Hospitais orientam sobre doenças ligadas ao ecoturismo

Ecoturistas têm informações sobre locais de ocorrência de malária e outras doenças infecciosas

ter, 15/04/2008 - 10h15 | Do Portal do Governo

Percorrer trilhas na mata, nadar em rios e cachoeiras, beber água diretamente de nascentes. Embora aparentemente inofensivas, essas e outras práticas ecoturísticas podem colocar a sua saúde em risco. Por essas e por outras, quem se dirige às áreas naturais conta com orientações sobre como se proteger de doenças ou mesmo como se vacinar. E quem retorna desses locais com algum tipo de sintoma ou suspeita de infecção também obtém esclarecimentos e cuidados. Dois endereços na capital oferecem orientações aos viajantes em geral, incluindo os ecoturistas: o Ambulatório dos Viajantes do Hospital das Clínicas e o Núcleo de Medicina do Viajante do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

Tânia Souza Chaves, médica assistente do Ambulatório dos Viajantes e coordenadora do Núcleo de Medicina do Viajante do Instituto Emílio Ribas, destaca que um dos focos de atenção de qualquer viajante (não apenas dos ecoturistas) deve ser a prevenção de doenças durante a viagem. De acordo com ela, prevenir enfermidades é o principal objetivo da medicina de viagem.

Para isso, as orientações ao viajante abrangem desde recomendações para se precaver contra moléstias transmitidas por água e alimentos até a vacinação. Segundo a médica, quem se embrenha em ambientes silvestres deve ter cuidado também com animais peçonhentos (cobras, escorpiões e aranhas), acidentes com plantas e doenças transmitidas por vetores – insetos ou pequenos parasitas que servem de intermediários entre alguns animais e o homem. 

Água e alimentação – Água e alimentos, especialmente os de procedência duvidosa, representam alto risco para os viajantes em geral. No caso do ecoturismo merece cuidado, por exemplo, o consumo de água de riachos e nascentes encontrados ao longo das áreas silvestres. A prática – comum a quem faz trilhas, guias turísticos e praticantes de esportes de aventura na mata – pode, muitas vezes, acarretar problemas de saúde.

Mesmo que essa água seja aparentemente muito limpa, cristalina, a médica recomenda não bebê-la. “Não tenho nenhuma experiência, nem ouvi nenhum relato de avaliação química, microbiológica de uma água de nascente”, revela. O tratamento, entretanto, especialmente com hipoclorito de sódio, pode evitar infecções.

Entre as enfermidades causadas por água e alimentos contaminados, a mais comum é a diarréia dos viajantes. As bactérias representam a principal causa desse tipo de moléstia.

Outras doenças também transmitidas por essas vias são a hepatite A e a febre tifóide (mais comum no Norte e Nordeste do País). Não muito comuns em ecoturistas, acometendo mais aqueles que passam um período em áreas rurais, são as parasitoses intestinais – desde a amebíase, giardíase até teníase e a neurocisticercose, as duas últimas adquiridas pelo consumo de carnes malpassadas, notadamente as de porco. A teníase e a neurocisticercose são duas doenças diferentes. A primeira evolui para uma parasitose e a neurocisticercose, forma mais grave, ataca o sistema nervoso central.

A doença de Chagas – transmitida pelo inseto conhecido como barbeiroé outra que também pode ser adquirida por meio de alimentos – embora menos freqüente. A transmissão pode ocorrer pela ingestão de caldo-de-cana e açaí com as formas infectantes da moléstia (quando o barbeiro contendo o Trypanosoma cruzi é moído junto com a cana ou o açaí). Em 2005, por exemplo, houve um surto no litoral de Santa Catarina decorrente do consumo de caldo-de-cana contaminado com o Trypanosoma cruzi. No caso do açaí, todos os registros da doença, segundo Tânia, revelam a ocorrência em áreas rurais e nativas, principalmente a Amazônia. Com relação ao consumido em cidades, desconhece relatos sobre o assunto. “Acredita-se que a pasteurização reduza ou elimine essas formas”, pondera. 

