HC-SP auxilia transexuais a elevar auto-estima e enfrentar preconceito

Ambulatório de Transexualismo oferece cirurgia, assistência psicológica, psiquiátrica e reposição hormonal

qua, 24/10/2007 - 10h47 | Do Portal do Governo

Ainda na infância, o menino prefere brincar e se relacionar com as meninas, pois necessita exercer o papel invertido. Na adolescência, quando suas características físicas e biológicas (como barba e voz grossa) são mais definidas, uma das conseqüências desse comportamento é o sofrimento excessivo. “Isso porque, apesar do desenvolvimento dos hormônios masculinos, o garoto apresenta identidade feminina”, explica a endocrinologista Elaine Maria Frade Costa.

Esses sintomas são característicos da transexualidade, anomalia relacionada no Código Internacional de Doenças (CID). Os médicos chamam o problema, que se manifesta em homens e mulheres, de transtorno de identidade sexual de gênero invertido. O transexual masculino nasce com a genitália masculina, mas rejeita o órgão, porque se sente mulher desde a infância. 

O transexual feminino é a mulher que se percebe psicologicamente como homem, também desde pequena. Nos dois casos, como a percepção interna de si mesmo é oposta às suas características físicas (sexo), a situação causa bastante angústia. Entre os principais problemas enfrentados pelos transexuais destacam-se o preconceito e as dificuldades de aceitação pessoal e de relacionamento.

História de vida

Para elevar a auto-estima dessas pessoas e incentivá-las a ultrapassar os traumas e problemas decorrentes da doença, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) mantém, desde 1997, o Ambulatório de Transexualismo da Clínica Médica de Endocrinologia do Desenvolvimento, coordenado pela endocrinologista Elaine.

Assim que chega à unidade, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, encaminhado pelo Projeto Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do HC, ou por indicação externa, o paciente é cadastrado, aguarda a chamada (em média dois meses) e passa por avaliação psicológica.

Em oito sessões de terapia, identificam-se os casos de transexualismo, homossexualismo ou travestismo. A análise reconhece, também, doenças psiquiátricas como esquizofrenia e psicose. A profissional entrevista o paciente, traça a sua história de vida e realiza testes de personalidade e psicológicos para diagnosticar o problema.

As psicólogas Elisa Del Rosário Ugarte Verduguez e Marlene Inácio informam que as causas da transexualidade dependem de fatores biológicos, psíquicos e também da influência social. “A pessoa pode nascer com predisposição genética, favorecida pelos relacionamentos e ambientes que freqüenta”, avaliam.

Em dez anos de funcionamento, o ambulatório recebeu 231 homens e mulheres que se autodenominaram transexuais. Os testes psicológicos revelaram que, desse total, 54 eram transexuais masculinos e 25 femininos, ou seja, 30% dos pacientes avaliados apresentaram a anomalia. Quem recebe o diagnóstico de transexual continua no ambulatório, os demais são encaminhados para terapia em outras unidades de saúde.

Atendimento psicológico 

No HC, a próxima fase do tratamento é a assistência psicológica e psiquiátrica. “A terapia é necessária para entenderem que sempre serão transexuais, mas precisam se aceitar e se preparar para enfrentar as dificuldades de relacionamento e o preconceito”, avisa Elisa.

Nos encontros, as psicólogas escutam as principais queixas dos pacientes e lhes oferecem apoio para melhoria da auto-estima. “Quando a pessoa começa a se aceitar, decide voltar a trabalhar e se reconcilia com a família”, garante Marlene.

Depois dos primeiros seis meses da terapia, inicia-se a reposição hormonal. Ao transexual masculino, a endocrinologista recomenda hormônio feminino que resulta no crescimento de mamas, mudança na entonação da voz e redução da barba e dos demais pêlos do corpo.

Para o transexual feminino, receita hormônio masculino para a suspensão da menstruação, aumento da massa muscular, de pêlos, aparecimento de barba e até calvície. A voz fica mais grossa. A cada seis meses voltam ao endocrinologista.

A cirurgia de mudança de sexo é a última etapa da assistência e só é realizada após, no mínimo, dois anos de terapia, de acordo com a determinação do Conselho Federal de Medicina. “O procedimento não resolve a questão da transexualidade, só faz uma adequação ao sexo, pois os problemas sociais continuarão e a pessoa estará preparada para isso”, frisa a endocrinologista. A operação é proibida para doentes psiquiátricos.

SERVIÇO

O número do telefone para informações sobre consultas no Ambulatório de Transexualismo do HC é (11) 3069-6086

Viviane Gomes

Da Agência Imprensa Oficial

(I.P.)