Físico cria índice para definir líderes científicos

Fator de Impacto Normalizado (NIF - Normalized Impact Factor) avalia o grau de impacto efetivo em grupos distintos

sex, 26/12/2008 - 15h00 | Do Portal do Governo

Desenvolvido para medir a força de comunidades científicas e detectar a influência de seus líderes, o Fator de Impacto Normalizado (NIF – Normalized Impact Factor), índice criado pelo professor George Matsas, do Instituto de Física Teórica, foi apresentado à comunidade científica por meio do artigo “What are scientific leaders? The introduction of a normalized impact factor”, que está disponível na rede de serviços arXiv.org, um portal com pre-prints (pré-publicações) de diversos campos da física, matemática, ciências não lineares, ciência da computação e biologia quantitativa.

Para realizar esse trabalho, o físico examinou, no ISI Web of Science – importante banco de dados científicos –, os trabalhos de 223 pesquisadores tomados a partir de uma lista de 531 indivíduos reconhecidos em 2008 como Outstanding Referees pela Sociedade Americana de Física (APS).

O docente definiu então o Fator de Impacto Normalizado (NIF – Normalized Impact Factor) para avaliar o grau de impacto efetivo de comunidades científicas distintas e encontrar os líderes dentro desses grupos. “Pesquisadores de certas áreas da física, por exemplo, podem publicar mais e serem mais citados do que muitos matemáticos. Isso obviamente não quer dizer que a comunidade de matemática não tenha seus lideres, ou que os físicos sejam em média mais competentes do que seus outros colegas”, explica Matsas.

O NIF reflete o impacto do pesquisador em sua comunidade científica ponderado por quanto este pesquisador é impactado por essa mesma comunidade. Tecnicidades à parte, o impacto do pesquisador é estimado pelas citações que ele recebe, enquanto que o tanto que o pesquisador é impactado por sua comunidade é calculado a partir das referências por ele listadas em seus artigos. O NIF foi construído para que numa comunidade fechada de indivíduos idênticos dê valor unitário para todos os pesquisadores. Assim, os líderes seriam os que tivessem NIF superior a 1, pois eles seriam os que impactariam a comunidade mais do que seriam impactados por ela.

Ao final do trabalho concluiu-se que dos 223 pesquisadores analisados, apenas 31% dos pesquisadores seriam líderes e o restante, 69%, seriam seguidores. “Seria muito interessante se repetir esse estudo para os pesquisadores do CNPq com bolsa de produtividade para se comparar a situação da ciência nacional em relação ao cenário internacional”, sugere Matsas.

O trabalho é considerado muito bom por Rogério Meneghini, especialista em cientometria e diretor científico da SciELO (Scientific Electronic Library Online), biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros. “A pesquisa é inovadora, está bem escrita e possui potencial para ser utilizada. Estou de acordo que, da forma apresentada, o índice NIF em geral significa uma melhoria em relação ao índice h”, disse.

Criado pelo físico norte-americano Jorge E. Hirsch, em 2005, com a proposta de quantificar a produtividade e o impacto de cientistas baseando-se nos seus artigos mais citados, o índice h é constituído pelo númro de artigos com citações maiores ou iguais a esse número, ou seja, um pesquisador com h = 5 possui 5 artigos que receberam 5 ou mais citações, e outro com h = 15 tem 15 artigos com 15 ou mais citações.

Porém, apesar de ainda que provar seu valor e suplantar outras métricas tradicionais, como a enumeração do númro de citações, impacto das revistas onde se publica, entre outros, o índice h ganha mais adeptos.

Segundo o presidente da Comissão Permanente de Avaliação (CPA) da Unesp, Adriano Antonio Natale, o indicador criado pelo professor Matsas, apesar de não medir a relevância do trabalho, é muito melhor que o índice h, pois elimina autocitações em artigos publicados. “Acredito que a proposta do NIF, que é identificar líderes em comunidades, está de acordo com o trabalho. Porém, devido ao dinamismo dos temas científicos, é muito difícil afirmar que esses líderes serão perenes, isto é, o pesquisador pode ser líder de uma área que no futuro se mostrará inócua”.

Danilo Koga, da Unesp

(C.C.)