Fundação Casa aposta em arte e cultura para reinserção social

Desde os primeiros dias de internação, adolescentes têm contato com a cultura por meio de oficinas de arte

ter, 29/09/2009 - 12h46 | Do Portal do Governo

Mais do que oferecer instrumentos de reinserção social e conteúdo educacional, a Fundação Casa, por meio da gerência de arte e cultura, proporciona aos jovens em cumprimento de medida socioeducativa contato com extenso conteúdo cultural e artístico. Desde os primeiros dias de internação, os adolescentes têm acesso a oficinas em diferentes linguagens artísticas – teatro, dança, circo, literatura, artes plásticas, fotografia, hip-hop, vídeo, rádio, histórias em quadrinhos, entre outras. Eles não apenas aprendem as técnicas de produção como também a identificar, comparar e contemplar várias manifestações de arte.

O gerente de arte e cultura da Fundação, Guilherme Astolfi Nico, explica que a principal preocupação é, além de permitir o acesso à arte e à cultura, mostrar aos jovens as inúmeras possibilidades de emprego nesse meio. “Não pretendemos nos tornar um celeiro de artistas, mas despertar esses garotos para um mundo que não conhecem e as opções de um universo rico e diferente do mundo do crime, com o qual estavam familiarizados”. Os resultados das oficinas culturais são frequentemente reunidos em exposições abertas ao público, o que serve de estímulo aos meninos. A gerência de arte e cultura é uma das quatro ligadas à superintendência pedagógica da Fundação Casa, que conta ainda com as gerências pedagógica, de esportes e de educação profissional.

Resultados imediatos

Astolfi destaca a rapidez com que as atividades artísticas e culturais são assimiladas pelos jovens e afirma ser recorrente o interesse deles pelos “bastidores” da arte. Cita que em atividades externas, nas quais os adolescentes são levados a teatros e museus, muitos pedem para conhecer o trabalho de iluminadores e contrarregras, por exemplo. “Certa vez, numa das visitas à Sala São Paulo, por meio do programa educacional da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), um garoto perguntou ao maestro se era possível ‘viver de música’. Em outra ocasião, durante uma passagem pelo Museu da Língua Portuguesa, um dos rapazes quis saber se podia levar a família ao local quando estiver em liberdade”.

Amigos da Casa

Para oferecer conteúdo diversificado e de qualidade em arte e cultura aos internos, a Fundação criou, em 2008, o projeto Amigos da Casa, uma parceria com instituições públicas e privadas, como Museu da Língua Portuguesa, Osesp, Projeto Guri, Fundação Bachiana, Memorial da América Latina, Museu do Ipiranga, MAM, Pinacoteca, Itaú Cultural, entre outros. Com 57 polos em unidades em todo o Estado e mais de mil atendimentos anuais, o Guri é o parceiro mais atuante, desenvolvendo até oito oficinas em algumas unidades.

Na capital, o maestro João Carlos Martins, por meio da Fundação Bachiana, é outro parceiro para a área musical. Ele visita, em média, quatro unidades por semestre. Apresenta vídeos aos jovens, ministra palestra na qual explica como conseguiu superar com inteligência e criatividade algumas adversidades surgidas no decorrer de sua vida e em seguida faz uma apresentação musical.

Lições em cima do palco

A mostra de teatro da Fundação Casa é um dos eventos que mais empolgam os adolescentes. Todos os anos, 20 peças são selecionadas no Estado e encenadas pelos internos em diversos teatros da capital e interior.

No dia da apresentação no Teatro Municipal de Mauá, no mês de agosto, A. S. C., de 18 anos, interno há seis meses na UI Nogueira, confessava-se ansioso e satisfeito em mostrar seu trabalho, já que nunca havia entrado em um teatro. Sobre o seu papel na peça O Saco do Noivo, diz: “Meu personagem é um coronel pinguço que só quer se dar bem. A moral da história é que fazer coisa errada não vale a pena. Querendo ou não, uma hora o destino faz você entender isso”.

C. S. T., 16 anos, há quatro meses na mesma unidade, diz que os primeiros dias de internação foram muito difíceis, mas que na hora da apresentação estava calmo e pronto para “enfrentar” a plateia. A experiência com o teatro despertou em J. L., da UI Nova Aroeira, outro interesse: a leitura. Motivado pelo papel de Gandhi que interpreta na peça Paz – Um Problema Nosso, o garoto de 17 anos decidiu ler a biografia do líder pacifista. “Estou com o livro lá na unidade e todos os dias leio um pouquinho. A vida dele nos ensina muitas lições”, afirma.

Apropriar-se da linguagem teatral para tentar resgatar nos adolescentes valores perdidos é a prática utilizada pelo ator Célio de Souza, diretor pedagógico da UI Nogueira. “O resultado é muito bom, porque os ajuda a se colocar na posição da vítima e constatar que não existe só o lado deles”, explica.

Para Astolfi, as dificuldades encontradas para levar os jovens aos espaços das apresentações são compensadas pela satisfação em proporcionar-lhes a possibilidade de mostrar seus trabalhos para o público externo. “Usamos a criatividade e um pouco de ousadia. Muitas vezes ficamos uma noite sem dormir para levar esses jovens, peneirados pelo mundo do crime, aos locais públicos. Temos de sensibilizar as pessoas de que a realidade é essa mesma: tentamos dar oportunidades para seres humanos que cometeram erros”.

Da Agência Imprensa Oficial