Garota de 12 anos lê 256 livros em um ano

Tainá Alves dos Santos está na 6ª série da Escola Estadual Jardim Imperial, em Catanduva

qua, 19/11/2008 - 9h06 | Do Portal do Governo

A vontade de ler nasceu com as primeiras fábulas: Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio, Branca de Neve e tantas outras. Tainá Alves dos Santos conhecia os enredos. A graça, agora, foi decifrar as letras escritas e reviver as aventuras. Do mundo mágico de fadas, bruxas e princesas, enveredou por histórias de seu universo. Aos poucos, a leitura entrou na vida da garota. Enfeitiçada pelo mundo dos livros, passou a ler o que estivesse ao alcance das suas mãos. Seleciona a obra pelo título e resumo. Se lhe agrada, seus olhos vão da primeira à última linha. Nenhuma fica abandonada pelo caminho. Tendo tempo livre, está com um livro nas mãos. “E assim vou lendo, lendo, lendo e nem vejo o tempo passar”, diz Tainá, sem saber precisar o momento em que se tornou cativa.

Somente este ano, leu 256 livros. O mais recente é a Marca de uma lágrima, de Pedro Bandeira. Dá a impressão de que ficou surpresa com ela própria e nem imaginava que fosse capaz de ler tanto, comenta Maria Helena Andrade, sua professora de Português da Escola Estadual Jardim Imperial de Catanduva, onde cursa a 6ª série. 

Chaveirinho – Como estuda à tarde, lê pela manhã depois de ajudar a mãe (que trabalha numa fábrica de plásticos) nos afazeres domésticos. Para isso, acorda bem cedinho, quando o pai sai para o trabalho de limpeza de piscinas. Na volta da escola, primeiro faz as “lições” e depois a leitura, recomendação dos pais que a incentivam. Por prestar atenção às aulas e fazer anotações, “não preciso estudar tanto”, afirma Tainá, que tem apenas 12 anos de idade.

No intervalo entre as aulas não é raro vê-la no pátio, sentada, com um livro sobre as pernas ou na biblioteca – que dispõe de acervo de três mil exemplares, conta a diretora do colégio, Veranice Aparecida More Zuri.  Fala com desenvoltura dos autores de suas publicações prediletas: Anna Flora, Ana Maria Machado, Monteiro Lobato, Ruth Rocha. Por ser a menor da classe, seus colegas a apelidaram de chaveirinho, revela Maria Helena. “É boa aluna e todos gostam muito dela. É uma menina carismática, conversa com todos e não briga com ninguém. Ela encanta os colegas com o seu jeitinho”. Por isso, o comportamento deles em relação à garota não mudou depois que ficou conhecida pela façanha, garante a professora. Tainá diz perceber que as pessoas olham para ela na escola e na rua, mas se sente bem pelo reconhecimento.

Sua relação com os livros começou com a iniciativa de incentivo à leitura (Projeto Centopéia), criado pela Diretoria de Ensino de Catanduva, da Secretaria Estadual de Educação. Antes, lia pouco. “No ano passado, li apenas 12 exemplares”. Quando era pequena, na creche, gostava mesmo era “de brincar o tempo todo”. A diretora explica que a missão do programa era fazer o aluno ler pelo menos dez livros, desde o início até o fim do ano letivo. “Ficamos surpresos com o resultado, principalmente com a Tainá”. A cada leitura, o aluno faz um resumo, entrega para o professor e recebe uma bolinha de papel representando uma parte do corpo de uma centopéia. Tainá foi uma das primeiras a pegar livros para ler, lembra a professora de Português.

Hoje, sua centopéia (com 256 patas) dá voltas e ocupa parte da sala dos professores. Para atestar a leitura, o estudante entrega resumo da história, citando personagens centrais, característica do livro (romance, suspense, aventura) e local do enredo. Tainá tem dois cadernos repletos de resumos dos livros lidos. Quando fica em dúvida sobre um título ou nome de autor, recorre a eles. Quanto aos personagens e enredo, garante lembrar com clareza. “Eles ficam na memória”.

No resumo de O mistério da fábrica de livros, de Pedro Bandeira, classifica o livro como aventura, mistério e amor e escreve que a história se passa no bosque e na fábrica de papel.

Assim a garota começa o resumo: “O Adriano e a Laura eram namorados, e um dia Adriano gravou o nome dos dois numa árvore. No outro dia, Laura vê Adriano com outra menina, ela foi correndo até a árvore onde estava escrito seus nomes, mas ao chegar lá a árvore estava cortada”.

O resumo de O gato da xícara de chá, de Anna Flora, inicia dessa forma: “Uma menina que gosta muito de ir à casa da sua avó. Lá existem muitas coisas chinesas e antigas. Tem uma xícara de chá que ela gosta muito porque tem um gato no fundo. Um dia ela dorme na casa da avó e sonha com o gato da xícara. Que ele entrou no quarto e a levou para o Japão”.

Tempo de brincar – Tainá conta que resume o livro assim que termina a leitura e depois reescreve no caderno. Diz que os primeiros foram mais difíceis, mas agora “ficou fácil escrever”. O livro de Ana Flora é um de seus preferidos. Gostou muito também de o Mano descobre o amor, de Gilberto Dimenstein. Mesmo quando a leitura não está agradando, “continuo a ler porque fico curiosa para saber o final. Gosto de aventura, suspense, poesia, romance”. A garota também recomenda leituras aos colegas, faz comentários e fala por que o “livro é legal”, conta a professora Maria Helena. “A conversa e a relação entre os que se tornaram leitores são diferentes”.

Dos 35 alunos da classe da menina, dez se tornaram leitores, afirma a professora. Os outros leram mais de 12 livros, mas ainda não “tomaram gosto pela leitura”. Tainá leu também contos e poemas dos autores Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Olavo Bilac, ressalta a professora. “Faço recomendações, mas sem interferir muito nas escolhas para não desestimular”. Não há muitos livros em sua casa, mas todos lêem um pouco (revista, jornal), diz Tainá.

Mesmo com tantas leituras no currículo da pequena Tainá, ainda sobra tempo para brincar de pega-pega com seu irmão de oito anos, jogar vôlei com as colegas, assistir à novela (com a família) e desenhos animados. Sua irmã mais velha (20), parou de estudar para trabalhar. Tainá diz que continuará a ler e até pensa em ser atriz (trabalhar em novela) e escrever um livro. “Contaria a história de uma menina que lê bastante e tem pouco tempo para brincar. Ia falar das amizades, da comunicação com as pessoas e inventaria outras coisas também”.

Claudeci Martins

Da Agência Imprensa Oficial