Instituto de Imunologia vai alavancar pesquisas sobre câncer e AIDS

O projeto faz parte do programa de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT)

ter, 03/02/2009 - 21h02 | Do Portal do Governo

Rejeição de órgãos transplantados, doença reumática cardíaca, diversos tipos de alergias, doenças infecciosas e autoimunes, imunoterapia contra o câncer e vacinas contra o HIV/aids e o estreptococo beta-hemolítico/febre reumática são alguns dos estudos que estão sendo realizados no recém-criado Instituto de Investigação em Imunologia. Sob a direção do professor Jorge Kalil, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), o Instituto é um consórcio de 33 cientistas com seus grupos de pesquisa, espalhados por todo o Brasil. Segundo o professor, o foco principal é estudar a desregulação da resposta imune, que é causa determinante de inúmeras doenças que afetam milhões de pessoas.

O projeto faz parte do programa de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) de iniciativa do Governo Federal. A proposta desse instituto é unir pesquisadores com diferentes formações, como biólogos, químicos, farmacêuticos, médicos, físicos, para estudo multidisciplinar dos mecanismos fisiopatológicos das doenças, possibilitando intervenção terapêutica — a pesquisa de tradução, termo que vem do inglês translational research. O Instituto de Imunologia se propõe a desenvolver as pesquisas de tradução visando testar, em seres humanos, estratégias imunoterapêuticas inovadoras desenvolvidas por meio da experimentação.

Uma importante linha se dedica à doença reumática cardíaca, que é um problema nas válvulas do coração, consequência de uma infecção na garganta por estreptococos beta-hemoliticos e um processo autoimune subsequente, que desencadeia a doença propriamente dita. Kalil explica que a doença é responsável por 90% das cirurgias pediátricas realizadas no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP e responsável 30% das cirurgias em geral. “A doença era considerada a mais cara que tínhamos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) antes do aparecimento da aids”.

Câncer e AIDS

O Instituto retoma os estudos da imunidade contra o câncer, que foi bastante pesquisado nas décadas de 1960 e 1970, mas que obteve poucos resultados. Agora, o tema volta com muita força. “Temos algumas imunoterapias que se mostram bastante efetivas no tratamento do câncer. Propomos-nos a estudar dois tipos de imunoterapias, uma delas envolvendo uma proteína tumoral e a outra, uma vacina de DNA” conta o professor.

Quanto à AIDS, os laboratórios vinculados pesquisam as características da resposta imune contra o vírus HIV. Kalil relata que muitas das abordagens feitas para o desenvolvimento de vacinas esqueceram de pontos fundamentais na resposta imune contra o vírus. “Estamos acrescentando pesquisas na definição de fragmentos do vírus que sejam importantes na resposta da chamada célula T-auxiliadora ou CD4+, que é o principal alvo do vírus e cuja resposta é fundamental na proteção contra o HIV. Está planejado um ensaio clínico em voluntários de uma vacina anti-HIV baseada nesses princípios, a partir de algumas patentes que já temos na área” esclarece o professor.

Estrutura e resultados

O Instituto é baseado em São Paulo, com o Laboratório de Imunologia do InCor e com o Serviço de Imunologia Clínica e Alergia do HC, ambos sob a direção do professor Kalil; ainda na Capital, participam outros pesquisadores da FMUSP, da Faculdade de Saúde Pública (FSP), do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Instituto Butantan, Fundação Pró-Sangue, e Instituto Ludwig para Pesquisa sobre o Câncer; no interior, participam laboratórios da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro, além pesquisadores de outros estados, como Bahia, Sergipe, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Colaboradores do Maranhão e Piauí também participam. O investimento inicial é de R$7 milhões, porém, para cumprir as propostas, Kalil avalia ser necessário algo em torno de R$15 milhões, que terão que ser buscados em outras fontes.

Os projetos estão em vários estágios de desenvolvimento, desde aqueles que ainda estão em nível de pesquisa de bancada e experimentação animal, até outros mais avançados e próximos dos primeiros estudos clínicos. O professor explica que é difícil estimar uma previsão de tempo para os resultados de estudos clínicos, pois o andamento das pesquisas depende da liberação dos investimentos e de certas etapas regulatórias. “Se tudo correr bem, o tempo para os primeiros resultados em humanos pode girar em torno de 3 a 6 anos. Já o desenvolvimento de patentes e licenciamento de produtos para uso em pacientes é um caminho longo, por volta de 10 a 15 anos” afirma.

Da Agência USP de Notícias