Vetores – Quanto às doenças transmitidas por vetores, uma delas é a febre amarela. As áreas de risco de transmissão são as situadas próximas a rios e matas – portanto, áreas silvestres. Prova disso são os casos recentes ocorridos no País: quase todos relacionados ao contato que as vítimas tiveram com áreas de matas e locais ecoturísticos no Estado de Goiás. As regiões de perigo de febre amarela no País são o Distrito Federal, os Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, noroeste de Minas Gerais, Sudeste e noroeste de Mato Grosso, Noroeste de São Paulo e Centro-Oeste do Paraná, além do Maranhão e toda a região norte. A forma de se proteger da febre amarela é tomando a vacina, disponível há 70 anos e recomendada prioritariamente a quem se desloca para esses locais.

A malária é outra doença transmitida por vetores, e para a qual não existe, até o momento, vacina eficaz. A doença – que ocorre em 99% dos casos na região amazônica – pode ser adquirida também em regiões de mata atlântica, inclusive no Estado de São Paulo e no Espírito Santo. “Já atendi casos procedentes de Barra do Una, Boiçucanga e Ubatuba”, informa a médica. O mosquito transmissor está presente tanto no litoral norte (região de Ubatuba) como em áreas ao sul do Estado (caso do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira – Petar). Mesmo na capital, no bairro de Engenheiro Marsilac, extremo sul da cidade, próximo a áreas silvestres, há notificações da doença.

A malária é causada por protozoários (Plasmodium sp). A doença, que pode ser encontrada no Estado de São Paulo, provocada pelo Plasmodium vivax, é benigna e dispõe de tratamento e cura. O agente transmissor é autóctone, próprio da região de mata atlântica. Há outros três tipos da doença transmitidos respectivamente pelos Plasmodium malariae, Plasmodium falciparum e Plamodium ovale (este não encontrado no Brasil). A forma mais grave é causada pelo Plasmodium falciparum, também conhecida como maligna, existente na África e no norte do País (mas numa parcela pequena).

Outra transmitida por vetores é a leishmaniose. A enfermidade causa lesões na pele e mucosas (caso da leishmaniose tegumentar ou úlcera de Bauru) ou, até mesmo, aumento do fígado e baço, anemia e outros sintomas (leishmaniose visceral ou calazar), podendo neste último caso levar à morte, se não tratada. As leishmanioses são comuns em animais (como os cães), sendo transmitida ao homem pelo mosquito-palha.

Há, ainda, a febre maculosa, causada por bactéria e que pode levar a óbito se não for diagnosticada em tempo. É transmitida ao homem por carrapatos-estrela infectados. A dengue, também propagada por mosquitos (Aedes aegypti), atualmente é responsável por epidemias nas grandes cidades brasileiras, caso do Rio de Janeiro, por exemplo. 

Meio ambiente – O ecoturista está exposto ainda a doenças não transmitidas por vetores, relacionadas ao contato com o meio ambiente propriamente (ao nadar, por exemplo). Desse grupo fazem parte a leptospirose e a esquistossomose. A bactéria leptospira, causadora da leptospirose, pode estar presente em córregos e outros locais onde há circulação de roedores. Basta que a pessoa nade em água contaminada para se infectar.

A esquistossomose (também chamada de barriga d’água) é uma verminose que acomete quem entra em lagos ou rios infectados pelas larvas do Schistosoma mansoni, verme que se utiliza de um caramujo de água doce como hospedeiro intermediário. A aquisição do verme se dá por sua penetração na pele e mucosas ou pelo consumo de água contaminada. O agravamento da doença provoca prisão de ventre, aumento do fígado e baço, podendo levar à morte. 

Animais – Outro grupo compreende as doenças transmitidas por animais, como a raiva, para a qual existe vacina. A transmissão se dá em geral por morcegos, principalmente em locais de cavernas e pela manipulação inadvertida de animais domésticos ou silvestres. 

Paulo Henrique Andrade

Da Agência Imprensa Oficial