – Isso é bom. O fato de não ter novidades, não ter notícias, é bom.

Pergunta – Uma pessoa que esteve aqui e foi entrevistada disse que o governador se queixa de dor na perna. Ele reclama de dor?

David Uip – Não, o governador eventualmente se sente desconfortável com a posição na cama. Isso é resolvido com mudança de decúbito. Ele não se queixa de dor.

Pergunta – Nem na perna?

David Uip – Nem na perna.

Pergunta – Nessa situação de estabilidade, de não ter intercorrências, isso representa uma vitória?

David Uip – Ele apresenta uma pequena melhora clínica, que está escrito no boletim. Ele está um pouco mais estável, mas não se pode comemorar nada neste momento.

Pergunta – Ontem o senhor disse que o governador estava sentindo cansaço. Ele melhorou o estado de ânimo?

David Uip – O cansaço que eu digo não é emocional, é físico. É o que eu falo, ele tem de mudar de posição porque ele se sente cansado.

Pergunta – Doutor David, a capacidade de respiração dele diminuiu ou aumentou em relação a ontem?

David Uip – Continua igual a ontem. Ele continua precisando de períodos de máscara ou de catéter de oxigênio.

Pergunta – O governador ainda recebe sedativo ou algum tipo de morfina?

David Uip – Ele não recebe sedativos. É uma forma de tratar o que ele teve no pulmão, que é um derivado de morfina.

Pergunta – O que significa essa discreta melhora do quadro infeccioso?

David Uip – Ele tem sinais claros de melhora relativa ou pequena melhora do quadro infeccioso, tanto pelos exames de laboratório, que eu não vou detalhar, quanto do ponto de vista clínico.

Pergunta – Ontem o senhor disse que o estado do governador era extremamente grave. Como o senhor define hoje o estado de saúde do governador Mário Covas?

David Uip – Extremamente grave.

Pergunta – Ainda há risco de falência múltipla dos órgãos?

David Uip – Bem, nisso eu insisto muito, temos uma porção de órgãos envolvidos. Nenhum falido, exceto o funcionamento do intestino. Nós estamos sempre na tentativa de controle desse processo. Hoje ele está um pouquinho mais controlado do que ontem.

Pergunta – Ele pode receber visitas?

David Uip – A decisão de receber visitas é da família. Não tem nenhum impedimento médico para receber visitas.

Pergunta – Ele sabe a quantidade de pessoas que vem até aqui para prestar solidariedade?

David Uip – Não sei, não falei com ele sobre isso.

Pergunta – Ele ainda pede para sair do Incor?

David Uip – Ele falou isso claramente para os médicos que passaram a noite com ele. Qual é a proposta, qual é o planejamento, quando ele poderá ter alta…

Pergunta – Ele teve algum problema no coração, arritmia?

David Uip – Absolutamente igual a ontem. Deixe até eu fazer um pedido de desculpas para vocês. Desde ontem (dia 1º) vem vazando informações. A maioria das informações que estão vazando não são verdadeiras, mas vazou uma informação anteontem (dia 28) que era verdadeira. Uma das repórteres do Estado me ligou, a Janaína, pedindo que eu confirmasse. Como vocês sabem, eu não minto. Ela tinha uma informação, que depois foi divulgada num canal de televisão, mas isso não importa, e eu confirmei. Agora, é impossível que a gente consiga controlar toda a informação. A equipe oficial não dá privilégios, não dá informação em off até o quanto nós podemos controlar isso. Então, vocês esqueçam que vai ter algum tipo de boletim que todos não tenham conhecimento, que vai ter conversa à parte sobre o governador. Da equipe, vocês esqueçam. Isso não é possível. Infelizmente, num hospital, quando você pede exame, tem alguém que pega esse exame e leva para fazer. Quando você faz uma solicitação de qualquer coisa, é um complexo que envolve muitas pessoas. Não dá para controlar tudo, mas, oficialmente, ninguém vai ter privilégio.

Pergunta – Nesse quadro de um paciente que apresenta tantas intercorrências, a equipe tem algum planejamento? Se o governador melhorar um pouco vamos fazer isso, vamos fazer aquilo…

David Uip – Tem todo um planejamento, só que isso ainda é da conta da equipe, que tem planejamento científico, estratégico e prático. A equipe tem todo planejamento para várias situações. Isso é discutido todos os dias por toda a equipe. Mais eu vou me abster de falar porque é algo estratégico da conduta médica e do paciente.

Pergunta – O senhor disse que o coração está normal, mas ontem houve arritmia? Está normal o coração?

David Uip – Isso é uma fofoca.

Pergunta – Não, eu digo na madrugada anterior, que provocou o edema? Na madrugada anterior, anteontem. O coração está normal?

David Uip – Patrícia, sim. Vocês fazem perguntas que eu não sei se é de ontem, de anteontem.

Pergunta – É de hoje. O coração está normal?

David Uip – Hoje o coração dele está taquicárdico. Tem aumento do batimento cardíaco que é próprio do momento. Dentro dos limites daquilo que nós esperamos, próprio do momento. E outra coisa, as fofocas em paralelo que não são pertinentes.