Instituto de Botânica encontra espécies arbóreas quase extintas

Plantas raras foram localizadas no trecho sul do Rodoanel pelos pesquisadores durante trabalho de identificaçãol

qui, 24/04/2008 - 15h30 | Do Portal do Governo

Equipe de pesquisadores do Instituto de Botânica (IB) encontrou três espécies arbóreas ameaçadas de extinção no trecho sul do Rodoanel. A baga-de-morcego (Trichilia lepidota), a canela sassafrás (Ocotea odorifera) e Cupania furfuraceae, sem nome conhecido popularmente, foram identificadas durante trabalho de inventário da flora local e resgate de plantas e sementes. Os botânicos já tinham localizado outras espécies raras: duas orquídeas, uma palmeira e uma bromélia.

As palmeiras, herbáceas, epífitas e samambaias arbóreas foram priorizadas por se tratarem de grupos pouco estudados na região e onde se encontraria maior número de espécies raras, informa Luiz Mauro Barbosa, coordenador do projeto de reflorestamento do Instituto de Botânica. “As várias espécies que não se imaginava ter na região reforçam a afirmativa de que a biodiversidade é muito mais rica do que se pensava anteriormente”.

Além de inventariar a flora, o instituto tem coletado a serapilheira juntamente com o topsoil e alocado em áreas próximas às regiões onde a vegetação está sendo derrubada. A serapilheira é material orgânico e vegetal (folhas, flores, frutos e sementes) depositado na superfície do solo de uma floresta. Já o topsoil é uma camada orgânica superficial do solo, de 20 a 30 centímetros de espessura. Esse material servirá para acelerar a restauração da floresta nas futuras áreas de reflorestamento porque contém nutrientes fundamentais e até sementes, explica Barbosa.  

Diversidade genética – O inventário de plantas e a coleta de sementes serão úteis para garantir que o reflorestamento tenha o maior número de espécies nativas e com ampla diversidade genética. Haverá pelo menos 80 espécies por hectare para assegurar o equilíbrio dinâmico, já que na natureza há entre 100 e 200 espécies arbóreas, informa o coordenador. Barbosa reforça que a metodologia de trabalho adotada pelo IB “é uma experiência inovadora porque faz o inventário da flora, o resgate das plantas nas áreas de supressão de vegetação e se prepara para a restauração”.

Cita também a atuação na capacitação de pessoal para a colheita de sementes e produção de mudas. Para acelerar o processo de restauração, está prevista a produção e plantio de cerca de três milhões de mudas, mas falta mão-de-obra qualificada. O plantio abrangerá 1.016 hectares a serem restaurados e unidades de conservação (cinco parques), criadas como exigência de compensação ambiental do Programa de Reflorestamento. A região tem capacidade média de produzir entre 700 e 800 mil mudas.

O instituto tem treinado técnicos, monitores e estagiários dos municípios abrangidos pelo Rodoanel. O treinamento terá continuidade até o final da obra, em março de 2010. As plantas coletadas ficam nos chamados viveiros de resgate (dispostos ao longo dos cinco pontos do Rodoanel). O IB relaciona as espécies de interesse científico e de conservação e as envia para suas coleções e estudos. Pequena parte é encaminhada a outras coleções científicas no Brasil ou para prefeituras da região afetada pela obra.

Outro destino são os remanescentes florestais mais próximos de onde ocorreu a supressão da vegetação. O Programa de Reflorestamento é desenvolvido pela Dersa – Desenvolvimento Rodoviário S/A com orientação do Botânico, vinculado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente, e participação do Museu de Zoologia da USP, que faz o inventário da fauna. O trecho sul ligará Embu a Mauá. Corta os municípios de Itapecerica da Serra, São Bernardo do Campo e Santo André. Com 61,4 quilômetros de extensão e custo de R$ 3,6 bilhões, integrará as rodovias Anchieta e Imigrantes.  

Claudeci Martins

Da Agência Imprensa Oficial