Hospital do Servidor Público oferece tratamento a idosas que sofrem com incontinência

O programa do Núcleo de Assoalho Pélvico é multiprofissional, com acompanhamento de ginecologista, proctologista, urologista e fisioterapia

sex, 22/04/2011 - 20h00 | Do Portal do Governo

Exercícios de fortalecimento muscular melhoraram a qualidade de vida das mulheres com mais de 60 anos que sofrem incontinência urinária e fecal. O Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) oferece a técnica desde novembro do ano passado e registra bons resultados, até mesmo em idosas com 90 anos de idade. “O sucesso é obtido em 85% das pacientes atendidas. Desconheço hospital público do Estado com proposta semelhante”, informa a proctologista Margareth da Rocha Fernandes, responsável pelo programa de reabilitação do períneo.

A santista dona Olívia de Oliveira Libório, 90 anos, que sofre com esse tipo de problema percebe melhoras: “Participei das sessões de fisioterapia e não perco mais urina como antes; só se fico com preguiça de ir ao banheiro. Faço os exercícios em casa todo dia. Mesmo hoje, às 4 horas da manhã, antes de vir para cá, fiz os exercícios recomendados. Logo vou voltar a frequentar a missa e fazer meus passeios”.

A filha Maria de Lourdes também está otimista quanto à recuperação da mãe: “Agora, ela vai mais vezes ao banheiro, tem mais resistência e consegue segurar a urina e as fezes por mais tempo. Só perde quando fica muito tempo sentada”.

O programa do Núcleo de Assoalho Pélvico é multiprofissional, com acompanhamento de ginecologista, proctologista, urologista e fisioterapia. Assoalho pélvico é a região da musculatura do períneo que sustenta o reto, vagina, bexiga e útero. “Com o tempo, essa musculatura se enfraquece, é substituída por gordura e não consegue sustentar os órgãos do períneo, o resultado é a incontinência. A pessoa não controla momento e local apropriados para urinar e defecar”, explica a fisioterapeuta Priscila Midori Yoda de Mendonça. 

A médica conta que a assistência é oferecida especialmente à mulher, pois os problemas raramente atingem o homem. “As incontinências urinária e fecal são raras no sexo masculino e só ocorrem em poucos casos de pós-cirúrgico na região pélvica ou trauma do períneo por acidente e queda que resultem no rompimento do esfíncter”.

Exercícios em casa

Entre as mulheres com mais de 60 anos, 17% têm incontinência urinária e fecal. De 30 a 40% das idosas apresentam incontinência urinária. Idade avançada, gestação, obesidade, tabagismo com tosse crônica e dificuldade de evacuar são as vilãs dos problemas. “O assoalho pélvico é sobrecarregado quando a pessoa faz grande esforço para evacuar ou tosse e espirra de forma crônica”, informa a proctologista.

A região do períneo é forçada desde a gestação até o parto (normal): “Nos nove meses, a mulher aumenta de peso. Na hora do parto normal, o músculo do períneo também é sobrecarregado. Hoje em dia, a situação é frequente com o elevado número de inseminação artificial e nascimento de gêmeos, trigêmeos”, acrescenta a médica.

O serviço destina-se a paciente com incontinência leve ou moderada, que chega ao programa de reabilitação do períneo por encaminhamento médico do próprio HSPE. É uma opção de tratamento a quem não tem indicação de cirurgia. A mulher assiste à palestra para conhecer o procedimento e seus efeitos no organismo. Em seguida começam as sessões, que duram de cinco a seis semanas, (duas sessões semanais de uma hora cada). São oferecidas, em média, 25 vagas por mês.

As técnicas consistem de exercícios progressivos de recuperação da musculatura interna empregados com aparelhos de eletroestimulação e biofeedback. A médica Margareth explica que a maioria das idosas não sabe como contrair essa musculatura. Nesses casos, a fisioterapeuta usa aparelho de eletroestimulação – dispositivo introduzido no canal genital que oferece estímulo elétrico para ativar os mecanismos de contração do períneo.

Repetição

Já pelo biofeedback, a mulher recebe o dispositivo no canal genital, mas realiza seus próprios movimentos de contração e retração do músculo de acordo com estímulos visuais e auditivos. O aparelho informa o desempenho da pessoa quanto à pressão do músculo. Ela começa a recuperar a força perdida do períneo e com a repetição contínua consegue controlar suas necessidades básicas.

“A técnica não é indicada a idosa com lesão total do músculo, pois os comandos estimulados na fisioterapia não chegam ao nervo. Também não serve para caso de incontinência urinária de esforço moderado, grave e intenso”, adverte a médica Margareth.

Quatro anos após a cirurgia para conter a incontinência urinária, R. G. S., 66 anos, relata dificuldade para conter as fezes. Procurou o hospital para tratar-se e aliviar o desconforto: “Não sinto segurança para sair de casa porque tudo isso resulta numa situação muito incômoda”.

Ela acaba de assistir à palestra de apresentação da fisioterapia e está otimista: “Achei a palestra ótima, entendi o tratamento e estou segura. Sei que devo continuar os exercícios em casa todo dia”. Como ela teve dois partos normais com utilização de fórceps, a fisioterapeuta explica que o aparelho “esgarçou” a região do períneo.  

“A paciente deve aprender os exercícios e assumir o compromisso de fazê-los rotineiramente em casa”, frisa a médica. A fisioterapeuta compara o sucesso do trabalho à prática de musculação: “Os músculos só se fortalecem se houver treinamento frequente”. A equipe médica faz exames para avaliar a condição da mulher antes e 90 dias após o tratamento e conclui sucesso em 85% das atendidas.

Avaliação de especialistas

O urologista Homero Bruschini, professor de Faculdade de Medicina da USP, diz que as técnicas existem há mais de dez anos e são empregadas em casos específicos de incontinência urinária. “O HC possui esses procedimentos, mas não são oferecidos rotineiramente por ser hospital terciário. Entre as indicações, constatamos progresso em 30% das mulheres. É válido por ser menos agressivo que a cirurgia”.

Na área de incontinência fecal, o coloproctogista Rodrigo Âmbar Pinto, também do HC, diz que as técnicas são novas e estudos europeus indicam possível viabilidade: “Os resultados são eficientes e razoáveis em paciente com falha no esfíncter (músculo do ânus) e incontinência leve, pois fortalecem a musculatura. Não estão disponíveis na maioria dos serviços públicos pela falta de funcionários e aparelhos”. Ele informa que o HC pretende adquirir o aparelho de eletroestimulação sacral (custa R$ 60 mil) com apoio de projeto de pesquisa. O biofeedback será comprado por cerca de R$ 30 mil.  

Da Agência Imprensa Oficial