Grupo quer divulgar versatilidade da castanha tipo portuguesa

Em São Paulo, já há experiências de sucesso com pomares comerciais no interior do Estado

sáb, 10/01/2009 - 13h50 | Do Portal do Governo

Amplamente consumida no período das festas de fim de ano, basicamente apenas sob cozimento, a castanha tipo portuguesa tem sua versatilidade desconhecida pelos mestres-cucas e donas-de-casa. Para reverter essa situação, um grupo vem se fortalecendo no interior paulista. Composto por produtores, comerciantes e pesquisadores, ele é capitaneado pelo Núcleo de Produção de Mudas de São Bento do Sapucaí, ligado à Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado (Cati/SAA).

Mas a preocupação não é somente gastronômica: aliás, ela é prioritariamente econômica, já que 98% do que é consumido na região Sudeste vem de outros países, embora haja variedades totalmente adaptadas ao solo e clima locais. Em São Paulo, já há experiências de sucesso, com pomares comerciais, em Arapeí, Campinas, Campos do Jordão, Cunha, Itupeva, Itapecerica da Serra, Mogi Mirim, Piedade, Pindamonhangaba, Santo Antônio do Pinhal, São Bento do Sapucaí, São José dos Campos e Taubaté.

A engenheira agrônoma do Núcleo de Produção de Mudas de São Bento do Sapucaí, Silvana Catarina Bueno, explica que a castanheira já começa a produzir, comercialmente, após seu terceiro ano, com auge por volta do sétimo. O custo para a manutenção do pomar é baixo em relação a outras fruteiras e é preciso pouca mão-de-obra, mais demandada apenas no período de colheita.

A procura tem sido crescente desde a década de 80, quando o núcleo começou a produzir mudas enxertadas de castanheiras híbridas, adaptadas às condições tropicais e subtropicais. A colheita se estende de novembro a maio. Originária do hemisfério norte e introduzida no Brasil pelos colonizadores e pelos imigrantes das penínsulas Ibérica e Itálica, além do Japão, onde é muito cultivada, a castanheira produz amêndoas de expressivo valor comercial. A madeira da árvore também pode ser utilizada na construção de moradias, galpões, móveis ou na produção de cogumelos do tipo shitake.

Segundo Silvana, desde o agricultor familiar até o grande pode se beneficiar. “Os ‘pequenos’ geralmente vendem para os mercados próximos, enquanto os maiores fornecem para redes de supermercados e Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo)“, diz.

“Tem muita gente que nem sabe que a castanha tipo portuguesa é produzida no Brasil. A grande vantagem é justamente suprir o mercado que hoje é atendido pelo produto importado. Outra, que se trata de um cultivo relativamente fácil – é uma planta rústica, que não enfrenta muitas pragas e doenças. A desvantagem está nos processos de colheita e pós-colheita, devido à perecibilidade: ela é rica em água, não em óleo, como as demais castanhas, o que a torna mais sujeita ao ataque de fungos. Daí a necessidade da boa condução, do controle fitossanitário, de se lavar, secar e, em alguns casos, frigorificar”, explica.

Silvana destaca que o produtor recebe dos técnicos orientação para implantar seu negócio, tendo também à disposição boletins informativos e treinamentos que ajudam a lidar com a cultura. Ela salienta, ainda, o apelo nutritivo que a castanha tipo portuguesa tem: além da água, é basicamente composta por amido e proteína. “Muito nutritiva, seu grande atrativo é ser livre de glúten. Então, para quem tem intolerância, pode-se por exemplo produzir uma farinha que substitui a de trigo”, revela.

Para o público em geral, falta saber como preparar. “Depois das festas, o consumo começa a diminuir. Vários pratos podem ser preparados, o ano todo. A próxima ação do nosso grupo é justamente fazer algo como um festival gastronômico, para mostrarmos todas essas possibilidades”, planeja.

Histórico

O “flerte” do núcleo com a castanha começou quando, há cerca de duas décadas, o engenheiro agrônomo Takanoli Tokunaga, então diretor da unidade, plantou e passou a estudar a cultura. Com as observações feitas e para atender à demanda, foi possível produzir mudas enxertadas, que passaram a ser vendidas para muitas regiões. A isso se seguiram outras pesquisas, publicações e dias de campo, culminando na formação de um grupo de interessados com o objetivo de discutir a produção, conservação, armazenamento, industrialização e comercialização do produto.

Marco recente foi o “4.º Simpósio Internacional sobre Castanhas”, realizado na China, país de maior produção e consumo mundial, onde foram apresentados trabalhos de pesquisadores participantes do grupo, que caminha para tornar-se uma entidade formal. Outros órgãos ligados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado deverão dar o apoio técnico necessário.

As mudas de castanha tipo portuguesa podem ser adquiridas no Núcleo de Produção de São Bento do Sapucaí por preços que variam de R$ 10 cada uma (até 49 mudas) a R$ 7 (acima de 200). Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 12 3971-1306 ou e-mail npmsb@cati.sp.gov.br. Algumas receitas podem ser conhecidas no site www.cati.sp.gov.br.

Da Secretaria de Agricultura e Abastecimento