HC da Unicamp foi o hospital estadual que mais realizou transplant​es cardíacos em adultos em 2011

Foram 13 procedimentos contra seis do ano anterior, superando o HC de SP e o Instituto Dante Pazzanese

qui, 16/02/2012 - 8h00 | Do Portal do Governo

O Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp foi o hospital do Estado de São Paulo que mais realizou transplantes cardíacos em adultos em 2011, totalizando 13 procedimentos contra seis do ano anterior, e superando o HC de São Paulo e o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, ambos da Capital. “Considerando todos os tipos de transplantes, nosso hospital é o que mais oferece este procedimento no interior. Atingimos a marca de 5 mil transplantes em 2010 e, nesse último ano, através de uma grande participação dos grupos de Cardiologia e de Cirurgia Cardíaca, tivemos um aumento expressivo no número de transplantes cardíacos. É um motivo de orgulho e de comemoração para o HC”, afirma o superintendente Manoel Barros Bértolo.

Otávio Rizzi Coelho, chefe da Área de Cardiologia, atribui este crescimento à decisão da Superintendência de  estimular os transplantes de uma forma geral e à série de investimentos feitos juntamente com a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) na formação de recursos humanos e contratação de pessoal especializado. “Além disso, as áreas de Cirurgia Clínica e de Cirurgia Cardíaca se uniram no sentido de viabilizar um número maior de transplantes. Tínhamos os pacientes, o serviço de transplantes indo bem e o de captação de órgãos também. Então, foi o trabalho de organizar e criar as condições necessárias, principalmente em recursos humanos. E, provavelmente, vamos bater os números do ano passado.”

Atualmente, perto de 12 pacientes estão na fila de espera pelo transplante
de coração, segundo o cirurgião cardíaco Orlando Petrucci Junior. “Temos um paciente priorizado na UTI, recebendo drogas vasoativas e que tem preferência para receber o órgão, caso contrário, vai acabar falecendo. Para os priorizados, a espera varia bastante: houve um paciente que priorizamos à noite e transplantamos no dia seguinte, e outros que esperaram mais de mês e meio. Para os não priorizados, o tempo médio é de três meses. A mortalidade na fila de espera gira ao redor de 20%”.

Uma melhoria destacada pelos médicos é da operacionalização do transporte aéreo de órgãos, com a colaboração das Polícias Civil e Militar e, na impossibilidade destes, com a contratação de serviço particular. “Tanto a Superintendência do HC como a Secretaria Estadual da Saúde trabalharam no sentido de acabar com esta limitação: muitas vezes, tínhamos órgãos disponíveis em São Paulo, mas não íamos captá-los porque era inviável entrar e sair da cidade em menos de quatro horas”, lembra Petrucci Junior.

Luiz Antônio Sardinha, coordenador do Serviço de Procura de Órgãos e Tecidos (Spot), também elogia o gerenciamento do transporte aéreo, que viabiliza a captação de órgãos em qualquer ponto do Estado, mas observa que sem a doação não existe transplante. “A decisão é do doador. É fundamental que ele converse com a família a respeito, o que facilita muito o nosso serviço. Houve uma mudança de perfil dos doadores na área do Spot Campinas: o grande número ainda é de vítimas de lesões de causas externas, como acidente de trânsito, mas com o aumento de veículos em circulação e o uso do cinto de segurança e do airbag, vemos menos motoristas e mais motociclistas. Outro aspecto é a idade avançada, com muitos doadores vítimas de acidente vascular cerebral (AVC)”.

Uma necessidade importante, de acordo com Willian Cirilo, coordenador da Área Médica do HC, é de assegurar o cuidado de potenciais doadores para evitar a perda de órgãos. “A preservação do órgão está estreitamente vinculada ao cuidado do doador. No caso de um indivíduo que já tem diagnóstico de morte cerebral, há necessidade de continuar cuidando da sua nutrição e manipulação, manter as drogas vasoativas e, mais do que isso, haver maior agilidade na comunicação sobre esse potencial doador e no contato com a família para que possamos retirar o órgão em tempo hábil”.

Entre os órgãos que podem ser doados, o coração e o pulmão são os que possuem menor tempo de preservação extracorpórea: de 4 a 6 horas. Fígado e pâncreas vêm em seguida, com tempo máximo para transplante de 12 a 24 horas. Os rins podem permanecer em boas condições por até 48 horas, as córneas por sete dias e os ossos por cinco anos.

Sinal da Vitória

Renata Sibele Campos, 41 anos, tinha 39 quando foi surpreendida por um infarto violento que a deixou com apenas 16% do coração funcionando e uma hipertensão pulmonar por conta da embolia. “Até então não sabia  que tinha problema cardíaco. Depois do infarto, era dependente até para me vestir e me pentear, não conseguia cortar um bife, lavar uma louça”, relembra.

Moradora de Cafelândia (SP), Renata foi transferida às pressas para Bauru, onde passou 15 dias numa UTI. Na volta para casa, outra internação e uma série de exames para constatar que a única saída era o transplante cardíaco. “Agora vivo em Campinas, porque um dos requisitos para entrar na fila do transplante é morar na cidade. Fiquei sete meses em tratamento com o doutor Carlos [Lavagnoli, que acompanha os pacientes do HC do pré e pós-operatório]. Logo que cheguei, com a medicação, não precisei mais de
oxigênio.”

A paciente admite que levava uma vida sedentária, mas como não fumava nem bebia, acredita que se trata de herança genética, pois há casos de problemas cardíacos tanto na família do pai, como da mãe. “Contando o tratamento e a fila de espera, passou um ano. Quando me ligaram do hospital às quatro da tarde, avisando que tinham um coração, foi só alegria. Queria muito sobreviver. Acordei muito bem da cirurgia e agora levo uma vida normal. Tem restrições, como não carregar peso, mas posso fazer caminhadas e sair sozinha. A cicatriz é normal, é um sinal de vitória”.

Da Unicamp