Fumaça de cigarro pode alterar esmalte dos dentes

Ela também modifica as propriedades da resina composta, material utilizado em restaurações dentárias

qua, 20/02/2008 - 11h17 | Do Portal do Governo

Defendida na Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), câmpus de Araraquara, a tese de doutorado “Efeito da fumaça de cigarro nas propriedades de resinas compostas e substratos dentais” traz mais informações sobre os danos do cigarro para a saúde humana. A pesquisa comprova que, além de causar manchas amarelas, a fumaça pode alterar a estrutura do esmalte e da dentina, camada abaixo do esmalte. Ela também modifica as propriedades da resina composta, material utilizado em restaurações dentárias.

De autoria da odontóloga Cristina Yoshie Garcia Takeuchi, o estudo foi orientado pelos professores Welingtom Dinelli, da Unesp de Araraquara, e co-orientado por Regina Guenka Palma-Dibb, da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, câmpus de Ribeirão Preto. O trabalho foi realizado em duas etapas. Na primeira, Cristina Takeuchi utilizou amostras de dentes bovinos, que foram expostas à fumaça de dez cigarros diários, durante oito dias, fixados a uma máquina de fumar – um equipamento que simula a ingestão do cigarro.

Na fase de análise das próteses e dos dentes bovinos, foi detectado que a fumaça do cigarro é capaz de alterar propriedades ópticas ou a cor do dente, e mecânicas, como a perda dos minerais e conseqüente enfraquecimento do esmalte. “Provavelmente as mudanças térmicas provocadas pela fumaça de cigarro foram as responsáveis pela alteração das estruturas, pois se sabe que o calor é capaz de modificar a forma de algumas substâncias que constituem o esmalte dental”, explicou a autora.

Risco de câncer – Ainda na primeira fase foram detectados, na estrutura dentária, a presença de cádmio (Cd), arsênio (As) e chumbo (Pb), elementos químicos que oferecem risco de câncer. Segundo Cristina, essa constatação confirma resultados obtidos por pesquisadores poloneses, em 2004, sobre a presença de chumbo e cádmio em dentes de leite de crianças que conviviam com fumantes. Cristina chama atenção para o fato de que o cádmio não é encontrado naturalmente no organismo humano e qualquer concentração pode ser prejudicial à saúde, funcionando como agente cancerígeno, além de danificar o sistema reprodutivo. Em relação ao chumbo, os efeitos tóxicos podem surgir ao longo do tempo, na forma de distúrbios neurológicos, como dores de cabeça, convulsões, delírios e tremores musculares, assim como distúrbios gastrointestinais e renais. Já o arsênio, se ingerido em grande quantidade, pode causar lesões na pele e até o envenenamento.

Na segunda fase, desenvolvida em clínica da USP de Ribeirão Preto, por meio de questionário e exames, a autora selecionou 24 voluntários fumantes, com idade acima de 21 anos e dentes e gengivas saudáveis. Após serem submetidos a uma limpeza completa dos dentes e da boca, os voluntários receberam instruções de higiene bucal e de como proceder durante o período do estudo. Por 28 dias eles utilizaram uma prótese dentária feita com a resina composta usada no estudo. A prótese somente deveria ser retirada para alimentação e escovação dental. Nesse intervalo de tempo, eles deveriam fumar dez cigarros por dia, da mesma marca comercial utilizada na primeira parte da pesquisa.

Da Unesp

(M.C.)