Hospital das Clínicas testa nova técnica de cirurgia de hérnia de disco

Feita com jatos de água, intervenção médica devolve a mobilidade ao paciente em três minutos

seg, 09/05/2011 - 10h00 | Do Portal do Governo

Cortes pequenos, pouca dor e recuperação rápida. Esse é o novo método de uma cirurgia minimamente invasiva que pode devolver a qualidade de vida a pessoas com problema de hérnia de disco. A técnica está sendo testada por uma equipe do Hospital das Clínicas.

Luiza Aparecida Demarchi, 54 anos, que há cinco não via esperanças de aliviar as fortes dores na perna direita, causada pela hérnia de disco, passou pela cirurgia que retirou o tecido defeituoso em apenas três minutos. Ela e outros pacientes participam no HC de uma pesquisa coordenada pelo médico ortopedista e cirurgião de coluna Alexandre Fogaça, que avalia a eficiência desse procedimento.

Enquanto a equipe do dr. Fogaça se preparava para realizar a operação no centro cirúrgico do Hospital Abreu Sodré (AACD – São Paulo), Luiza aguardava numa sala ao lado. Depois de  passar por diversos tratamentos com remédios e fisioterapias – todos aparentemente inúteis – ela admitia uma certa descrença a respeito dos resultados. “Não existe pior sensação do que a dor. Passei todos esses anos sem esperança, atrás de uma solução para tudo isso. E a dor sempre volta”.

Segundo o dr. Fogaça, a dor é apenas uma das complicações da hérnia de disco: “O paciente nessa situação fica com a mobilidade reduzida, deixa de praticar atividade física, ganha peso e, em muitos casos, entra em um quadro clínico de depressão”. Ainda de acordo com o médico, apenas cerca de 10% dos pacientes com hérnia de disco necessitam de intervenção cirúrgica. Mas a nova técnica permite que os pacientes tenham uma recuperação mais rápida, para poderem voltar às atividades normais.

A técnica

A técnica consiste na aspiração do material que se acumula entre as vértebras, com a utilização de equipamentos de última geração. Faz-se um pequeno corte de 0,5 centímetro na coluna do paciente e por ali é introduzida uma minúscula cânula (tubo de metal) que dispara jatos de água a 700 quilômetros por hora. Pelo  mesmo tubo, enquanto são disparados jatos de soro fisiológico, é retirado o tecido gelatinoso que consiste na hérnia e provoca as dores. Monitores e equipamentos de raios-X oferecem à equipe medica a visualização do campo cirúrgico. O paciente recebe apenas anestesia local e permanece acordado durante todo o processo.

Para realização da cirurgia, o dr. Fogaça contou com o apoio do médico americano Mitchell Hardenbrook, integrante da equipe do dr. Phil Son Choi, que realiza estudos coordenados sobre cirurgias minimamente invasivas.

Após a rápida operação (são exatos 3 minutos, descontado o tempo de preparação), Luiza deixa a sala com um largo sorriso no rosto. Ela é conduzida numa maca, mas até poderia sair andando e só não faz isso por conta da precaução dos médicos. “Foi tudo tão rápido! Nem acredito que posso voltar a movimentar minha perna sem sentir aquela dor terrível”, diz, enquanto agradece aos médicos. 

Também por precaução permanecerá no hospital até o dia seguinte, quando já poderá caminhar normalmente. Aí vai fazer o que mais gosta: brincar com os seus quatro cães. “Quando sair daqui, pretendo voltar à minha rotina de trabalho, diversão e fazer algum esporte. Mas minha vida vai ser outra”, comemora.

O que é a hérnia

A coluna vertebral é composta por vértebras, em cujo interior existe um canal por onde passa a medula espinhal ou nervosa. Entre as vértebras cervicais, torácicas e lombares, estão os discos intervertebrais, estruturas em forma de anel, constituídas por tecido cartilaginoso e elástico cuja função é evitar o atrito entre uma vértebra e outra e amortecer o impacto. Os discos desgastam-se com o tempo e o uso repetitivo, o que facilita a formação de hérnias. O problema é mais frequente nas regiões lombar e cervical, por serem áreas mais expostas ao movimento e que suportam mais carga.

Material importado

As cânulas utilizadas para sugar o tecido que compõe a hérnia ainda não são fabricados no Brasil. Precisam ser importados dos Estados Unidos e custam cerca de 15 mil reais cada um. E têm vida útil de três anos. 

Da Agência Imprensa Oficial