Incubadora da USP leva formação social à economia solidária

Idéia é subsidiar pequenos grupos de trabalhadores para formar empreendimentos solidários

seg, 19/02/2007 - 16h25 | Do Portal do Governo

“A Economia Solidária surge como um modo de produção e distribuição alternativo ao capitalismo, criado e recriado periodicamente pelos que se encontram, ou temem ficar, marginalizados do mercado de trabalho”. A explicação do professor Paul Singer, docente aposentado da Faculdade de Economia Administração e Contabilidade (FEA) da USP e atual secretário nacional de economia solidária, diz respeito a um dos princípios norteadores das ações desenvolvidas pela Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da USP, ligada a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária.

Por meio de ações e discussões multidisciplinares – que envolvem economia, sociologia, admnistração, política, entre outras -, a Incubadora pretende fornecer subsídios para que pequenos grupos de trabalhadores, geralmente de baixa renda, consigam formar os chamados empreendimentos solidários: grupos de trabalho ligados à economia solidária que têm como principal característica a auto-gestão em seu modelo administrativo.

Nesses grupos, que se constituem legalmente como cooperativas ou associações, todos os integrantes participam das etapas de gestão e produção, e dessa forma, podem interferir diretamente na administração do negócio. “Eles são donos de tudo do meio de produção. Mas as ações aparecem sempre em forma de regras, colocadas pelo grupo dentro de um regimento ou de um estatuto”, explica Silvana Campos, que participa do Conselho Orientador da Incubadora desde 1999.

 

Para isso, a ITCP mantém um corpo de 25 formadores – alunos e professores de diversas unidades da USP, como FEA e Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH), além de técnicos ligados à própria Incubadora – que participam diariamente das atividades do projeto, levando contribuições relacionadas a suas respectivas áreas às discussões. Esses formadores são os responsáveis por visitar e acompanhar semanalmente o andamento dos dez empreendimentos incubados atualmente pela ITCP – desde sua criação, em 1998, cerca de 40 já passaram pela Incubadora.

 

Além desse contato direto com os grupos de trabalho, a Incubadora age em diversas outras frentes: realiza discussões periódicas com os grupos, sobre conceitos que podem auxiliar na busca por formatos viáveis de auto-gestão, e dá apoio à construção de redes de compras e informações entre empreendimentos próximos. Hoje já existe a Rede Solidária da Zona Sul, e está sendo criada a Rede do Butantã.

 

Mas não é apenas do conhecimento da Universidade que vem a consolidação dos empreendimentos. A Incubadora também faz valer o conhecimento prático adquirido pelos próprios grupos de trabalho. “Os grupos com os quais a gente trabalha têm um conhecimento prático muito grande. Então a Universidade ajuda na transformação dessa sabedoria, desse senso comum, em conhecimento sistematizado. E, a partir da Incubadora, esse conhecimento sistematizado é devolvido aos grupos de trabalho e não fica fechado nos muros da Universidade. E é com esses novos conhecimentos que os grupos vão organizando suas práticas de auto-gestão”, diz Silvana.

Mais do que a geração de renda, a Incubadora pretende que os grupos de trabalhadores consigam desenvolver mecanismos para caminharem com forças próprias: “A idéia é que eles acabem se tornando protagonistas das suas histórias. Essa possibilidade representa uma nova forma, não só de produção, mas também de vida”.

Um exemplo desse sucesso foi o seminário organizado por iniciativa da Rede Solidária da Zona Sul, que ocorreu nessa quinta-feira (15), no bairro do Campo Limpo, extremo sul da capital paulista. “É uma vitória eles terem conseguido se organizar dessa forma”, comemora Silvana. O evento discutiu o desenvolvimento econômico da região, e convidou a população a fazer parte do processo, como agentes locais de desenvolvimento. A intenção é que, após um curso, eles trabalhem como formadores de economia solidária juntamente com as equipes das incubadoras.

Da Agência USP