Iniciativas da Fapesp produzem resultados positivos na biotecnologia

Empresa apoiada por programa da fundação desenvolveu processos que reduzem o impacto ambiental na produção de papel

qui, 24/01/2019 - 15h18 | Do Portal do Governo

Os programas Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) e de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pappe-Subvenção), com participação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), produzem resultados positivos em diversas áreas do conhecimento científico.

Especializada em biotecnologia, a companhia Verdartis desenvolveu um processo de produção de enzimas (proteínas que desempenham a função de catalisadores) capazes de tornar o processo de refino de celulose mais sustentável. Com isso, é possível reduzir o impacto ambiental na produção de papel.

Pesquisadores e sócios da empresa, instalada no Centro de Negócios do Parque de Inovação e Tecnologia Supera, em Ribeirão Preto, Marcos Lourenzoni e Álvaro de Baptista Neto revelam que, no processo de produção de papel, a pasta de celulose, obtida no processo físico-químico Kraft a partir de cavacos de madeira, passa por refinadores que provocam mudanças estruturais nas fibras, tornando-as mais flexíveis.

Os empreendedores destacam que o processo é mecânico e, por isso, consome uma quantidade considerável de energia elétrica. A ação das enzimas ajuda a degradar as fibras de celulose, acelera os procedimentos e diminui a energia elétrica utilizada na produção.

Energia

Segundo uma avaliação realizada no Laboratório de Celulose e Papel da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, a mistura das enzimas produzidas pela Verdartis leva à redução de cerca de 30% no consumo de energia gasto na etapa de refino.

A startup concluiu o projeto Pipe, da Fapesp, em abril de 2017, chegando ao desenvolvimento do processo produtivo de variantes melhoradas de enzimas celulases e xilanases que, misturadas em diversas proporções, podem atuar tanto no refino da fibra virgem de celulose quanto no refino de celulose proveniente do papel reciclado.

O plano da empresa é buscar o apoio da Fapesp para o desenvolvimento do escalonamento da produção. Os sócios têm o objetivo de colocar no mercado uma alternativa nacional às enzimas produzidas no exterior. “Existe uma alta demanda por esse produto e não há produção nacional. As enzimas usadas atualmente são importadas”, relata Álvaro de Baptista Neto.

A empresa já tinha contado com o apoio do Pipe para desenvolver a tecnologia batizada com o nome de “Persozyme”, baseada no processo denominado “evolução dirigida”, que mimetiza in vitro a evolução da biodiversidade natural e permite a seleção de enzimas com características predefinidas.

A enzima tem a função de facilitar o acesso desses compostos à lignina e, assim, reduzir a quantidade de dióxido de cloro utilizado na produção, o que resulta em ganhos ambientais e financeiros. “A utilização da enzima permite a redução de cerca de 25% na utilização de dióxido de cloro”, explica Marcos Lourenzoni.

Apoio

Na pesquisa e desenvolvimento, além de outros cinco projetos financiados pelo Pipe, a empresa também teve apoio do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto. A parceria foi o que estimulou a constituição da empresa, em 2007.

Em 2010, os resultados com a produção de enzimas personalizadas para branqueamento de celulose renderam à Verdartis o primeiro lugar no Prêmio Abiquim de Tecnologia, concedido pela Associação Brasileira da Indústria Química na categoria “Empresa Nascente”.

Contudo, o reconhecimento não tornou a empresa imune às crises enfrentadas pelo setor. “Por volta de 2011, o custo da água ficou muito alto e as empresas de celulose começaram a usar menos o recurso na lavagem, o que limitou a utilização da enzima para o branqueamento, pois o processo requer uma lavagem eficiente”, lembra Álvaro de Baptista Neto.

Segundo os sócios, a saída foi redirecionar o modelo de negócio, que se voltou para novas pesquisas direcionadas à etapa do refino. Agora, com o produto destinado ao refino já desenvolvido e prestes a ingressar no mercado em escala industrial, a Verdartis tem planos de retomar a produção de enzimas ligadas ao processo de branqueamento de papel.