Grupo teatral formado por presos é destaque na penitenciária de Serra Azul

Projeto Teatro Masculino é desenvolvido há três anos na penitenciária

sáb, 22/05/2010 - 19h00 | Do Portal do Governo

Para promover a ressocialização dos reeducandos que cumprem pena em unidades prisionais do Estado, a Secretaria da Administração Penitenciária desenvolve uma série de atividades em suas unidades. Na penitenciária I de Serra Azul, por exemplo, o grupo de teatro Confraria da Serra vem fazendo a diferença desde 2007. Trata-se de um elenco formado por presos, que se reúnem semanalmente para discutir temas, ensaiar textos e estudar os complexos elementos da arte cênica. O Projeto Teatro Masculino tem apoio da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), TV Unaerp e coordenação do professor e diretor das peças, Magno Bucci.

Neste mês, o grupo fez duas apresentações especiais dentro da penitenciária. Na plateia da primeira estavam funcionários, convidados e demais reeducandos. A segunda foi aberta aos familiares dos presos que compõem o elenco da peça. A história se desenrola em um hotel de luxo: o “Grande Hotel Torre de Babel”. 

O tema sugerido e desenvolvido pelo grupo conta as peripécias ocorridas no saguão de um hotel cinco estrelas, em dia de grande movimento. “Foi o momento de desfilar tipos patéticos, engraçados, oportunistas, encarnados em políticos, hóspedes comuns, profissionais liberais e toda sorte de personagens; todavia o “coração” da encenação, tema recorrente nas encenações do Confraria, foi mesmo o preconceito”, explica Bucci.

Para ele, o projeto teatral vai além das preocupações estéticas ou conceituais, ao valer-se de técnicas e exercícios cênicos como recurso auxiliar aos procedimentos de reintegração do apenado. “A manifestação teatral dos participantes do Confraria da Serra inscreve-se mais na expressão da arte-terapia, uma vez que um dos objetivos permanentemente perseguidos é o aumento da autoestima”, define.

A diretora do centro de reintegração social da penitenciária, Carolina Zanirato Buzoni, acredita que projetos desta natureza contribuem muito para o desenvolvimento humano. “Acompanhei tudo desde o início e pude observar a evolução de cada integrante. O empenho, a dedicação e o comprometimento foram a base para o desenvolvimento do trabalho do grupo, que trabalhou na elaboração do roteiro, escolha de figurino e confecção do cenário”, relata Buzoni. “Cada detalhe demonstra o envolvimento e a importância do projeto”, diz. 

Os 18 reeducandos que participam do projeto são unânimes em dizer que a experiência é incrível e emocionante, um crescimento pessoal muito grande. O preso Jadielson, que interpretou o papel de um político precisou ler vários artigos de revistas sobre política para subsidiar a interpretação. “Através do teatro ganhamos experiência, conhecimento e nos sentimos mais preparados para enfrentar diversas situações”, afirma. Matheus Henrique Leme, e refere o teatro como fonte de aprendizado. “Além da experiência e do amadurecimento, aprendemos também a lidar com as emoções, com o trabalho em equipe e acreditar que quando temos um sonho, independente do lugar que estamos, devemos buscar realiza-lo”, ensina. 

Os reeducandos – cantores e compositores – Laércio de Souza e Douglas Cassiano de Almeida são dois talentos que se destacam entre os integrantes do Confraria. Eles destacam a oportunidade de demonstrar seus talentos no teatro e vão mais além: agora o sonho da dupla é gravar um cd gospel.

O diretor da penitenciária, Reginaldo Neves de Araujo, ressalta a importância de ações culturais e educativas no âmbito da instituição, como instrumento de fortalecimento das condições emocionais e sociais do preso, além de propiciar à comunidade, a oportunidades de participação no processo de recuperação do indivíduo preso. “Importante destacar que a participação da família é peça importantíssima e fundamental no processo de cumprimento de pena do sentenciado”, destaca.

A peça

No desenvolvimento da trama, um delito foi apontado por um dos hóspedes. O proprietário do hotel – que se autoproclamava defensor dos bons costumes, da moral e exemplo a ser seguido – inquiriu todo o staff do hotel. Todos foram declarados suspeitos até provarem o contrário. E… claro! O culpado não apareceu porque não existia culpado! Tudo não passou de um mal entendido.

Entretanto, um dos funcionários do Grande Hotel, um ex-presidiário, teve sua condição revelada, fato que ele tinha omitido no ato de sua contratação, uma vez que, tanto na ficção como, principalmente, na realidade, esse é um dos maiores e mais graves problemas que o egresso do sistema carcerário enfrenta. Ao saber do passado do empregado, o empregador, justificando sua atitude e alicerçado nos seus “valores”, quase o demite quando o mistério se desvenda e a história acaba tomando outro rumo: o hóspede que havia apontado o “delito”, o sumiço de sua carteira com dinheiro e documentos, diz que cometeu um equívoco, ou seja, a carteira não havia sumido, ninguém pegou, ele mesmo tinha colocado em outro lugar e se esquecido.

Da Secretaria da Administração Penitenciária