Instituto Butantã estuda substâncias de combate ao câncer

Vantagens de anticorpos pesquisados é que vão direto às áreas dos tumores, preservando as células saudáveis

qui, 09/08/2007 - 11h38 | Do Portal do Governo

O tratamento para o câncer no Brasil ganhará novas perspectivas num futuro próximo. Recentemente, o Instituto Butantã firmou parceria inédita com uma empresa para estudar e desenvolver em escala comercial, pela primeira vez no País, os chamados anticorpos monoclonais – substâncias inovadoras direcionadas para combate ao câncer.

A vantagem desses anticorpos é que são gerados para serem direcionados. Ou seja: as substâncias vão direto às áreas afetadas, procurando resguardar as células saudáveis, ocasionando menos efeitos colaterais ao paciente. “É o que se chama de terapia-alvo”, explica a coordenadora do projeto, Ana Maria Moro, pesquisadora científica do Instituto Butantã.

As células de áreas do corpo com tumor apresentam em suas superfícies marcas diferentes, chamadas de marcadores, que as distinguem das células saudáveis. Os anticorpos que serão desenvolvidos objetivam se ligar a esses marcadores, atuando como mecanismo de chave-fechadura.

Como agem de maneira específica, essas substâncias podem ser utilizadas em dosagens menos agressivas para todo o organismo. Outro ponto positivo é que, além de elas mesmas poderem induzir a morte das células com tumor, chegam a atrair células do sistema imune para o local, fazendo com que esse sistema seja ativado para combater o tumor.

Camundongos

A pesquisadora observa que, da mesma maneira que esses anticorpos, a quimioterapia e radioterapia podem ser muito eficazes. Entretanto, a quimioterapia age, na maioria das vezes, de forma indiscriminada, apresentando efeitos colaterais graves. A radioterapia, mesmo aplicada localmente, também ocasiona esses efeitos de modo substancial.

No caso dos anticorpos, não significa que o organismo esteja completamente livre de efeitos colaterais. Verifica é que eles são muito mais suaves. Os anticorpos podem ser usados também em associação com quimioterapia. “Tem-se a idéia de que, atuando em conjunto, eles direcionem a quimioterapia, empregada em doses menores”, explica Ana Maria.

Há oito tipos de anticorpos monoclonais para tratamento de câncer disponíveis em todo o mundo. Um dos estabelecimentos que os desenvolvem é o Instituto Ludwig, com sede nos Estados Unidos. Por meio da Recepta Biopharma, empresa de biotecnologia localizada em São Paulo, a instituição americana disponibiliza para o Butantã estudo sobre quatro anticorpos desenvolvidos em camundongos. O que será feito no Brasil é dar continuidade a essas pesquisas, para tornar os anticorpos aptos a serem utilizados em pessoas.

O projeto conta com a participação da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que entrará com um aporte de R$ 6 milhões. Da parte da Recepta há parcerias com o Departamento de Patologia Clínica da Faculdade de Medicina da USP, encarregado de fazer triagem inicial dos tumores. A Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP fará os ensaios em animais, e alguns hospitais, para a realização de ensaios clínicos em pessoas. A Recepta entrará com R$ 2 milhões.

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Paulo Henrique Andrade

Da Agência Imprensa Oficial