Instituto Butantan desenvolve vacina para combater quatro doenças

Dose única poderá imunizar recém-nascidos contra difteria, coqueluche, tétano e tuberculose

sáb, 19/05/2001 - 21h10 | Do Portal do Governo

Dose única poderá imunizar recém-nascidos contra difteria, coqueluche, tétano e tuberculose

Cientistas brasileiros estão conseguindo, em meio a muitas tentativas mundiais, encontrar um caminho para a produção de uma única vacina que poderá imunizar recém-nascidos contra quatro doenças: difteria, coqueluche, tétano e também a tuberculose. A iniciativa é do Governo do Estado, por meio das secretarias estaduais da Saúde e de
Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico
.

O projeto está sendo coordenado pela pesquisadora científica Luciana Cezar de Cerqueira Leite, do Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan. A pesquisa tem apoio da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp) e conta ainda com a colaboração de pesquisadores do Instituto Pasteur, de Paris, além da empresa italiana IRIS/Chiron.

Os pesquisadores fizeram com que proteínas fabricadas pelas bactérias que provocam difteria, tétano e coqueluche fossem expressas num microrganismo – a bactéria BCG (Bacilo de Calmette-Guerin) – usada como vacina contra a tuberculose. Vale lembrar que o BCG é a vacina mais utilizada no mundo inteiro e foi aplicada pela primeira vez em 1921. As outras três doenças são prevenidas com a vacina tríplice.

Com os testes iniciais, os cientistas já verificaram que a BCG-DPT – como está sendo chamada a nova vacina – produz resposta imune (eficiente) em camundongos. No momento, juntamente com pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, está sendo confirmada sua eficiência contra a própria tuberculose. Segundo a pesquisadora Luciana, estas vacinas terão de ser modificadas para o uso humano. Em seguida, poderão ser feitos testes em macacos e, posteriormente, em seres humanos. Só então a vacina estará pronta para produção.

Maior segurança e menor custo

Com custo de US$ 0,08 por dose, a vacina de BCG-DPT é segura e apresenta baixa incidência de efeitos colaterais. O prazo de imunização é em torno de 20 a 30 anos. Outra vantagem é a possibilidade de aplicação em dose única nos bebês no momento do parto, quando grande parte das mulheres tem acesso a um hospital ou a um posto de saúde.
A medida poderá reduzir o custo de campanhas de vacinação e evitar as doses de reforço, que nem sempre conseguem ser cumpridas por pessoas do meio rural e com muitos filhos.
‘A tentativa com a BCG-DPT é fazer uma vacina eficaz e barata, com menos efeitos colaterais e que alcance uma proporção maior da população’, define a coordenadora do projeto, Luciana Cerqueira Leite.

Laboratório especial

O laboratório do Centro de Biotecnologia do Butantan foi criado especialmente para o desenvolvimento da vacina. O local tem biossegurança de nível II, exigência da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para trabalhos com bactérias que têm grau de risco relativo. O Instituto Butantan foi responsável pela construção do prédio. A Fapesp investiu cerca de US$ 150 mil em um sistema de ar filtrado, equipamentos e insumos.